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CRÍTICA
Ensaios de Herkenhoff reivindicam a posição dos cariocas
FELIPE CHAIMOVICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Paulo Herkenhoff escreve
"Da Inquietação do Moderno
à Autonomia da Linguagem" para construir a imagem da arte brasileira perante a comunidade internacional. A importante coleção
carioca dos Fadel serve de ponto
de apoio para uma história da
nossa arte moderna em 16 ensaios, cobrindo desde a Missão
Francesa até a emergência da arte
contemporânea.
O autor consagrou-se internacionalmente como curador da última Bienal de São Paulo (1998).
Lançou a antropofagia brasileira
no vocabulário do debate transnacional. O feito valeu-lhe um
posto atualmente ocupado no
Museu de Arte Moderna de Nova
York (MoMA).
O livro é irregular sob o aspecto
metodológico. Destaca-se a parte
inicial, em que Herkenhoff acompanha a atual historiografia da arte britânica na crítica aos modelos
formalistas de análise.
Esse trecho refaz a história do
primeiro modernismo à luz de
conceitos sociológicos e da história de indivíduos para reivindicar
para o Rio o lugar de condutor do
modernismo brasileiro (página
88).
A polêmica inicial contra a pretensão paulista à posição de vanguarda é aguda. O lugar dos cariocas é reivindicado no momento
em que a arte brasileira se faz reconhecer no exterior por meio de
agentes predominantemente
paulistanos, como a Bienal.
Entretanto a crítica cristalina
desaparece gradativamente quando os temas são mais comprometedores.
Um deles é a participação dos
cariocas na ditadura Vargas. A
análise principal de Portinari centra-se em questões de pigmento e
cor, mas a ligação do pintor comunista com o caudilho do Estado Novo é mencionada apenas de
relance na página 99.
Os interesses do MoMA na promoção brasileira da abstração por
meio da Bienal são referidos de
um modo neutro: "A Bienal de
São Paulo ajudava a queimar etapas da história que na Europa haviam resultado de uma longa investigação" (página 138). Sabe-se,
contudo, que a CIA financiou
eventos internacionais como a
Bienal numa campanha contra o
realismo mediada pelo museu
norte-americano.
O tratamento poético da arte revela ainda uma visão pessoal, como nos ensaios "Cinco Sujeitos
Melancólicos" e "4 Clarks".
O livro sai às vésperas da Bienal
de São Paulo, pela primeira vez
quadrienal, já que a última edição
foi cancelada por uma disputa
que excluiu o grupo de Herkenhoff. O MoMA não enviará representação para a abertura devido à dengue.
O texto é bem escrito e tem o
tempero dos instrumentos que
produzem a história da arte.
Da Inquietação do Moderno à
Autonomia da Linguagem
Autor: Paulo Herkenhoff
Editora: Andrea Jakobsson Estúdio
Quanto: R$ 60 (208 páginas)
Onde encontrar: disponível apenas no
CCBB (0/xx/11/3113-3655 ou 0/xx/21/
3808-2020)
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