São Paulo, domingo, 09 de janeiro de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Caixa de costura

É como se eles tivessem passado por um vestibular: concorrendo com 12 candidatos, que disputavam as seis vagas para estilistas estreantes na SP Fashion Week, Fábia Bercsek, Erika Ikezili, Samuel Cirnansk, Gisele Nasser, Dudu Bertholini e Lourdinha Noyama chegaram lá. De 19 a 25 de janeiro, apresentam suas criações na principal semana de moda do país. Eles foram avaliado por veteranos no evento e por jornalistas especializados.
 
Na SPFW, vão ser vistos por 15 mil pessoas, entre celebridades, compradores dos maiores magazines do mundo e jornalistas das "Vogue" francesa e italiana, da BBC de Londres e de publicações asiáticas. A coluna traçou o perfil de cinco deles.

FÁBIA BERCSEK

Ana Ottoni/Folha Imagem


Ainda criança, a paulistana Fábia Bercsek, 26, gostava de desenhar roupinhas em folhas de papel. Adolescente, fez curso de desenho numa escola do Brás e, na seqüência, estudou moda na Faculdade Santa Marcelina.
 
Logo conseguiu estágio com um ídolo: o estilista Alexandre Herchcovitch. Começou a mostrar suas criações -um guarda-roupa jovem em que uma jaqueta de couro pode fazer par com um vestido chiffon rosa-antigo -em desfiles alternativos. Em 2004 abriu o próprio ateliê, na rua Augusta. "A família deu uma força. Tivemos de vender um carro", diz ela, calculando o capital inicial em R$ 15 mil. Fábia já vende numa butique do Soho, em NY, e em Tóquio. "Aceitei entrar no SPFW porque quero dar um salto comercial", diz.

GISELE NASSER

Ela tem sobrenome chique e uma clientela que transita pelo universo de estilistas como Adriana Barra e Isabela Capeto. "Estamos no mesmo movimento, uma coisa meio "new romantic'", diz Gisele Nasser, 27. "O forte da Adriana é a estampa, o da Isabela é o bordado e o meu é a modelagem." Gisele aprendeu muito com a avó, a alemã Edith Buch, costureira no interior do Paraná, com que foi morar aos 15 anos. "Com ela tomei gosto pelas agulhas, enrolando minhas bonecas com restos de tecidos." Logo cedo criou enxovais e lingeries para as clientes de "dona Edith". Na volta para SP, entrou numa faculdade de moda e estagiou com o estilista Icarius e na Ellus . Participou de desfiles e, com o salário da Ellus, montou o primeiro ateliê, na sala da casa da mãe.
 
Teve problemas nos negócios e foi trabalhar com Adriana Barra. Juntou dinheiro e, em 2003, decidiu reabrir o próprio negócio, numa vila na Oscar Freire. Gisele vende também na Daslu e em oito cidades do Brasil. "Faço roupas que eu gostaria de vestir ou de ver na (atriz) Sarah Jessica Parker."

DUDU BERTHOLINI

A noite paulistana conhece bem Dudu Bertholini, 25: magro, alto (1m92), cabelos compridos, ele sempre foi figura fácil nas boates descoladas da cidade. "Hoje não tenho mais tanto tempo", diz. Dudu é estilista e sócio da Neon, marca que estréia na SPFW.
 
Seu apartamento de 200 m2, em Higienópolis, funciona como casa, ateliê e passarela. "Meu primeiro desfile foi aqui na sala." Ele estudou na Santa Marcelina, foi stylist e há dois anos bancou sozinho o começo de sua empresa -hoje tem dois sócios. Dudu define seu trabalho como "otimista, divertido e, ao contrário do que dizem, tem pouco de anos 80. Minha mulher é aquela que freqüenta resort de luxo."

ERIKA IKEZILI

A evangélica Erika Ikezili, 28, gosta de escola de samba, não freqüenta festas descoladas, não mora em bairro nobre e não se limita a desenhar os modelitos: ela sabe cortar, modelar e costurar tudo o que cria. Erika mora no bairro do Limão. "Convivi com portugueses e era com eles que ia aos sambões", diz. "Só fui conhecer japoneses quando namorei e casei, há nove anos, com um sansei. Daí eu vi que japonês é tudo igual", brinca ela, cujo trabalho se caracteriza pelo jogo de cores e listras.
 
Como a amiga Fábia Bercsek, a estilista estudou na Santa Marcelina e fez estágio com Herchcovitch. Abriu loja na Galeria Ouro Fino, mas logo migrou para o shopping Eldorado -investimento que a obrigou a vender dois carros e raspar a poupança. "Modernos entendem de moda, mas não têm poder aquisitivo. Freqüentadores de shopping não entendem nada de moda, mas têm dinheiro."

LOURDINHA NOYAMA

Aos 62 anos, e já consagrada no Nordeste, onde fazia 30 vestidos de noivas por mês, a pernambucana Lourdinha Noyama estréia na SPFW com uma bagagem de 46 anos de trabalho. "Não tenho medo de competição com os mais jovens", diz ela. Há três anos, Lourdinha decidiu se mudar do Recife para SP.
Foi morar num dúplex emprestado por Pelé -a mulher dele, Assíria, é cliente dela.
 
Em pouco tempo conseguiu um sócio capitalista, Fábio Iwai, e abriu um showroom no Jardim América. Se tem saudades do Recife? "Posso ser sincera? De nada."
Ela e o sócio estão investindo R$ 200 mil no desfile. Lourdinha, especializada em roupas de noite, criou 45 looks em um mês. O tema será o Brasil Holandês, com pinturas de época nas estampa e materiais como casca de coco e prata. O desfile vai ter muito peito de fora. "Ou não seria meu!", diz Lourdinha.


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