São Paulo, sábado, 09 de março de 2002

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ARTES

Centro Dragão do Mar, de Fortaleza, abriga em novembro a Américas 2000, com curadoria de Jan Hoet

Ceará terá bienal de arte contemporânea

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Há exatas duas semanas da abertura da 25ª Bienal de São Paulo, o Brasil acaba de ganhar uma nova mostra do gênero. Em novembro próximo, Fortaleza sediará a Américas 2000 - Bienal do Ceará, segundo anunciou, anteontem, com exclusividade à Folha, José Guedes, diretor do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar, na capital cearense, que organiza o evento.
A nova mostra, da mesma forma que a bienal paulista, terá um curador estrangeiro. Será o belga Jan Hoet, que foi o curador da prestigiada Documenta de Kassel, em 92, na Alemanha, e será curador da Bienal de Lyon, no próximo ano, na França.
Nos anos 80, Fortaleza foi sede de outra exposição internacional, esta sobre esculturas efêmeras, criada pelo artista plástico cearense Sérvulo Esmeraldo, que alcançou apenas três edições.
"Como o tema da nova bienal é a arte contemporânea no continente americano, preferimos convidar um curador que tivesse uma visão distanciada, sem um enfoque regionalista", diz Guedes. Em cada edição, um país de outro continente será convidado. O primeiro será a Espanha.
Hoet, que se encontra hospitalizado na Bélgica, recuperando-se de uma cirurgia, terá como assistente o também belga Philippe van Cauteren.
"A grande premissa e também desafio dessa exposição será a questão política, ou seja, como o artista incorpora ou renega realidades políticas ou sociológicas em seu trabalho, num momento em que as responsabilidades políticas internacionais ganham novos significados", escreveu Cauteren por e-mail à Folha.
A mostra, que apresentará cerca de 60 artistas, vai privilegiar obras novas, feitas especialmente para o evento. Segundo Cauteren, "a ênfase deve ser não na já tradicional diferença entre a América do Sul e a do Norte, mas em articular e pesquisar como um ambiente sociocultural afeta a sociedade e, por consequência, o artista".
A escolha por Hoet e seu assistente ocorreu também pelo sucesso que ambos alcançaram na Documenta de 92. "Até aquela época, sempre se disse que a mostra alemã era a mais importante, mas o público era sempre baixo, com cerca de 100 mil pessoas. Sob a responsabilidade de Hoet, a Documenta conquistou 600 mil visitantes", afirma Guedes.
Hoet é também reconhecido por valorizar a arte latino-americana. Foi ele quem levou quatro brasileiros à Documenta pela primeira vez: os artistas José Resende, Cildo Meireles, Jac Leirner e Waltércio Caldas.
Além de ocupar o Centro Dragão do Mar, a mostra deve espalhar-se por outros espaços da cidade. "A idéia e a intenção da realização da bienal é incorporá-la na estrutura social de Fortaleza. Alguns artistas irão montar projetos externos, até mesmo em ruas", afirma Cauteren.
No momento em que o Rio gasta US$ 2 milhões só para realizar um estudo de viabilidade para o Guggenheim na cidade, orçado em US$ 300 milhões, o Dragão do Mar torna-se um interessante parâmetro de comparação.
Inaugurado em 99, o espaço tornou-se referência cultural e pólo de transformação urbana na área portuária de Fortaleza, a um custo bem mais baixo. "Para uma área de 30 mil m2, gastamos apenas US$ 20 milhões", diz Pádua Araújo, o diretor do centro.
A instituição funciona de acordo com um novo modelo de gestão. É uma empresa privada sem fins lucrativos, que recebe 80% de seu orçamento de verbas públicas, a um custo mensal de R$ 300 mil. "Com isso, temos mais agilidade e independência, mas com fiscalização pública", diz Araújo.
Com a Bienal do Ceará, o Centro Dragão do Mar busca agora visibilidade internacional.


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