São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003
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ARTES CÊNICAS Solos do Brasil, projeto dirigido pela criadora do teatro essencial, mostra resultado de nove meses de pesquisa Discípulos de Stoklos encenam 15 criações
DA REDAÇÃO Denise Stoklos ("Vozes Dissonantes", "Desobediência Civil") não está só. Após nove meses de trabalho, os 15 selecionados para o projeto Solos do Brasil apresentam no Centro Cultural São Paulo suas 15 criações calcadas nos fundamentos do teatro essencial criado e advogado pela performer, autora e diretora paranaense. Divididos em quatro programas que contêm de três a cinco trabalhos distintos por sessão, os solos serão encenados em sistema de revezamento. Hoje, três paulistas mostram suas produções: Silvana Abreu ("Microrevolução de um Ser Gritante", inspirada em Clarice Lispector), Miguel Rocha ("Eu Quero Ver o Sol Nascer Não do Jeito que Vejo", questionamento do racismo e da violência) e Tiche Vianna ("Instrangeira", uma mulher busca sobreviver numa trincheira de guerra). Não se trata da estréia de Stoklos como orientadora de interessados nos meandros de seu método. A própria iniciativa da vez teve origem na idéia de expansão das realizações de uma oficina de uma semana, levada em 99 no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Em 2000, a artista lecionou a sua técnica a mestrandos e doutorandos da Universidade de Nova York. No princípio de 2002, cerca de 2.000 candidatos se inscreveram no processo de seleção de Solos do Brasil. Depois de uma primeira triagem, em março, aproximadamente 600 pessoas disputaram as 15 vagas, em operação que se prolongou por sete horas, com apresentação pessoal de cada um. "Foi difícil escolher, qualquer interessado era um participante possível. Tentamos não privilegiar classe social, grau de experiência ou lugar de origem, mas sim selecionar quem parecesse mais interessado. Acho que formamos um grupo bastante representativo, há gente do Pará, de Santa Catarina, da classe alta, da favela", diz a atriz e diretora. As aulas diárias foram ministradas no Sesc Ipiranga e numa casa alugada nas suas proximidades, que serviu também de moradia aos oriundos de outras cidades. Além das explanações de Denise Stoklos, foram recrutados oito professores-assistentes. Entre eles estavam Antônio Abujamra, Gianni Ratto (direção) e Hugo Rodas (dança). Com os dois últimos, trabalhou em "Selvagem como o Vento", em que dirigiu Carolina Ferraz. Nos seus encontros, a criadora de "Des-Medéia" tentou transmitir aos aprendizes a idéia de seu teatro essencial, em que, afora a atuação, o performer faz as vezes de diretor, dramaturgo e coreógrafo da própria cena. "Este não é o melhor espetáculo da Terra, do Brasil, de São Paulo, não é nem o melhor espetáculo do bairro. Mas tem alguma coisa de esquisito, no bom sentido. Cada um está muito colado ao que está fazendo. Há algo de centrífugo no ator, que nunca vi antes." Não há planos, por ora, de uma próxima edição do projeto Solos do Brasil. Além das viagens e empreitadas próprias (a montagem, programada para maio, de um trabalho a partir do livro "Reflexões sobre a Vaidade dos Homens", de 1752, do filósofo Matias Aires), Stoklos aguarda os resultados alcançados pela turma. "No momento há a autocrítica, enxergamos aquilo que faltou. Quero um tempo para ver de longe, numa observação mais distanciada." A Petroquisa investiu cerca de R$ 1 milhão na iniciativa. Cada participante recebe uma remuneração de R$ 1.500 mensais, do início do processo, em abril de 2002, até o final da temporada no CCSP, em março deste ano. (PEDRO IVO DUBRA) SOLOS DO BRASIL. Elaboração e desenvolvimento: Denise Stoklos, Egla Monteiro e Silvana Abreu. Coordenação artística e direção geral: Denise Stoklos. Criação e interpretação: 15 atores do projeto Solos do Brasil. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, SP, tel. 0/xx/11/3277-3611). Quando: estréia hoje, às 21h; de ter. a sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 2/3. Quanto: de R$ 6 a R$ 12. 90 min. Mais informações pelo site www.denisestoklos.com.br/solosdobrasil. Patrocínio: Petroquisa. Texto Anterior: E-musas: Avril antes, Christina depois Próximo Texto: Dança: Quasar comemora 15 anos com turnê Índice |
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