São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2005

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ARTES

Edição 2005 da Arco, em Madri, terá México como país convidado e obras de brasileiros como Leonilson e Beatriz Milhazes

Feira espanhola destaca o cotidiano latino-americano

DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

Reconhecida no futebol, na música e na moda, a cultura brasileira, que há anos faz sucesso na Espanha, contará esta semana com outros emissários de sua criatividade no país ibérico. Começa nesta quinta-feira a 24ª edição da feira internacional de arte contemporânea Arco, realizada anualmente em Madri e que desta vez deverá ser visitada por mais de 200 mil pessoas.
Durante cinco dias, criações de Egidio Rocci, Rubens Mano, Beatriz Milhazes, Leonilson e Marina Saleme, entre outros, serão exibidas no evento, um dos mais respeitados do gênero, que se destaca por atender não só aos interesses comerciais do mercado de arte, mas também ao propósito de promover novas propostas artísticas. Depois de suas similares promovidas na Flórida, nos Estados Unidos, é a feira que dá mais abertura à produção latino-americana no mundo.
A maioria dos autores nacionais foi selecionada por cinco galerias paulistanas e uma radicada em Paris, de propriedade de uma brasileira (ver quadro). Fazem parte de um total de 292 espaços que lidam com arte contemporânea em 36 países e que participam este ano da Arco. A parcela latino-americana neste universo se encontra especialmente reforçada. São 37 galerias, 11 a mais que em 2004, um aumento que se deve à presença de 20 casas com atividades no México, país eleito como convidado da atual edição.
A opção pelo México corresponde à evolução da receptividade aos artistas da América Latina nos países desenvolvidos. "Nos anos 80, pensavam que nossa arte era cópia da européia. Mas, na década seguinte, surgiu o mercado latino-americano de arte, com a criação da feira Art Miami, seguida por exposições e publicações de livros", recorda a galerista brasileira Marci Gaymu, 53, que trabalha em Paris desde os anos 80.
Sua galeria, que conta com espaços na capital francesa e em Madri, participa pela quarta vez da feira madrilena, este ano em colaboração com a paulistana Berenice Arvani. Os artistas que trazem à Arco são Vera Goulart, Egidio Rocci, PX Silveira, Marcio Almeida e Flavio Emanuel. Todos eles farão parte da seção inédita Arco Latino, com curadoria a cargo de Antonio Zaya, 50. "Sua assinatura é sinal de prestígio, já que ele é um dos mais importantes conhecedores da arte latino-americana", comenta Marci. Além do Brasil, estarão representados neste setor Chile, Cuba, México, República Dominicana e Porto Rico.
As obras que serão mostradas por essas duas galerias têm em comum a temática social e a poética do cotidiano transformado em arte. "Senti uma ligação incrível com os outros artistas porque tanto eles quanto eu apresentamos protestos sociais", afirma Vera Goulart, 50, carioca que vive e produz entre o Rio e a Suíça desde os anos 80.
Vera Goulart comparece com a instalação "Sonhos de uma Menina", baseada na história real de uma criança que era torturada pelo próprio pai, ocorrida em Pernambuco nos anos 40. Os recifenses Marcio Almeida e Flavio Emanuel, do grupo Carga e Descarga, assinam o vídeo "Sacrossantus Eroticus", ficção polêmica que mistura prostituição com religião, filmada no bairro de Recife Antigo, antes de sua revitalização.
Do goiano PX Silveira, o público poderá conhecer o vídeo "Amianto I Lobby You", obra contra o uso no Brasil desse mineral cancerígeno, que já está proibido em diversos países. O paulistano Egidio Rocci estará presente com suas estranhas peças de mobiliário: cadeiras e mesas recortadas e remontadas, algumas vezes com a mistura de diferentes designs.
Além da seção Arco Latino, as galerias Casa Triângulo, Dan Galeria, Fortes Vilaça e Luisa Strina, selecionadas para o Programa Geral da Arco, levam obras de Nazareth Pacheco, Albano Afonso, Carlos Fajardo, Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Leda Catunda, Marepe e Tunga, nomes do primeiro time da arte atual.
"Vivemos em uma situação de desenvolvimento da arte globalizado e equivalente. Nesse quadro, a América Latina e o Brasil estão em posição privilegiada, porque se acostumaram muito antes ao sincretismo", avalia o curador Antonio Zaya. A valorização dos artistas brasileiros na Arco deve se consolidar nos próximos anos, já que o Brasil será o país convidado da edição de 2008.


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