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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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DJs, VJs e produtores politizam "a balada burra" e promovem o engajamento nas festas

Eletrônica vai à luta

Divulgação
Imagem do coletivo de VJs Bijari, que começou sua trajetória em um ateliê de ex-alunos da USP


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nasce uma classe na sociedade eletrônica. Sem carteira assinada, mas com muitas horas de trabalho no currículo, grupos de DJs, VJs e produtores vêm combatendo a chamada "balada burra", ou em outras palavras, festas de música eletrônica sem espírito de contestação, de engajamento.
Em algumas festas novas de São Paulo, onde há o cruzamento das diferentes figuras que fazem a noite, como a paulistana Temp -que não tem lugar nem data fixa para acontecer-, tais compromissos chegam até a política.
Mas não é só de críticas a guerras, Bush e Bin Laden que vivem esses profissionais. Há também um outro tipo de filosofia, que sugere o questionamento da sociedade e de seus símbolos, como a adotada pelos coletivos paulistas de VJs Embolex e Bijari.
"O público está cansado do formato tradicional das festas eletrônicas, que são previsíveis: você já sai de casa sabendo qual DJ vai encontrar, qual público vai estar. É o tipo de balada que não acrescenta nada", diz Oswaldo Santana, do Embolex.
O "combate" ganha mais fôlego com o trabalho dos VJs que, através de imagens projetadas durante as discotecagens dos DJs, fazem referências a temas como o complexo do Carandiru, os ataques ao World Trade Center ou a situação das favelas.
Nesse espírito, o Embolex, por exemplo, criou a festa "Whiteout", que acontece todas as sextas no clube Hole (r. Augusta, 2.203, SP, informações no embolex@terra.com.br). Nela, o grupo de VJs desfila suas propostas enquanto os DJs tocam breakbeat, tecno e electro. Santana também cita o trabalho de MCs, performances de atores e videoartistas como formas alternativas de levar informações aos frequentadores da vida noturna. "Não temos uma filiação política tão clara, a idéia é fazer as pessoas pensarem", diz Santanta.
Mais partidária é a itinerante Temp, que integra uma rede internacional de festas que celebram a contracultura. "Temos uma filosofia de lutar contra injustiças sociais", diz Daniel Gonzales, 23, um dos organizadores.
Ele explica que a Temp tem um "braço performático" chamado Radioatividade, responsável por ações diretas. "É como o teatro político do Greenpeace, responsável por ações que tentam surpreender e minar o caráter previsível dos espetáculos."
Com ação que extrapola as pistas de dança, os integrantes da Temp levantam bandeiras como o apoio ao Fome Zero e já participaram de passeatas, como um protesto à guerra no Iraque.
A tática tem sido também aperfeiçoada na Inglaterra, desde a década de 90, pelo grupo Reclaim the Streets (reclame a rua), um dos pioneiros na ocupação e transformação dos locais públicos em campos de balada.
O VJ Spetto, que foi responsável pelas projeções da tenda Movement no mais recente Skol Beats, recombina imagens para gerar novos significados. "Meu trabalho tem uma posição política bem clara, costumo falar sobre classes sociais desfavorecidas, procuro mostrar quem é quem na política internacional", diz.
O público capta a mensagem? "Na pista de dança, as pessoas vão para se divertir. Mas, quando elas saem, as imagens ficam registradas em suas cabeças. Mais tarde, acaba gerando um debate."


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