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"Cinema é como busca por petróleo"
Para Paul Thomas Anderson, diretor de "Sangue Negro", as pessoas ficam "gananciosas" à procura de um bom filme
Longa com Daniel Day-Lewis abriu a competição no Festival de Berlim ao lado de tragédias familiares vindas da China e da Finlândia
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Indicado a oito Oscars, "Sangue Negro", de Paul Thomas
Anderson ("Magnólia"), foi exibido ontem em competição pelo Urso de Ouro no Festival de
Berlim -a estréia no Brasil será
na próxima sexta-feira.
O longa conta a história do
homem do petróleo Daniel
Plainview (Daniel Day-Lewis),
desde o momento em que ele
escava poços com as próprias
mãos, no fim do século 19, no
Oeste dos EUA, até se tornar
um magnata do negócio, vivendo a velhice sozinho, na primeira metade do século 20.
Entre um tempo e outro,
Plainview cria um filho, restabelece relações com um irmão,
administra trabalhadores, negocia com sócios e concorrentes de um modo duramente
particular -ou como quem enxerga "o pior nas pessoas", segundo suas próprias palavras.
A atuação de Day-Lewis foi
premiada com um Globo de
Ouro, recebeu uma indicação
ao Oscar (em que sua vitória é
dada como certa) e vem sendo
freqüentemente definida como
magnífica pela crítica dos EUA.
Anderson e Day-Lewis deram ontem uma entrevista coletiva em Berlim, na qual o diretor afirmou que "fazer um filme é como perfurar um poço de
petróleo: você não sabe se vai
conseguir algo bom, mas continua tentando". "E, talvez,
quando você consegue algo que
parece bom, você fica ganancioso e continua perfurando."
China
"Sangue Negro" dividiu as
atenções do primeiro dia de
sessões competitivas com outros dois concorrentes. A abertura do festival, anteontem, foi
com a exibição "hors-concours" de "Shine a Light", documentário de Martin Scorsese
sobre os Rolling Stones.
O concorrente chinês "Zuo
You" (acreditamos no amor),
de Wang Xiaoshuai ("Bicicletas
de Pequim"), e o finlandês
"Musta Jää" (gelo negro), de
Petri Kotwica, exibidos ontem,
tratam ambos de dramas na vida de casais na meia-idade.
Em "Zuo You", os personagens "vêem suas vidas invadidas pela catástrofe", conforme
define o diretor, no momento
em que a garota Hehe (Zhang
Chuqian), de cinco anos, é diagnosticada com leucemia.
A esperança de cura reside
num transplante de medula.
Divorciados desde que a filha
era bebê -e vivendo seus segundos casamentos-, os pais
de Hehe descobrem que não
são doadores compatíveis.
A mãe decide engravidar novamente do pai de Hehe, com o
intuito de que o irmão seja o
doador da filha. Com a restrição do número de filhos permitidos por casal vigente na China, se tiver uma segunda criança com seu ex-marido, a mãe de
Hehe não poderá dar ao atual
marido o filho que ele quer.
O impacto dessa decisão no
quadrilátero amoroso interessa mais ao diretor chinês do que
o drama da personagem com a
vida em risco. "Não quis mostrar brigas e exaltações no filme, porque é o que eu mais procuro evitar na minha vida. Acho
que a solução do conflito pode
se dar pela via do amor."
A China venceu o Festival de
Berlim no ano passado com "O
Casamento de Tuya" (também
sobre a relação de um casal
ameaçada por um problema de
saúde) e provocou polêmica
com o acossado pela censura do
governo chinês "Lost in Beijin".
Neste ano, há uma atriz chinesa no júri (Shu Qi), reduzido
após as desistências de Susanne Bier e Sandrine Bonnaire.
Shu, que já foi dirigida por
Wang, disse esperar que a participação chinesa no festival
"vá longe", mas frisou que seu
trabalho será "profissional".
No finlandês "Musta Jää", é
sobre um triângulo amoroso
que a trama se desenvolve.
Quando descobre, aos 40, que
seu marido está tendo um caso
com uma jovem aluna, mulher
interrompe o casamento e, fingindo ser outra pessoa, torna-se a melhor amiga da amante
do marido. A partir daí, ganha
corpo um jogo de manipulação
e engano que terá mais de uma
conseqüência trágica.
Com agências internacionais
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