|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO ELETRÔNICO
Brasileiro que trabalho nos EUA monta peças do dramaturgo irlandês utilizando a informática
Matemático põe Beckett no computador
LUÍS PEREZ
da Redação
Imagine uma peça de teatro em
que atores humanos contracenam
com computadores -ou com
"atores computacionais". Ou em
que computadores sejam usados
para enriquecer a capacidade de
expressão -por meio de sensores
no figurino, que controlem efeitos
sonoros, música, ou luzes.
Não precisa mais imaginar. Isso
já é realidade no MIT (Massachusetts Institute of Technology) Media Laboratory, pelas mãos de um
brasileiro -Claudio Pinhanez, 34,
que atualmente está finalizando o
doutorado no laboratório.
Formado em matemática e computação pela USP, onde lecionou
no Departamento de Ciência da
Computação por sete anos antes
de ir para o MIT, inclui em seu
currículo experiências no grupo
de teatro Ivamba.
Não é um aventureiro na área
cultural. Seu pai é o cineasta Roberto Santos.
No MIT, desenvolve projetos baseados em peças do dramaturgo
irlandês Samuel Beckett
(1906-1989). A idéia, para ele, não
é criar peças totalmente virtuais.
Mas, com o uso da Internet, pretende fazer com que espectadores
cheguem a controlar os atores
computacionais. Leia, a seguir,
trechos da entrevista que Pinhanez concedeu à Folha.
Folha - Seu projeto é realmente
uma peça de teatro eletrônica?
Claudio Pinhanez - "Teatro eletrônico" se refere a performances
que envolvam computadores em
peças como um elemento ativo na
criação artística. É o equivalente
teatral de música eletrônica.
Computadores podem ser usados para enriquecer o corpo e a capacidade de expressão do ator ou
para controlar o palco e o cenário
de forma ativa.
Meu interesse se concentra na
construção do que eu chamo "atores computacionais". A idéia é
construir um sistema computacional dotado de câmeras, sintetizadores e recursos gráficos que seja
capaz de interagir com atores como se fosse outro ator vivendo
uma personagem.
O que me fascina é que, com atores computacionais, é possível
criar personagens não-humanas
em teatro, mas que contracenam
com os atores humanos.
Folha - Que peças você já fez utilizando essa tecnologia?
Pinhanez - No ano passado, fiz
"It/I". Essa peça foi escrita como
uma pantomima para um ator humano ("I") e um ator computacional ("It") para ser apresentada em
um palco de teatro computadorizado em frente a uma platéia.
O texto examina, em tom de comédia, as relações entre seres humanos e tecnologia. Particularmente significativo é o fato de que
um ator completamente não-humano, o computador, representa
o papel simbólico da tecnologia.
"It/I" foi inspirado em três peças
de Samuel Beckett: "Esperando
Godot", "Ato Sem Palavras 1", e
"Trio Fantasma". Durante e após a
performance, o publico é convidado a subir ao palco e viver a experiencia de ser "I" ("eu", em inglês)
de dentro do universo da peça.
Folha - Como, exatamente, as
pessoas contracenam com o computador? Em que é utilizada a tecnologia da Internet?
Pinhanez - O computador projeta imagens de objetos, controlados pelas mãos invisíveis da personagem "It", que brincam e provocam "I". Ao mesmo tempo, o computador controla um sintetizador
eletrônico e a iluminação, envolvendo o ator em um ambiente sufocante, opressivo.
Folha - A peça é apresentada em
um palco convencional?
Pinhanez - "It/I" foi montada
pela primeira vez em novembro de
97, na Phillipe Villers Experimental Media Facility do MIT Media
Laboratory. Um palco convencional foi montado no espaço e cadeiras colocadas para a platéia. Seis
performances foram realizadas.
Usamos para a montagem três
câmeras de vídeo, um sintetizador
Korg, dois projetores de vídeo
LCD iluminando duas telas gigantes em retroprojeção e uma mesa
de luz controlada pelo sistema Midi. Quatro computadores controlavam esses aparelhos, estações de
trabalho fabricadas pela Silicon
Graphics.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|