São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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TEATRO ELETRÔNICO
Brasileiro que trabalho nos EUA monta peças do dramaturgo irlandês utilizando a informática
Matemático põe Beckett no computador

LUÍS PEREZ
da Redação

Imagine uma peça de teatro em que atores humanos contracenam com computadores -ou com "atores computacionais". Ou em que computadores sejam usados para enriquecer a capacidade de expressão -por meio de sensores no figurino, que controlem efeitos sonoros, música, ou luzes.
Não precisa mais imaginar. Isso já é realidade no MIT (Massachusetts Institute of Technology) Media Laboratory, pelas mãos de um brasileiro -Claudio Pinhanez, 34, que atualmente está finalizando o doutorado no laboratório.
Formado em matemática e computação pela USP, onde lecionou no Departamento de Ciência da Computação por sete anos antes de ir para o MIT, inclui em seu currículo experiências no grupo de teatro Ivamba.
Não é um aventureiro na área cultural. Seu pai é o cineasta Roberto Santos.
No MIT, desenvolve projetos baseados em peças do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989). A idéia, para ele, não é criar peças totalmente virtuais.
Mas, com o uso da Internet, pretende fazer com que espectadores cheguem a controlar os atores computacionais. Leia, a seguir, trechos da entrevista que Pinhanez concedeu à Folha.

Folha - Seu projeto é realmente uma peça de teatro eletrônica?
Claudio Pinhanez -
"Teatro eletrônico" se refere a performances que envolvam computadores em peças como um elemento ativo na criação artística. É o equivalente teatral de música eletrônica.
Computadores podem ser usados para enriquecer o corpo e a capacidade de expressão do ator ou para controlar o palco e o cenário de forma ativa.
Meu interesse se concentra na construção do que eu chamo "atores computacionais". A idéia é construir um sistema computacional dotado de câmeras, sintetizadores e recursos gráficos que seja capaz de interagir com atores como se fosse outro ator vivendo uma personagem.
O que me fascina é que, com atores computacionais, é possível criar personagens não-humanas em teatro, mas que contracenam com os atores humanos.
Folha - Que peças você já fez utilizando essa tecnologia?
Pinhanez -
No ano passado, fiz "It/I". Essa peça foi escrita como uma pantomima para um ator humano ("I") e um ator computacional ("It") para ser apresentada em um palco de teatro computadorizado em frente a uma platéia.
O texto examina, em tom de comédia, as relações entre seres humanos e tecnologia. Particularmente significativo é o fato de que um ator completamente não-humano, o computador, representa o papel simbólico da tecnologia.
"It/I" foi inspirado em três peças de Samuel Beckett: "Esperando Godot", "Ato Sem Palavras 1", e "Trio Fantasma". Durante e após a performance, o publico é convidado a subir ao palco e viver a experiencia de ser "I" ("eu", em inglês) de dentro do universo da peça.
Folha - Como, exatamente, as pessoas contracenam com o computador? Em que é utilizada a tecnologia da Internet?
Pinhanez -
O computador projeta imagens de objetos, controlados pelas mãos invisíveis da personagem "It", que brincam e provocam "I". Ao mesmo tempo, o computador controla um sintetizador eletrônico e a iluminação, envolvendo o ator em um ambiente sufocante, opressivo.
Folha - A peça é apresentada em um palco convencional?
Pinhanez -
"It/I" foi montada pela primeira vez em novembro de 97, na Phillipe Villers Experimental Media Facility do MIT Media Laboratory. Um palco convencional foi montado no espaço e cadeiras colocadas para a platéia. Seis performances foram realizadas.
Usamos para a montagem três câmeras de vídeo, um sintetizador Korg, dois projetores de vídeo LCD iluminando duas telas gigantes em retroprojeção e uma mesa de luz controlada pelo sistema Midi. Quatro computadores controlavam esses aparelhos, estações de trabalho fabricadas pela Silicon Graphics.



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