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PALESTRAS
Seminário, que marca edição de obra do antropólogo francês, debate seus impactos no pensamento de hoje
USP celebra "dádivas" de Marcel Mauss
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os leitores brasileiros de ciências sociais estão diante de uma
"dádiva". Um breve seminário a
ser realizado amanhã e quinta-feira em São Paulo marca a reedição
no país de um dos livros centrais
das humanidades na segunda metade do século 20, "Sociologia e
Antropologia", de Marcel Mauss.
Trabalho publicado em 1950,
postumamente, o catatau organizado pelo sociólogo francês George Gurvitch reúne um conjunto
de ensaios que o seu conterrâneo
imprimira em revistas de ciências
sociais a partir de 1902.
Primeiro livro de Mauss (1872-1950), o volume alargou o prestígio que o intelectual tinha nos círculos universitários franceses e o
consagrou como um dos fundadores da antropologia moderna.
Com temas tão distintos como a
função da magia nas sociedades
ditas "primitivas" ou o modo como nelas se lidava com o corpo
(desde as diferentes maneiras de
andar até as posições sexuais), os
ensaios de "Sociologia e Antropologia" ilustram a amplitude do
pensamento "maussiano".
Essa elasticidade ficará visível
no ciclo "Leituras de Mauss", que
a editora Cosac & Naify, responsável pela publicação, realiza na
USP em parceria com o departamento de antropologia e o programa de pós-graduação de antropologia social da universidade.
O primeiro dia do evento, amanhã, será dos professores de antropologia. Beatriz Perrone-Moisés, da USP, abre os trabalhos falando sobre "a noção de pessoa".
"A grande lição desse texto",
opina a professora, "é a idéia de
que cada cultura tem uma noção
própria do que é o ser humano".
"A noção de indivíduo, que costumamos considerar como universal, é recente e restrita ao ocidente", completa a tradutora de Lévi-Strauss (que assina a introdução
de "Sociologia e Antropologia").
O texto mais conhecido de
Mauss, "Ensaio sobre a Dádiva",
será o tema de João Dal Poz, professor da Universidade Federal de
Mato Grosso. Segundo a professora da USP Fernanda Peixoto,
que organizou o evento com a antropóloga Florencia Ferrari (coordenadora editorial do livro), o etnólogo falará sobre leituras contemporâneas do texto, no qual
"Mauss define as sociedades não
ocidentais como fundamentadas
na idéia de troca".
Em "Ensaio sobre a Dádiva", de
1924, que foi considerado um dos
dez textos mais importantes da
não-ficção no século 20 por júri
do caderno Mais! em 11/4/1999,
Mauss descreve a obrigatoriedade
de dar e retribuir presentes em sociedades "primitivas" (o que pode
ser alargado para todas as sociedades) como "fato social total".
Com esse segundo conceito, derivado das idéias de seu tio, Émile
Durkheim (que faz parte do tripé
elementar da sociologia, com
Marx e Max Weber), Mauss pretende mostrar como nas trocas
(dar, receber e retribuir) exprimem-se as instituições religiosas,
jurídicas, morais, econômicas.
A terceira componente da mesa
em "Leituras de Mauss" deixa um
pouco esse universo de lado para
concentrar-se no percurso mais
pessoal do pensador. Léa Freitas
Perez, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que
está traduzindo biografia de
Mauss feita por Michel Fournier,
vai falar sobre seu papel como
mestre de nomes tão variados como Lévi-Strauss, Michel Leiris e
George Bataille, entre outros.
Bataille, ensaísta e romancista, e
sua relação com Mauss serão tema ainda de palestra do segundo
dia do evento, em intervenção da
professora de literatura da PUC-SP Eliane Robert Moraes.
Outros dois "estranhos no ninho" antropológico completam a
mesa: Heloisa Pontes, da Unicamp, que vai discutir os ensaios
de Mauss sobre o corpo, e o artista
Arthur Omar ("tudo o que faço é
também uma certa antropologia", diz o autor do livro "Antropologia da Face Gloriosa").
LEITURAS DE MARCEL MAUSS.
Amanhã, das 17h30 às 19h30 (Fernanda
Peixoto, Beatriz Perrone-Moisés, Léa
Freitas Perez e João Dal Poz); quinta, das
17h30 às 19h30 (Florencia Ferrari, Eliane
Robert Moraes, Heloisa Pontes e Arthur
Omar). Onde: Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP -sala
24/Ciências Sociais (av. Prof. Luciano
Gualberto, 315, Cidade Universitária, SP,
tel. 0/xx/11/3091-3726). Grátis.
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