São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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"Cinema é como busca por petróleo"

Para Paul Thomas Anderson, diretor de "Sangue Negro", as pessoas ficam "gananciosas" à procura de um bom filme

Longa com Daniel Day-Lewis abriu a competição no Festival de Berlim ao lado de tragédias familiares vindas da China e da Finlândia

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Indicado a oito Oscars, "Sangue Negro", de Paul Thomas Anderson ("Magnólia"), foi exibido ontem em competição pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim -a estréia no Brasil será na próxima sexta-feira.
O longa conta a história do homem do petróleo Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), desde o momento em que ele escava poços com as próprias mãos, no fim do século 19, no Oeste dos EUA, até se tornar um magnata do negócio, vivendo a velhice sozinho, na primeira metade do século 20.
Entre um tempo e outro, Plainview cria um filho, restabelece relações com um irmão, administra trabalhadores, negocia com sócios e concorrentes de um modo duramente particular -ou como quem enxerga "o pior nas pessoas", segundo suas próprias palavras.
A atuação de Day-Lewis foi premiada com um Globo de Ouro, recebeu uma indicação ao Oscar (em que sua vitória é dada como certa) e vem sendo freqüentemente definida como magnífica pela crítica dos EUA.
Anderson e Day-Lewis deram ontem uma entrevista coletiva em Berlim, na qual o diretor afirmou que "fazer um filme é como perfurar um poço de petróleo: você não sabe se vai conseguir algo bom, mas continua tentando". "E, talvez, quando você consegue algo que parece bom, você fica ganancioso e continua perfurando."

China
"Sangue Negro" dividiu as atenções do primeiro dia de sessões competitivas com outros dois concorrentes. A abertura do festival, anteontem, foi com a exibição "hors-concours" de "Shine a Light", documentário de Martin Scorsese sobre os Rolling Stones.
O concorrente chinês "Zuo You" (acreditamos no amor), de Wang Xiaoshuai ("Bicicletas de Pequim"), e o finlandês "Musta Jää" (gelo negro), de Petri Kotwica, exibidos ontem, tratam ambos de dramas na vida de casais na meia-idade.
Em "Zuo You", os personagens "vêem suas vidas invadidas pela catástrofe", conforme define o diretor, no momento em que a garota Hehe (Zhang Chuqian), de cinco anos, é diagnosticada com leucemia.
A esperança de cura reside num transplante de medula. Divorciados desde que a filha era bebê -e vivendo seus segundos casamentos-, os pais de Hehe descobrem que não são doadores compatíveis.
A mãe decide engravidar novamente do pai de Hehe, com o intuito de que o irmão seja o doador da filha. Com a restrição do número de filhos permitidos por casal vigente na China, se tiver uma segunda criança com seu ex-marido, a mãe de Hehe não poderá dar ao atual marido o filho que ele quer.
O impacto dessa decisão no quadrilátero amoroso interessa mais ao diretor chinês do que o drama da personagem com a vida em risco. "Não quis mostrar brigas e exaltações no filme, porque é o que eu mais procuro evitar na minha vida. Acho que a solução do conflito pode se dar pela via do amor."
A China venceu o Festival de Berlim no ano passado com "O Casamento de Tuya" (também sobre a relação de um casal ameaçada por um problema de saúde) e provocou polêmica com o acossado pela censura do governo chinês "Lost in Beijin".
Neste ano, há uma atriz chinesa no júri (Shu Qi), reduzido após as desistências de Susanne Bier e Sandrine Bonnaire.
Shu, que já foi dirigida por Wang, disse esperar que a participação chinesa no festival "vá longe", mas frisou que seu trabalho será "profissional".
No finlandês "Musta Jää", é sobre um triângulo amoroso que a trama se desenvolve. Quando descobre, aos 40, que seu marido está tendo um caso com uma jovem aluna, mulher interrompe o casamento e, fingindo ser outra pessoa, torna-se a melhor amiga da amante do marido. A partir daí, ganha corpo um jogo de manipulação e engano que terá mais de uma conseqüência trágica.


Com agências internacionais


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