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CRÍTICA
"Casa" se perde entre épico e nervos femininos
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Quase todo épico, noves fora Francis F. Coppola e o
horror da selva, fica meio chato
no mundo audiovisual. Roupa
demais, batalha demais, sangue
demais, imitações de Shakespeare, machos demais, fêmeas de menos. Será que o gênero nasceu para ser copyright, domínio exclusivo de Homero? Acho que sim.
"A Casa das Sete Mulheres", nova série da Globo, começa bem
pela contabilidade das saias. Ora,
o desequilíbrio de pares assassina,
a espadadas, o drama, o conflito, a
imitação mínima da vida na TV.
Com sete, o número da história
da infâmia e da mentira (e tantas
outras auxiliares...), pode até ser
que o drama se multiplique.
E Jayme Monjardim (diretor)
que não se livra de "Pantanal"
[novela da extinta Manchete" que
conduziu. Limpa nossas vistas
com paisagens que mais parecem
aqueles quadros da Praça da República. ("Mas é lindo!", aquiesce
minha mãe, ao telefone, no momento em que vejo a TV). O diretor deve ter acertado. Minha mãe
não é Walter Benjamin, mas nunca errou na tal narrativa de afetividade popular.
O pano de fundo é a brava Revolução Farroupilha (1835-1845).
Um bando de gaúchos decentes,
machos e honestos enfrentaram a
guarda imperial, sedenta por tributos. A taxa sobre o charque, a
carne-seca, foi o estopim. Aliás, a
mais linda paisagem de Monjardim é aquela das mantas de charque, água na boca, deliciosa metonímia fiscal da guerra de todos os
farrapos.
As mulheres põem as ansiedades em uma guerrilha de nervos,
mas carecem de premonições para sustentar a trama. A atirada
ruivinha (Rosário, por Mariana
Ximenes) esquece o épico e a filiação herdeira de Bento Gonçalves
-e se joga nos braços do primeiro mancebo que aparece. Das meninas, a melhor no primeiro capítulo é a narradora Manuela (Camila Morgado), a quem o destino
reserva o herói Garibaldi.
Na inauguração, o diário da
narradora e as premonições (ah, o
futuro) salvaram a narrativa. Sem
carecer das paisagens amaciantes
e da musiquinha chata, sem
tuiuiús pantaneiros, que seguem
os heróis. Se gastaram muita grana com cenas de batalhas, problema da pretensão global. O drama
das mulheres já seria superior a
qualquer sangue. Bastava o já citado diário, e as tintas de uma espera à Tchecov, o escritor russo
que mais entende disso, para dizer tudo.
A Casa das Sete Mulheres
Quando: de ter. a sex., na Globo (o
horário varia entre 22h35 e 23h05).
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