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ARTES
Edição 2005 da Arco, em Madri, terá México como país convidado e obras de brasileiros como Leonilson e Beatriz Milhazes
Feira espanhola destaca o cotidiano latino-americano
DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI
Reconhecida no futebol, na música e na moda, a cultura brasileira, que há anos faz sucesso na Espanha, contará esta semana com
outros emissários de sua criatividade no país ibérico. Começa nesta quinta-feira a 24ª edição da feira internacional de arte contemporânea Arco, realizada anualmente em Madri e que desta vez
deverá ser visitada por mais de
200 mil pessoas.
Durante cinco dias, criações de
Egidio Rocci, Rubens Mano, Beatriz Milhazes, Leonilson e Marina
Saleme, entre outros, serão exibidas no evento, um dos mais respeitados do gênero, que se destaca por atender não só aos interesses comerciais do mercado de arte, mas também ao propósito de
promover novas propostas artísticas. Depois de suas similares
promovidas na Flórida, nos Estados Unidos, é a feira que dá mais
abertura à produção latino-americana no mundo.
A maioria dos autores nacionais
foi selecionada por cinco galerias
paulistanas e uma radicada em
Paris, de propriedade de uma brasileira (ver quadro). Fazem parte
de um total de 292 espaços que lidam com arte contemporânea em
36 países e que participam este
ano da Arco. A parcela latino-americana neste universo se encontra especialmente reforçada.
São 37 galerias, 11 a mais que em
2004, um aumento que se deve à
presença de 20 casas com atividades no México, país eleito como
convidado da atual edição.
A opção pelo México corresponde à evolução da receptividade aos artistas da América Latina
nos países desenvolvidos. "Nos
anos 80, pensavam que nossa arte
era cópia da européia. Mas, na década seguinte, surgiu o mercado
latino-americano de arte, com a
criação da feira Art Miami, seguida por exposições e publicações
de livros", recorda a galerista brasileira Marci Gaymu, 53, que trabalha em Paris desde os anos 80.
Sua galeria, que conta com espaços na capital francesa e em
Madri, participa pela quarta vez
da feira madrilena, este ano em
colaboração com a paulistana Berenice Arvani. Os artistas que trazem à Arco são Vera Goulart, Egidio Rocci, PX Silveira, Marcio Almeida e Flavio Emanuel. Todos
eles farão parte da seção inédita
Arco Latino, com curadoria a cargo de Antonio Zaya, 50. "Sua assinatura é sinal de prestígio, já que
ele é um dos mais importantes conhecedores da arte latino-americana", comenta Marci. Além do
Brasil, estarão representados neste setor Chile, Cuba, México, República Dominicana e Porto Rico.
As obras que serão mostradas
por essas duas galerias têm em comum a temática social e a poética
do cotidiano transformado em
arte. "Senti uma ligação incrível
com os outros artistas porque
tanto eles quanto eu apresentamos protestos sociais", afirma
Vera Goulart, 50, carioca que vive
e produz entre o Rio e a Suíça desde os anos 80.
Vera Goulart comparece com a
instalação "Sonhos de uma Menina", baseada na história real de
uma criança que era torturada pelo próprio pai, ocorrida em Pernambuco nos anos 40. Os recifenses Marcio Almeida e Flavio Emanuel, do grupo Carga e Descarga,
assinam o vídeo "Sacrossantus
Eroticus", ficção polêmica que
mistura prostituição com religião,
filmada no bairro de Recife Antigo, antes de sua revitalização.
Do goiano PX Silveira, o público
poderá conhecer o vídeo "Amianto I Lobby You", obra contra o
uso no Brasil desse mineral cancerígeno, que já está proibido em diversos países. O paulistano Egidio
Rocci estará presente com suas
estranhas peças de mobiliário: cadeiras e mesas recortadas e remontadas, algumas vezes com a
mistura de diferentes designs.
Além da seção Arco Latino, as
galerias Casa Triângulo, Dan Galeria, Fortes Vilaça e Luisa Strina,
selecionadas para o Programa Geral da Arco, levam obras de Nazareth Pacheco, Albano Afonso,
Carlos Fajardo, Luiz Sacilotto,
Adriana Varejão, Leda Catunda,
Marepe e Tunga, nomes do primeiro time da arte atual.
"Vivemos em uma situação de
desenvolvimento da arte globalizado e equivalente. Nesse quadro,
a América Latina e o Brasil estão
em posição privilegiada, porque
se acostumaram muito antes ao
sincretismo", avalia o curador
Antonio Zaya. A valorização dos
artistas brasileiros na Arco deve
se consolidar nos próximos anos,
já que o Brasil será o país convidado da edição de 2008.
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