São Paulo, sábado, 09 de março de 2002

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CRÍTICA

Ensaios de Herkenhoff reivindicam a posição dos cariocas

FELIPE CHAIMOVICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Paulo Herkenhoff escreve "Da Inquietação do Moderno à Autonomia da Linguagem" para construir a imagem da arte brasileira perante a comunidade internacional. A importante coleção carioca dos Fadel serve de ponto de apoio para uma história da nossa arte moderna em 16 ensaios, cobrindo desde a Missão Francesa até a emergência da arte contemporânea.
O autor consagrou-se internacionalmente como curador da última Bienal de São Paulo (1998). Lançou a antropofagia brasileira no vocabulário do debate transnacional. O feito valeu-lhe um posto atualmente ocupado no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
O livro é irregular sob o aspecto metodológico. Destaca-se a parte inicial, em que Herkenhoff acompanha a atual historiografia da arte britânica na crítica aos modelos formalistas de análise.
Esse trecho refaz a história do primeiro modernismo à luz de conceitos sociológicos e da história de indivíduos para reivindicar para o Rio o lugar de condutor do modernismo brasileiro (página 88).
A polêmica inicial contra a pretensão paulista à posição de vanguarda é aguda. O lugar dos cariocas é reivindicado no momento em que a arte brasileira se faz reconhecer no exterior por meio de agentes predominantemente paulistanos, como a Bienal.
Entretanto a crítica cristalina desaparece gradativamente quando os temas são mais comprometedores.
Um deles é a participação dos cariocas na ditadura Vargas. A análise principal de Portinari centra-se em questões de pigmento e cor, mas a ligação do pintor comunista com o caudilho do Estado Novo é mencionada apenas de relance na página 99.
Os interesses do MoMA na promoção brasileira da abstração por meio da Bienal são referidos de um modo neutro: "A Bienal de São Paulo ajudava a queimar etapas da história que na Europa haviam resultado de uma longa investigação" (página 138). Sabe-se, contudo, que a CIA financiou eventos internacionais como a Bienal numa campanha contra o realismo mediada pelo museu norte-americano.
O tratamento poético da arte revela ainda uma visão pessoal, como nos ensaios "Cinco Sujeitos Melancólicos" e "4 Clarks".
O livro sai às vésperas da Bienal de São Paulo, pela primeira vez quadrienal, já que a última edição foi cancelada por uma disputa que excluiu o grupo de Herkenhoff. O MoMA não enviará representação para a abertura devido à dengue.
O texto é bem escrito e tem o tempero dos instrumentos que produzem a história da arte.


Da Inquietação do Moderno à Autonomia da Linguagem    
Autor: Paulo Herkenhoff
Editora: Andrea Jakobsson Estúdio
Quanto: R$ 60 (208 páginas)
Onde encontrar: disponível apenas no CCBB (0/xx/11/3113-3655 ou 0/xx/21/ 3808-2020)




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