São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Dança vai ao metal

Fãs dizendo "Já posso morrer!" após hit são parte do show

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A dica de um amigo acostumado com shows pesados foi prudente: "Vá com roupa preta". Assim, vestida de preto e despida de preconceitos, parti para o Parque Antártica, no domingo passado, com a missão de ver a única apresentação do Iron Maiden na cidade. Só não seria o meu primeiro show do gênero, porque, em 2001, no meio da salada musical do Rock in Rio 3, assisti ao sexteto inglês quase sem querer.
A quantidade absurda de gente (sobretudo homens trintões e quarentões) de preto impressiona. Cabeludos, tatuados, em hordas pacíficas, lotando cada centímetro do estádio. Uma chuva grossa cai de repente, mas não desanima ninguém. Molhada, com o cabelo desgrenhadamente perfeito para a ocasião, sigo para o meio da galera. As luzes se apagam.
Imagens de aviões da Segunda Guerra Mundial tomam os telões enquanto um discurso de Winston Churchill precede a música de abertura, "Aces High" (ensina o set list entregue à imprensa). Berros, palavrões. O público delira. As luzes se acendem, os senhores cabeludos tomam o palco, enquanto um energético Bruce Dickinson berra acompanhado por seus súditos, que conhecem cada refrão da canção. Desta e de todas as outras que se seguem.
Mal consigo respirar entre homens enormes com braços em riste. Meus pés dançam para não serem esmagados diante de tanta euforia corporal. Melhor que ouvir as piadinhas de Dickinson é pescar aqui e ali frases dos fãs extasiados, coisas como "Já posso morrer amanhã!" logo depois do clássico "The Number of the Beast".
Se estou longe de dizer o mesmo, confesso que a superprodução da apresentação, o fôlego dos velhinhos heavy metal e o fascínio do público me seduzem. Dickinson é um entertainer de primeira, e seu teatrinho funciona muito bem. Missão cumprida e, melhor, sem sofrimento.


ADRIANA PAVLOVA escreve sobre dança na Ilustrada. Seus gostos musicais incluem pop e erudito, mas o heavy metal é um corpo estranho.

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