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ARTES
Centro Dragão do Mar, de Fortaleza, abriga em novembro a Américas 2000, com curadoria de Jan Hoet
Ceará terá bienal de arte contemporânea
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
Há exatas duas semanas da
abertura da 25ª Bienal de São Paulo, o Brasil acaba de ganhar uma
nova mostra do gênero. Em novembro próximo, Fortaleza sediará a Américas 2000 - Bienal do
Ceará, segundo anunciou, anteontem, com exclusividade à Folha, José Guedes, diretor do Museu de Arte Contemporânea do
Centro Dragão do Mar, na capital
cearense, que organiza o evento.
A nova mostra, da mesma forma que a bienal paulista, terá um
curador estrangeiro. Será o belga
Jan Hoet, que foi o curador da
prestigiada Documenta de Kassel,
em 92, na Alemanha, e será curador da Bienal de Lyon, no próximo ano, na França.
Nos anos 80, Fortaleza foi sede
de outra exposição internacional,
esta sobre esculturas efêmeras,
criada pelo artista plástico cearense Sérvulo Esmeraldo, que alcançou apenas três edições.
"Como o tema da nova bienal é
a arte contemporânea no continente americano, preferimos
convidar um curador que tivesse
uma visão distanciada, sem um
enfoque regionalista", diz Guedes. Em cada edição, um país de
outro continente será convidado.
O primeiro será a Espanha.
Hoet, que se encontra hospitalizado na Bélgica, recuperando-se
de uma cirurgia, terá como assistente o também belga Philippe
van Cauteren.
"A grande premissa e também
desafio dessa exposição será a
questão política, ou seja, como o
artista incorpora ou renega realidades políticas ou sociológicas em
seu trabalho, num momento em
que as responsabilidades políticas
internacionais ganham novos significados", escreveu Cauteren por
e-mail à Folha.
A mostra, que apresentará cerca
de 60 artistas, vai privilegiar obras
novas, feitas especialmente para o
evento. Segundo Cauteren, "a ênfase deve ser não na já tradicional
diferença entre a América do Sul e
a do Norte, mas em articular e
pesquisar como um ambiente sociocultural afeta a sociedade e,
por consequência, o artista".
A escolha por Hoet e seu assistente ocorreu também pelo sucesso que ambos alcançaram na Documenta de 92. "Até aquela época, sempre se disse que a mostra
alemã era a mais importante, mas
o público era sempre baixo, com
cerca de 100 mil pessoas. Sob a
responsabilidade de Hoet, a Documenta conquistou 600 mil visitantes", afirma Guedes.
Hoet é também reconhecido
por valorizar a arte latino-americana. Foi ele quem levou quatro
brasileiros à Documenta pela primeira vez: os artistas José Resende, Cildo Meireles, Jac Leirner e
Waltércio Caldas.
Além de ocupar o Centro Dragão do Mar, a mostra deve espalhar-se por outros espaços da cidade. "A idéia e a intenção da realização da bienal é incorporá-la na
estrutura social de Fortaleza. Alguns artistas irão montar projetos
externos, até mesmo em ruas",
afirma Cauteren.
No momento em que o Rio gasta US$ 2 milhões só para realizar
um estudo de viabilidade para o
Guggenheim na cidade, orçado
em US$ 300 milhões, o Dragão do
Mar torna-se um interessante parâmetro de comparação.
Inaugurado em 99, o espaço tornou-se referência cultural e pólo
de transformação urbana na área
portuária de Fortaleza, a um custo
bem mais baixo. "Para uma área
de 30 mil m2, gastamos apenas
US$ 20 milhões", diz Pádua Araújo, o diretor do centro.
A instituição funciona de acordo com um novo modelo de gestão. É uma empresa privada sem
fins lucrativos, que recebe 80% de
seu orçamento de verbas públicas, a um custo mensal de R$ 300
mil. "Com isso, temos mais agilidade e independência, mas com
fiscalização pública", diz Araújo.
Com a Bienal do Ceará, o Centro Dragão do Mar busca agora
visibilidade internacional.
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