São Paulo, sábado, 09 de março de 2002

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ARTES

Exposição na Faap reúne obras e documentos sobre Olívia Penteado

Mostra lembra a "senhora" do modernismo

Caio Guatelli/Folha Imagem
"Salão Modernista", recriação do pavilhão pintado por Lasar Segall, demolido em 1944; sobre a lareira, o "Cavalo", de Brecheret


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Tarsila em Paris, Blaise Cendrars no Rio, Mário de Andrade no Amazonas, Oswald de Andrade em Minas e dona Olívia Guedes Penteado em todos esses lugares, incentivando-os. "No Tempo dos Modernistas - D. Olívia Penteado, Senhora das Artes" comemora os 80 anos da Semana de Arte Moderna com a reunião de uma vasta documentação sobre os acontecimentos que sucederam a Semana e sustentaram o modernismo, estimulado pela argúcia de dona Olívia Guedes Penteado, chamada "Nossa Senhora do Brasil" pelos modernistas.
A mecenas, morta em 1934, aos 62 anos, é tema da exposição que, a partir de hoje, ocupa o Salão Cultural da Faap, em SP. Em cinco núcleos, estão reunidos obras de arte, relatos sobre as viagens ao Rio, a Minas e ao Amazonas, além das primeiras edições da biblioteca modernista e da recriação do pavilhão de Lasar Segall.
O passeio começa em uma sala octogonal, que reproduz o hall da casa em estilo rococó construída por Ramos de Azevedo sob encomenda do marido de dona Olívia, Ignácio Penteado. As paredes da sala alternam, na mostra, fotos e documentos sobre a vida de Olívia com portas que levam aos diferentes núcleos expositivos. A discrepância entre a rigidez estética oitocentista, que se vê no início do percurso, e as pesquisas e resultados modernistas formam um conjunto à primeira vista estranho e desencontrado, mas extremamente importante para a compreensão do desenvolvimento do modernismo no Brasil. "Dona Olívia sabia harmonizar os contrastes maravilhosamente bem. Do mesmo jeito que ela se dava bem com a velha guarda, se dava bem com os modernistas", diz Denise Mattar, curadora da exposição. "O fato de se poder acompanhar o que era a realidade da época torna claro o quanto isso era estranho, diferente".
A diferença é sobretudo marcada pela recriação do "Salão Modernista", um pavilhão que dona Olívia mandou construir nos jardins de sua mansão, em 1925, para reunir os amigos modernistas. Pintado por Lasar Segall, o pavilhão foi demolido em 1944, junto com a casa (no número 61 da r. Conselheiro Nébias, esquina com av. Duque de Caxias), para o alargamento da avenida.
Para a exposição, a artista Isabelle van Oost reproduziu os afrescos de Segall a partir de documentos e fotos da época, que também serviram para a reconstrução do espaço e disposição das obras originais exatamente como se encontravam em 1925. Dentre elas, esculturas de Brecheret, pinturas de Tarsila, Anita Malfatti e do próprio Segall. "Acho que a exposição dá uma leitura do modernismo que situa a época. Consegue-se entender a ruptura que foi; de uma realidade como esta [a do palacete", chega-se a um salão como aquele", diz Mattar.
Ruptura que se faz presente também em "O Turista Aprendiz", sala dedicada aos registros da viagem que dona Olívia, sua sobrinha Mag, a filha de Tarsila, Dulce do Amaral, e Mário de Andrade fizeram ao Amazonas. Que mulher, em 1927, se aventuraria Amazonas abaixo, ainda que sem abandonar seu "sautoir" de pérolas? A resposta é óbvia.


NO TEMPO DOS MODERNISTAS - DONA OLÍVIA PENTEADO, SENHORA DAS ARTES - Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis,tel. 0/xx/11/ 3662-1662). Hoje, às 16h. Ter. a sex.: 10h às 21h; sáb. e dom.: 13h às 18h. Até 28/4. Grátis.



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