São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA "Marcha para Zenturo" é mergulho na tentativa de interpretação do tempo LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA O teatro e o espírito do tempo. "Marcha para Zenturo" é o mergulho de dois grupos experimentais brasileiros na tentativa de traduzir sua época. Se não alcançam o pretendido, propõem um jogo estimulante em que a temporalidade é explorada em diversas camadas metafóricas. Depois de parcerias pontuais, desde 2006, os grupos XIX e Espanca trabalharam um ano para criarem essa encenação. A autoria do texto é de Grace Passô, dramaturga e uma das diretoras do Espanca, e a direção, de Luiz Fernando Marques, do XIX. Os textos anteriores de Passô caracterizavam-se por estabelecer deslocamentos sutis na ação dos personagens diante de situações teatrais concretas, em registros mais ou menos realistas. Desta vez, esses estranhamentos, explicitados nos diálogos e nas relações entre os personagens, se adensam com um constante retardo entre as falas e sua efetivação gestual na cena. A forma dramática encarna o projeto de encenar o "tempo". Luiz Fernando Marques, encenador empenhado em resgates históricos a partir da revitalização de espaços urbanos não convencionalmente teatrais, desdobra-se para conter a ação numa caixa preta, e nas unidades temporal e de lugar -uma festa de um grupo de velhos amigos na noite de Ano-Novo. O elemento cenográfico predominante é o gelo, matéria cuja evidente mutação constante substancia o tema. Mas todos os adereços e objetos se movimentam e se transformam ao longo da trama, como a colaborar na destilação paulatina do que era pedra e se torna água. O contexto ficcional, situado em um futuro mais de 400 anos à frente, permite tanto paródias com os costumes atuais como também sugere reflexões mais filosóficas em torno da religiosidade e da política contemporâneas. De fato, o aspecto mais frágil do projeto sobressai sempre que as falas parecem querer traduzir uma leitura do atual estado de coisas. Os pontos altos, e que confirmam a força poética nutrida por ambos os grupos em seus trabalhos anteriores, dizem respeito às metáforas relativas à representação. Exemplar é a peça dentro da peça que uma trupe em extinção, contratada como um presente de um dos amigos ao grupo que festeja, apresenta. É uma evocação de "As Três Irmãs", de Tchékhov, mas também um índice de um teatro em vias de desaparecer. Quando os atores contratados se misturam aos convidados, por conta de uma manifestação que cerca o edifico onde estão todos, o limite entre os dois grupos se dissolve, e eles se voltam contra o público, instância derradeira a ser apreendida na ampulheta que o espetáculo desenha. Se o discurso subliminar que Passô e Marques costuram padece de uma ingenuidade quase simplória, a encenação em si, e a estrutura dramática que a sustenta, tem a graça de uma investida original e que aponta caminhos. A nossa época não comparece ao debate de ideias proposto, mas o mito do tempo e de suas circunstâncias relampeja vez ou outra no horizonte da matéria espetacular. MARCHA PARA ZENTURO QUANDO sex. e sáb., às 21h; domingo, às 20h, até 13/2 ONDE Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/xx/11/ 3397-4002) QUANTO de R$ 10 a R$ 20 CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Festival de Curitiba atrai jovem cena teatral do Rio Próximo Texto: Música - Crítica/Rock: PJ Harvey retorna cerebral e pudica Índice | Comunicar Erros |
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