São Paulo, sábado, 09 de março de 2002

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Aquino invade cinema com nova ação

DA REDAÇÃO

Primeiro vem a trama, depois as implicações. A sinopse de "O Invasor", novela policial de Marçal Aquino, 44 ("isso não é idade, é calibre", diz o autor, que usa essa ordem de procedimentos para inventar histórias), é bastante familiar. Um sujeito de classe média se mete com a vida na rua. Sem nada saber sobre a gramática da malandragem, acaba enfronhado em uma teia de roubadas sucessivas até que perde tudo sem saber nem por que, nem para quem.
As implicações dão à história (que poderia perfeitamente ter um boletim de ocorrência no lugar do roteiro), um movimento rápido, que engana os olhos e testa os instintos. A trama chega às lojas em abril. É parte de uma série de "livros de ação", a Carpe Diem, da Geração Editorial.
O livro ainda não tem preço nem número de páginas definidos e vai às livrarias logo depois de ganhar as telas no filme homônimo de Beto Brant, vencedor do troféu de melhor filme latino-americano da edição deste ano do festival de cinema de Sundance, nos EUA.
Aquino não vê influência direta do cinema em sua literatura, mas o fato é que ela frequenta o cinema com a intimidade de histórias que nascem roteiros. São de sua autoria "Ação Entre Amigos" e "Os Matadores", também filmados por Brant.
"Os Matadores", por exemplo, nasceu para ser conto. É o último, aliás, de uma coletânea que o autor reuniu sob o título "Miss Danúbio", publicada em 94 e vertida à longa-metragem três anos depois.
Paulista de Amparo, Aquino não esconde a fonte das "implicações" de suas novelas, normalmente ambientadas nas ruas de São Paulo. O trabalho como repórter policial (no "Jornal da Tarde", entre 86 a 90) o fez entender que a vida, às vezes, é bastante cinematográfica.
"Poucas horas em um boteco são suficientes para se levantar uma coleção de personagens e ações que, colocadas em um conto, podem torná-lo até inverossímil, inviável, absurdo", diz o autor de "Amor e Outros Objetos Pontiagudos" e "Faroestes" o primeiro, vencedor, e o segundo, indicado ao Prêmio Jabuti.

A pé
Como não tem carro (nem habilitação para dirigir), Aquino gasta parte de seu tempo na função de andarilho, anotando inverosimilhanças que depara pelas ruas da cidade em que mora.
Ele não usa histórias reais, "mas a realidade sempre está colada às histórias." Ele costuma brincar que não resiste à realidade (leia-se à violência da vida urbana), assim como Hitchcock não resistiria a um cadáver ou dois nem mesmo em um remake de Cinderela.
O jornalista Marçal Aquino escreve à mão. Depois passa para o computador cortando, enxugando o texto. Nessa passada a limpo ele chega "praticamente na versão final".
A versão final da novela só ficou pronta depois que o filme já estava viajando por festivais internacionais. Aquino acabou de "cortar" o texto durante o Carnaval deste ano.
"O Invasor" começou a ser manuscrito em 97. Ficou na gaveta até Beto Brant resolver filmá-lo. "Foi preparando o roteiro que consegui solucionar uma série de problemas da novela. Para falar a verdade, se não fosse o Beto Brant acho que eu não acabaria de escrever a história."
A editora pretende lançar o roteiro do filme junto com a novela durante a Bienal Internacional do Livro, que começa no mês que vem. Enquanto o livro aguarda o lançamento, o autor trabalha na edição de "Sequestro Sangrento", de Hosmany Ramos, da mesma coleção. (AW)


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