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Dança vai ao metal
Fãs dizendo "Já posso morrer!" após hit são parte do show
ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A dica de um amigo acostumado com shows pesados foi prudente: "Vá
com roupa preta". Assim, vestida de preto e despida de preconceitos, parti para o Parque
Antártica, no domingo passado,
com a missão de ver a única
apresentação do Iron Maiden
na cidade. Só não seria o meu
primeiro show do gênero, porque, em 2001, no meio da salada musical do Rock in Rio 3, assisti ao sexteto inglês quase sem querer.
A quantidade absurda de
gente (sobretudo homens trintões e quarentões) de preto impressiona. Cabeludos, tatuados, em hordas pacíficas, lotando cada centímetro do estádio.
Uma chuva grossa cai de repente, mas não desanima ninguém.
Molhada, com o cabelo desgrenhadamente perfeito para a
ocasião, sigo para o meio da galera. As luzes se apagam.
Imagens de aviões da Segunda Guerra Mundial tomam os
telões enquanto um discurso
de Winston Churchill precede
a música de abertura, "Aces
High" (ensina o set list entregue à imprensa). Berros, palavrões. O público delira. As luzes
se acendem, os senhores cabeludos tomam o palco, enquanto
um energético Bruce Dickinson berra acompanhado por
seus súditos, que conhecem cada refrão da canção. Desta e de
todas as outras que se seguem.
Mal consigo respirar entre
homens enormes com braços
em riste. Meus pés dançam para não serem esmagados diante
de tanta euforia corporal. Melhor que ouvir as piadinhas de
Dickinson é pescar aqui e ali
frases dos fãs extasiados, coisas
como "Já posso morrer amanhã!" logo depois do clássico
"The Number of the Beast".
Se estou longe de dizer o
mesmo, confesso que a superprodução da apresentação, o
fôlego dos velhinhos heavy metal e o fascínio do público me
seduzem. Dickinson é um entertainer de primeira, e seu teatrinho funciona muito bem.
Missão cumprida e, melhor,
sem sofrimento.
ADRIANA PAVLOVA escreve sobre dança na
Ilustrada. Seus gostos musicais incluem pop e
erudito, mas o heavy metal é um corpo estranho.
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