São Paulo, sábado, 09 de março de 2002

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"Vim do inferno", diz Marcelo Mirisola

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Outro dia, o escritor Marcelo Mirisola estava em um bar em Florianópolis, onde vive desde 1990, quando começou uma discussão sobre a capital catarinense.
Mirisola citou diversos pontos negativos da cidade. Um dos presentes perguntou: "Mas de onde você veio?". O escritor não titubeou: "Do inferno".
- "Vamos te mandar de volta."
- "Não precisa. Eu sei o caminho de cor. Precisa ter um demônio no meio dessa santidade."
O episódio banal revela bastante da personalidade e da literatura desse paulistano safra 1966.
Desde que seu "Fátima Fez os Pés para Mostrar na Choperia" (Estação Liberdade) apareceu nas livrarias há quatro anos, Mirisola vem ganhando a crítica com uma escrita sem freios de mão, um humor embebido nos lados menos iluminados da cultura pop e uma linguagem repleta de "palavras que rimam em "eta". A única delas publicável aqui é "chupeta" (no sentido de felação)", como registrou o articulista José Geraldo Couto na Folha, em 2000.
Mirisola, que já publicou dois livros de contos, uma novela em capítulos na revista "Cult" e que participou (assim como Marçal Aquino) da coletânea "Geração 90" (Boitempo), usa agora a mesma tabela periódica, acrescida de uma boa pitada de lirismo, em seu primeiro romance, o desconcertante "O Azul do Filho Morto", que a editora 34 está lançando.
Espécie de "patchwork" de situações presumivelmente autobiográficas, o livro costura flashes da educação sentimental (e sexual) de um garoto gordinho, que comia churros nas praias de Santos, era obcecado pela atriz franco-brasileira da TV Globo Jacqueline Laurence e cuja Disneylândia era o quartinho da empregada.
Corrosivo, iconoclasta, mas também melancólico (adjetivos que ele compartilha com alguns de seus mestres, como Charles Bukowski ou Henry Miller), Mirisola disse em entrevista por telefone à Folha, interrompida para uma "travessia de barquinho pela Lagoa da Conceição", que não faz mais do que "levar a liberdade ao máximo".


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