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Sherman assiste à estréia
CLÁUDIA GURFINKEL
free-lance para a Folha
O dramaturgo norte-americano Martin Sherman, conhecido pela peça "Bent", que retrata o romance de dois homossexuais na Alemanha nazista, está no Brasil. Ele veio para assistir à estréia de "Bent - O
Canto Preso", de Sandro Borelli, primeira versão coreografada de seu texto.
Sherman escreveu a história
em 1979. "O mundo não sabia o
que havia acontecido durante a
guerra com os homossexuais",
diz o dramaturgo. "E eu, que
sou judeu e homossexual, também não sabia muito sobre o
assunto." Segundo Sherman, o
fato de as pessoas saberem como o Terceiro Reich tratou os
judeus, ciganos e presos políticos, mas quase nada sobre o
tratamento dado aos homossexuais, o irritava.
"Bent" levou dois meses para
ser escrita. Mas, antes de sentar
e escrever, Sherman pesquisou
muito sobre o tema. "Foi difícil,
não encontrei muita coisa escrita, nenhum livro inteiro. Só
uma linha em um livro, um parágrafo em outro."
"Bent", uma velha gíria inglesa usada para designar homossexuais, mostra como eles
eram tratados de forma cruel,
não só pelos guardas dos campos de concentração, mas também pelos próprios companheiros. O preconceito existia
fora e dentro dos campos.
A peça, que já foi encenada
em 38 países, traz a história de
Max, um personagem que perde o amante e é enviado a um
campo de concentração. Perseguido pela prática homossexual, Max assume a condição
de judeu com o propósito de
aliviar o tratamento imposto
pelos nazistas. Na prisão, ele
conhece Horst, um homossexual assumido, de quem se torna amante.
Sherman conheceu Borelli
em 1997. "Assim que resolvemos, eu e a diretora Sônia Soares, fazer a versão coreografada
da peça, ficamos atrás dele em
Londres, mas era muito difícil
encontrá-lo", afirma Sandro
Borelli.
Na época estava tendo, em
São Paulo, o 5º Festival Mix
Brasil da Diversidade Sexual,
um festival de cinema alternativo. E Sherman era um dos convidados especiais. "Quando o
Sandro e a Sônia pediram para
fazer a peça em forma de dança, deixei, mesmo sem ter visto
o trabalho deles: foi instinto e
acreditei nele", diz Sherman.
O dramaturgo, que ainda não
assistiu ao espetáculo, irá se
surpreender, assim como o público, com a ambientação criada na entrada do porão do Centro Cultural São Paulo, onde a
coreografia será apresentada.
O corredor de entrada é escuro, com roupas e paletós pendurados e sapatos jogados, como se todos que passam por lá
tivessem a sensação de estar
deixando suas roupas e seguindo para a câmara de gás.
"O interessante do tema é a
oportunidade de falar sobre o
triângulo rosa, marca usada
pelos homossexuais nos campos de concentração", diz Borelli. "Normalmente, só a estrela-de-davi é conhecida."
A próxima peça de Sherman,
"Rose", deve estrear em maio
no National Theatre. O monólogo conta a vida de uma mulher judia de 80 anos.
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