São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

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ROMANCE/"FORTALEZA DIGITAL"

Brown cria laboratório de obras seguintes

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um código aparentemente indecifrável que põe em risco o serviço de inteligência americano, uma linda especialista em criptografia da NSA (agência de segurança nacional dos EUA), um professor transformado em detetive e um obstinado assassino são os componentes de "Fortaleza Digital", primeiro romance de Dan Brown, lançado agora no Brasil na esteira do sucesso de "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios". Parece familiar?
Não é muito arriscado assumir que os leitores deste livro vão procurar nele semelhanças com os outros do autor. Eles não se decepcionarão muito. Fica bem claro que foi nesta primeira obra que Brown determinou as estratégias narrativas que utilizaria em seguida, como capítulos curtos e alternância constante na aparição de personagens, comentários do narrador sobre o que virá depois ou informações supostamente aprofundadas a respeito de algum conhecimento "misterioso".
Isso provoca um efeito curioso. Quem lê "Fortaleza Digital" depois de enfrentar as duas aventuras de Robert Langdon, o professor de simbologia de Harvard, não consegue evitar uma sensação permanente de déjà vu. Como as tais estratégias são tediosamente as mesmas, fica muito fácil antecipar o que vai acontecer.
Assim, com as surpresas do enredo diluídas e com um herói motivado por razões tão estapafúrdias que é impossível não lembrar do ainda mais estapafúrdio pulo de helicóptero ao final de "Anjos e Demônios", não chega a ser difícil adivinhar que este livro serviu apenas de "laboratório". Ou seja, lê-lo equivale a assistir a um treino de um time de futebol para o jogo do final de semana.
Já que se discute aqui um autor tão afeito a segredos e enigmas, não deixa de ser tentador supor que, um dia, um desses professores-investigadores ficcionais admiráveis dos quais ele parece gostar tanto vá se encarregar de descobrir por que, apesar disso, tanta gente aceite "consumi-lo".
Enquanto isso não acontece, vale lembrar, para quem gosta de criptografia, que um clássico na área é o fabuloso conto "O Escaravelho de Ouro", de Edgar Allan Poe, e que um bom apanhado sobre o tema é "O Livro dos Códigos", de Simon Singh. Se quiser se aprofundar, talvez seja o caso de dar uma lida em "The Cryptographic Imagination", de Shawn James Rosenheim.


Adriano Schwartz é professor de arte, literatura e cultura no Brasil da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste e autor de "O Abismo Invertido" (editora Globo).

Fortaleza Digital
 
Autor: Dan Brown
Tradução: Carlos Irineu da Costa
Editora: Sextante
Quanto: R$ 29,90 (336 págs.)


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