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ROMANCE/"FORTALEZA DIGITAL"
Brown cria laboratório de obras seguintes
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um código aparentemente indecifrável que põe em risco o serviço de inteligência americano,
uma linda especialista em criptografia da NSA (agência de segurança nacional dos EUA), um
professor transformado em detetive e um obstinado assassino são
os componentes de "Fortaleza Digital", primeiro romance de Dan
Brown, lançado agora no Brasil
na esteira do sucesso de "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios". Parece familiar?
Não é muito arriscado assumir
que os leitores deste livro vão procurar nele semelhanças com os
outros do autor. Eles não se decepcionarão muito. Fica bem claro que foi nesta primeira obra que
Brown determinou as estratégias
narrativas que utilizaria em seguida, como capítulos curtos e alternância constante na aparição de
personagens, comentários do
narrador sobre o que virá depois
ou informações supostamente
aprofundadas a respeito de algum
conhecimento "misterioso".
Isso provoca um efeito curioso.
Quem lê "Fortaleza Digital" depois de enfrentar as duas aventuras de Robert Langdon, o professor de simbologia de Harvard,
não consegue evitar uma sensação permanente de déjà vu. Como
as tais estratégias são tediosamente as mesmas, fica muito fácil antecipar o que vai acontecer.
Assim, com as surpresas do
enredo diluídas e com um herói
motivado por razões tão estapafúrdias que é impossível não lembrar do ainda mais estapafúrdio
pulo de helicóptero ao final de
"Anjos e Demônios", não chega a
ser difícil adivinhar que este livro
serviu apenas de "laboratório".
Ou seja, lê-lo equivale a assistir a
um treino de um time de futebol
para o jogo do final de semana.
Já que se discute aqui um autor
tão afeito a segredos e enigmas,
não deixa de ser tentador supor
que, um dia, um desses professores-investigadores ficcionais admiráveis dos quais ele parece gostar tanto vá se encarregar de descobrir por que, apesar disso, tanta
gente aceite "consumi-lo".
Enquanto isso não acontece, vale lembrar, para quem gosta de
criptografia, que um clássico na
área é o fabuloso conto "O Escaravelho de Ouro", de Edgar Allan
Poe, e que um bom apanhado sobre o tema é "O Livro dos Códigos", de Simon Singh. Se quiser se
aprofundar, talvez seja o caso de
dar uma lida em "The Cryptographic Imagination", de Shawn James Rosenheim.
Adriano Schwartz é professor de arte,
literatura e cultura no Brasil da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste e autor de "O Abismo Invertido"
(editora Globo).
Fortaleza Digital
Autor: Dan Brown
Tradução: Carlos Irineu da Costa
Editora: Sextante
Quanto: R$ 29,90 (336 págs.)
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