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"Vim do inferno", diz Marcelo Mirisola
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Outro dia, o escritor Marcelo
Mirisola estava em um bar em
Florianópolis, onde vive desde
1990, quando começou uma discussão sobre a capital catarinense.
Mirisola citou diversos pontos
negativos da cidade. Um dos presentes perguntou: "Mas de onde
você veio?". O escritor não titubeou: "Do inferno".
- "Vamos te mandar de volta."
- "Não precisa. Eu sei o caminho de cor. Precisa ter um demônio no meio dessa santidade."
O episódio banal revela bastante
da personalidade e da literatura
desse paulistano safra 1966.
Desde que seu "Fátima Fez os
Pés para Mostrar na Choperia"
(Estação Liberdade) apareceu nas
livrarias há quatro anos, Mirisola
vem ganhando a crítica com uma
escrita sem freios de mão, um humor embebido nos lados menos
iluminados da cultura pop e uma
linguagem repleta de "palavras
que rimam em "eta". A única delas
publicável aqui é "chupeta" (no
sentido de felação)", como registrou o articulista José Geraldo
Couto na Folha, em 2000.
Mirisola, que já publicou dois livros de contos, uma novela em
capítulos na revista "Cult" e que
participou (assim como Marçal
Aquino) da coletânea "Geração
90" (Boitempo), usa agora a mesma tabela periódica, acrescida de
uma boa pitada de lirismo, em seu
primeiro romance, o desconcertante "O Azul do Filho Morto",
que a editora 34 está lançando.
Espécie de "patchwork" de situações presumivelmente autobiográficas, o livro costura flashes
da educação sentimental (e sexual) de um garoto gordinho, que
comia churros nas praias de Santos, era obcecado pela atriz franco-brasileira da TV Globo Jacqueline Laurence e cuja Disneylândia
era o quartinho da empregada.
Corrosivo, iconoclasta, mas
também melancólico (adjetivos
que ele compartilha com alguns
de seus mestres, como Charles
Bukowski ou Henry Miller), Mirisola disse em entrevista por telefone à Folha, interrompida para uma "travessia de
barquinho pela Lagoa da Conceição", que não faz mais do que "levar a liberdade ao máximo".
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