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Mostra expõe dilemas pessoais de Charles Darwin
Exposição no Museu de História Natural de Londres celebra os 200 anos de nascimento do naturalista britânico
Entre os destaques, estão amostras coletadas pelo próprio cientista, cartas e anotações feitas durante expedição e pesquisas
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES
"Se você tivesse uma ideia
que escandalizaria a sociedade,
você a guardaria para si?".
Quem pergunta é um imenso
cartaz com um Charles Darwin
barbudo e envelhecido, fazendo sinal de silêncio com o dedo
indicador sobre os lábios.
É ele quem apresenta a exposição "Darwin - Big Idea", em
cartaz no Museu de História
Natural de Londres até o dia 19
de abril (www.nhm.ac.uk/darwin). Trata-se do principal
evento comemorativo do bicentenário do naturalista britânico, que nasceu em 12 de fevereiro de 1809. As celebrações
vão até novembro, quando o
clássico "A Origem das Espécies" (1859) completa 150 anos.
A mostra apoia-se no dilema
moral e religioso que o cientista
enfrentou antes de publicar sua
polêmica teoria, a de que homens, plantas e animais mudam para adaptar-se às condições do ambiente ao longo dos
tempos, por meio de um processo de seleção natural -hoje
reconhecida como a mais revolucionária explicação científica
sobre a evolução de seres vivos.
Vivendo numa sociedade
conservadora, Darwin temeu
por cerca de 20 anos divulgar
seu achado, pois este desafiaria
explicações religiosas sobre a
existência humana.
Criminoso?
"É como confessar um crime", resumiu o que sentia em
um de seus relatos. Muitos deles, em formato de cartas e anotações, estão dispostos no salão
principal da exposição. Chamam a atenção, principalmente, pelo detalhismo de suas observações e pelo rigor metodológico a que se impunha.
Além de elucubrações e certezas, eles revelam também
muitas dúvidas. Darwin se diz
várias vezes despreparado para
explicar certas coisas que via e
tinha o anseio de ser auxiliado e
iluminado por cientistas mais
experientes do que ele.
Uma das principais preocupações da mostra é deixar claro
que o processo de elaboração
da teoria da evolução foi muito
lento. A começar pelo mapa
que explica, momento a momento, a viagem do HMS Beagle, expedição de observação da
qual Darwin tomou parte e que,
por cinco anos, percorreu vários cantos do mundo.
O naturalista ainda era muito
jovem na ocasião da viagem
-tinha apenas 22 anos-, e, a
cada parada, foi fazendo descobertas. Entretanto, foi só depois de muito tempo, já tendo
ele voltado para a Inglaterra e
matutado muito entre as amostras trazidas, que os pedaços do
quebra-cabeças encaixaram-se
de forma definitiva.
Algumas dessas amostras, de
insetos e de ossos, integram a
exibição. Ao lado delas, um recurso interessante, réplicas que
o público pode tocar -sucesso
absoluto entre as crianças.
Vida pessoal
Durante a expedição, Darwin
tentou diminuir a longa distância da família e dos amigos por
meio de uma intensa correspondência. Entre as cartas expostas, está uma na qual lamenta que uma moça com
quem flertara tinha se casado.
Após o regresso, Darwin
uniu-se a uma prima (Emma
Wedgwood), mudou-se para
Kent e passou a ter uma vida
bastante caseira e familiar. Estudava intensamente e escrevia
num escritório acolhedor que
aparece reproduzido numa das
salas do museu londrino.
Além disso, sua atenção voltou-se também à frágil saúde de
seus dez filhos e dele mesmo. A
morte de Annie, uma das garotas, de apenas dez anos, deixou-o prostrado por muito tempo.
Para alguns biógrafos, a tragédia teria sido definitiva para
que Darwin deixasse de uma
vez de acreditar em Deus.
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