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TEATRO
Sandro Borelli estréia hoje no Centro Cultural São Paulo a versão do espetáculo do americano Martin Sherman
Coreógrafo cria versão em dança para "Bent"
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Em 1981, o diretor teatral Roberto Vignati produziu em Santo André a peça "Bent", do norte-americano Martin Sherman.
Na platéia, um jovem de 19 anos,
que mais tarde se destacaria como
bailarino do Balé da Cidade de São
Paulo, se impressionou com a
pungência da encenação e do tema, sobre a opressão nazista aos
homossexuais.
Quase duas décadas depois, Sandro Borelli, o bailarino paulista
que conheceu a obra de Sherman
pela montagem de Vignati, torna-se o primeiro coreógrafo a criar
uma versão em dança para o espetáculo "Bent".
A partir de hoje, no porão do
Centro Cultural São Paulo, Borelli
apresenta "Bent - O Canto Preso",
depois de estreá-la com sucesso no
Festival de Teatro de Curitiba, mês
passado.
Na carreira de Borelli, "Bent" assinala um avanço expressivo. Autor independente que tanto cria
para si mesmo quanto para companhias como o Balé da Cidade de
São Paulo, ele vem perseguindo há
alguns anos uma identidade estética que agora se torna mais nítida e
consistente.
Produzindo com perseverança e
constância, Borelli pode não agradar maiorias. Sua preferência por
temas que enfocam repressão e
perversões sexuais recaiu algumas
vezes em literalismos rasos.
"Visceralidade"
Em "Bent", no entanto, o coreógrafo mostra que sua temática recorrente ganhou um depuramento, como se ele finalmente tivesse
tomado posse do idioma que vem
tentando construir.
Conduzindo-se menos pelo intelecto e mais por uma "visceralidade" sempre vinculada ao erotismo,
Borelli faz de "Bent" a obra mais
bem resolvida de seu repertório
que, embora de difícil digestão,
apresenta qualidades inegáveis
que merecem atenção.
Ao som de uma esplêndida trilha
sonora, de autoria de Sérgio Zurawski, "Bent" procura trazer a dupla de homossexuais que protagoniza o espetáculo, para uma dimensão atual.
Alternando violência e fragilidade, os dois personagens -solitários no texto original- ganham,
na versão de Borelli, a presença,
em cena, de duas mulheres.
Fluxo fértil
Na maior parte do tempo, as mulheres permanecem no fundo do
palco, servindo de contraponto à
dupla masculina central.
Coreograficamente, Borelli acertou em cheio no ponto ao criar um
fluxo coreográfico fértil e incessante para as mulheres e uma movimentação minimalista para os
homens.
Prisioneiros de uma rotina interminável e castradora, eles permanecem durante longo tempo num
mesmo espaço cênico, simulando
uma corrida que não leva a lugar
nenhum.
A essa movimentação básica, Borelli consegue imprimir uma dramaticidade e um despojamento
que sustentam a totalidade do espetáculo.
Interpretando o papel principal
ao lado de Ricardo Freire, o coreógrafo coloca sua apurada técnica
física a favor de um personagem
construído com densidade singular.
Coeso e bem alicerçado, o "Bent"
de Borelli certamente acrescenta
uma versão expressiva às inúmeras produção já recebidas pela
obra de Sherman.
Espetáculo: Bent - O Canto Preso
Autor: Sandro Borelli
Quando: de hoje a 2 de maio; quinta a
sábado, às 21h30, e domingo, às 20h30)
Onde: Espaço Ademar Guerra - Centro
Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel.
011/277-3611, São Paulo, SP)
Quanto: R$ 12
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