São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Mostra expõe dilemas pessoais de Charles Darwin

Exposição no Museu de História Natural de Londres celebra os 200 anos de nascimento do naturalista britânico

Entre os destaques, estão amostras coletadas pelo próprio cientista, cartas e anotações feitas durante expedição e pesquisas

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

"Se você tivesse uma ideia que escandalizaria a sociedade, você a guardaria para si?". Quem pergunta é um imenso cartaz com um Charles Darwin barbudo e envelhecido, fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador sobre os lábios.
É ele quem apresenta a exposição "Darwin - Big Idea", em cartaz no Museu de História Natural de Londres até o dia 19 de abril (www.nhm.ac.uk/darwin). Trata-se do principal evento comemorativo do bicentenário do naturalista britânico, que nasceu em 12 de fevereiro de 1809. As celebrações vão até novembro, quando o clássico "A Origem das Espécies" (1859) completa 150 anos.
A mostra apoia-se no dilema moral e religioso que o cientista enfrentou antes de publicar sua polêmica teoria, a de que homens, plantas e animais mudam para adaptar-se às condições do ambiente ao longo dos tempos, por meio de um processo de seleção natural -hoje reconhecida como a mais revolucionária explicação científica sobre a evolução de seres vivos.
Vivendo numa sociedade conservadora, Darwin temeu por cerca de 20 anos divulgar seu achado, pois este desafiaria explicações religiosas sobre a existência humana.

Criminoso?
"É como confessar um crime", resumiu o que sentia em um de seus relatos. Muitos deles, em formato de cartas e anotações, estão dispostos no salão principal da exposição. Chamam a atenção, principalmente, pelo detalhismo de suas observações e pelo rigor metodológico a que se impunha.
Além de elucubrações e certezas, eles revelam também muitas dúvidas. Darwin se diz várias vezes despreparado para explicar certas coisas que via e tinha o anseio de ser auxiliado e iluminado por cientistas mais experientes do que ele.
Uma das principais preocupações da mostra é deixar claro que o processo de elaboração da teoria da evolução foi muito lento. A começar pelo mapa que explica, momento a momento, a viagem do HMS Beagle, expedição de observação da qual Darwin tomou parte e que, por cinco anos, percorreu vários cantos do mundo.
O naturalista ainda era muito jovem na ocasião da viagem -tinha apenas 22 anos-, e, a cada parada, foi fazendo descobertas. Entretanto, foi só depois de muito tempo, já tendo ele voltado para a Inglaterra e matutado muito entre as amostras trazidas, que os pedaços do quebra-cabeças encaixaram-se de forma definitiva.
Algumas dessas amostras, de insetos e de ossos, integram a exibição. Ao lado delas, um recurso interessante, réplicas que o público pode tocar -sucesso absoluto entre as crianças.

Vida pessoal
Durante a expedição, Darwin tentou diminuir a longa distância da família e dos amigos por meio de uma intensa correspondência. Entre as cartas expostas, está uma na qual lamenta que uma moça com quem flertara tinha se casado.
Após o regresso, Darwin uniu-se a uma prima (Emma Wedgwood), mudou-se para Kent e passou a ter uma vida bastante caseira e familiar. Estudava intensamente e escrevia num escritório acolhedor que aparece reproduzido numa das salas do museu londrino.
Além disso, sua atenção voltou-se também à frágil saúde de seus dez filhos e dele mesmo. A morte de Annie, uma das garotas, de apenas dez anos, deixou-o prostrado por muito tempo. Para alguns biógrafos, a tragédia teria sido definitiva para que Darwin deixasse de uma vez de acreditar em Deus.


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