São Paulo, Sexta-feira, 09 de Abril de 1999
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Sherman assiste à estréia

CLÁUDIA GURFINKEL
free-lance para a Folha

O dramaturgo norte-americano Martin Sherman, conhecido pela peça "Bent", que retrata o romance de dois homossexuais na Alemanha nazista, está no Brasil. Ele veio para assistir à estréia de "Bent - O Canto Preso", de Sandro Borelli, primeira versão coreografada de seu texto.
Sherman escreveu a história em 1979. "O mundo não sabia o que havia acontecido durante a guerra com os homossexuais", diz o dramaturgo. "E eu, que sou judeu e homossexual, também não sabia muito sobre o assunto." Segundo Sherman, o fato de as pessoas saberem como o Terceiro Reich tratou os judeus, ciganos e presos políticos, mas quase nada sobre o tratamento dado aos homossexuais, o irritava.
"Bent" levou dois meses para ser escrita. Mas, antes de sentar e escrever, Sherman pesquisou muito sobre o tema. "Foi difícil, não encontrei muita coisa escrita, nenhum livro inteiro. Só uma linha em um livro, um parágrafo em outro."
"Bent", uma velha gíria inglesa usada para designar homossexuais, mostra como eles eram tratados de forma cruel, não só pelos guardas dos campos de concentração, mas também pelos próprios companheiros. O preconceito existia fora e dentro dos campos.
A peça, que já foi encenada em 38 países, traz a história de Max, um personagem que perde o amante e é enviado a um campo de concentração. Perseguido pela prática homossexual, Max assume a condição de judeu com o propósito de aliviar o tratamento imposto pelos nazistas. Na prisão, ele conhece Horst, um homossexual assumido, de quem se torna amante.
Sherman conheceu Borelli em 1997. "Assim que resolvemos, eu e a diretora Sônia Soares, fazer a versão coreografada da peça, ficamos atrás dele em Londres, mas era muito difícil encontrá-lo", afirma Sandro Borelli.
Na época estava tendo, em São Paulo, o 5º Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual, um festival de cinema alternativo. E Sherman era um dos convidados especiais. "Quando o Sandro e a Sônia pediram para fazer a peça em forma de dança, deixei, mesmo sem ter visto o trabalho deles: foi instinto e acreditei nele", diz Sherman.
O dramaturgo, que ainda não assistiu ao espetáculo, irá se surpreender, assim como o público, com a ambientação criada na entrada do porão do Centro Cultural São Paulo, onde a coreografia será apresentada.
O corredor de entrada é escuro, com roupas e paletós pendurados e sapatos jogados, como se todos que passam por lá tivessem a sensação de estar deixando suas roupas e seguindo para a câmara de gás.
"O interessante do tema é a oportunidade de falar sobre o triângulo rosa, marca usada pelos homossexuais nos campos de concentração", diz Borelli. "Normalmente, só a estrela-de-davi é conhecida."
A próxima peça de Sherman, "Rose", deve estrear em maio no National Theatre. O monólogo conta a vida de uma mulher judia de 80 anos.


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