MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires

Há 50 anos era publicada uma das obras fundamentais da moderna literatura argentina, "O Túnel" (1948), romance de estréia de Ernesto Sábato -que àquela altura havia decidido abandonar a física para se dedicar à ficção.
Logo na primeira página, o narrador declarava: "A frase "todo o tempo passado foi melhor' não indica que antes sucederam coisas menos ruins, mas apenas que -felizmente- as esquecemos". Contudo, para não esquecer o tempo passado, Sábato lança agora na Argentina "Antes do Fim", uma mescla de reflexões, memórias e testamento literário. O livro, mais que o relato nostálgico de experiências privadas, se coloca como uma espécie de resumo dos horrores do século 20.
Mas a postura do memorialista está longe da atitude distanciada de um cético. O tom de "advertência" contra a cegueira geral lembra bem mais os grandes moralistas do século 18. Um dos momentos altos do livro trata do abandono da ciência no início dos anos 40, tema recorrente em Sábato.
Depois de ter participado dos principais centros de pesquisa em física nuclear -como o laboratório Joliot-Curie em Paris e o MIT (Massachusetts Institute of Technology)-, Sábato resolveu deixar as certezas científicas pelo "deserto escuro e solitário" da literatura.
Não por acaso, naqueles mesmos anos a física nuclear se preparava para dar ao mundo os seus resultados mais "consistentes": a bomba atômica. E é difícil não se lembrar disso quando se lê Ernesto Sábato.
˛

Livro: Antes do Fim
Autor: Ernesto Sábato
Lançamento: Seix Barral (tel. 00-541-381-9692)
Quanto: US$ 15 (224 págs.)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice