São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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"MAR DE FOGO"

Ator, que ficou conhecido como o Aragorn de "O Senhor dos Anéis", protagoniza longa de ação que estréia hoje

Mortensen cavalga entre tradição e lenda

DO "INDEPENDENT"

A essa altura, é possível presumir com segurança que a maioria das pessoas saiba quem é Viggo Mortensen. Alguns anos atrás, sua identidade teria de ser explicada, já que era conhecido apenas por atuar em alguns filmes independentes, como o amante de Gwyneth Paltrow em "The Perfect Murder" [O Assassinato Perfeito], um dos candidatos à mão de Nicole Kidman em "Retrato de uma Mulher" e como John Gavin no "Psicose" de Gus van Sant.
Agora, ele é famoso como Aragorn, de "O Senhor dos Anéis", o rei que retorna ao seu trono.
Mas as vidas e as carreiras têm de ir em frente, e Mortensen, 45, volta à estrada em "Mar de Fogo", de Joe Johnson ("Jurassic Park 3"). "Mar de Fogo" é um filme de ação à maneira antiga, passado em 1890, e seu herói é uma figura histórica real, Frank T. Hopkins, interpretado por Mortensen.
Hopkins escreveu sobre suas aventuras muito variadas, como um carteiro a cavalo no Oeste dos Estados Unidos, testemunha da batalha de Wounded Knee entre o Exército americano e os sioux, ator no circo itinerante de Buffalo Bill e participante da corrida de cavalo conhecida como Mar de Fogo, através do deserto da Arábia, na qual levou seu cavalo Hidalgo à vitória, derrotando os puros-sangues árabes rivais.
A corrida é a peça central do filme. O problema é que existe uma certa controvérsia quanto à participação de Hopkins em todos esses acontecimentos, vista por muitos como fruto de sua imaginação. "Mar de Fogo" não exige que Mortensen recite diálogos de qualidade shakespeariana, ou que demonstre muita emoção, mas lhe dá a chance de fazer algumas das coisas que faz bem, como mostrar sua capacidade para línguas falando um pouco em idioma indígena americano (ele é supostamente fluente em dinamarquês e espanhol), exibir a aparência máscula e bem talhada e cavalgar esplendidamente.
"Gosto de cavalos", diz Mortensen, que aparentemente adquiriu o cavalo usado para as imagens em close-up de Hidalgo, sua montaria no filme.
Mortensen se mostra defensivo desde o começo sobre as diversas formas de ataque que o filme vem sofrendo. Aparentemente, os historiadores não têm registro escrito da corrida Mar de Fogo, excetuados os diários de Hopkins.
Além disso, os criadores de cavalos árabes se irritaram com a sugestão de que um cavalo nativo norte-americano seria capaz de vencer um puro-sangue árabe em corrida. Assim, pelos próximos 15 minutos, de uma maneira que não difere muito do comportamento de Aragorn na batalha de Helms Deep, Mortensen batalha contra essas acusações, em uma diatribe de ferocidade impressionante. "As pessoas começaram com isso, escrevendo contra o filme sem nem sequer assisti-lo. Diziam que era propaganda pró-Bush, que era anti-islâmico. Houve artigos sobre o assunto em países árabes. E há um par de pessoas, que acho que são norte-americanas, do Kentucky, me parece -não importa que sejam ou não sejam americanos-, que não pensaram nos motivos para suas ações e alegam ter pesquisado bastante, mas nem mencionam os lugares e as pessoas que me ensinaram mais sobre essa história."
"A fonte mais importante de material é a tradição oral, particularmente nas reservas indígenas americanas. Por gerações, vêm-se contando histórias, especialmente sobre Hopkins e seu cavalo, Hidalgo, e sobre a corrida."
Mortensen se estende sobre o assunto. E talvez nem seja relevante que Hopkins tenha mesmo feito as coisas que alega. "Sim, mas para os lakota, para aqueles que conhecem a tradição oral, ele é um deles, o cavalo é um deles", diz o ator, com veemência. "E que as pessoas tentem desacreditar Hopkins constitui, acredito, uma afronta a eles."


Tradução Paulo Migliacci


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