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Trabalhos de VJs brasileiros consolidam-se em festas com temáticas politicamente engajadas
Visões coletivas
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até ontem ninguém tinha ouvido falar em VJ. Foram alguns
eventos como o Red Bull Academy, o festival Eletronika e o
Hype darem espaço para os ditos,
que a história mudou.
"Pela primeira vez conseguimos
um camarote, no Sesc", comemora Giuliano Scandiuzzi, integrante
do grupo Bijari, responsável pelas
projeções do festival Hype, que
acontece até amanhã em SP.
Um dos pioneiros da cena VJ
paulistana, o grupo tem dividido
os mixers com outros nomes como Embolex e Spetto, convidados
pelo grupo para participar do festival. As parcerias, cada vez mais
comuns, só se tornaram possíveis
com o desenvolvimento das ferramentas de manipulação de imagens, não raro desenvolvidas pelos próprios artistas.
"Meu trabalho tem esse viés político desde a ferramenta que utilizo para gerar as animações até o
conteúdo delas", diz o VJ Spetto,
que criou seu próprio software de
geração de imagens, o VRStudio.
Uma das premissas do aplicativo
é justamente a cessão de direitos
autorais, uma vez que pode ser
baixado gratuitamente na internet e modificado pelo usuário.
Também criador de seus próprios programas de manipulação
de imagem, o grupo multiétnico
242.pilots, sediado em Nova
York, parece ter alcançado o reconhecimento merecido: sua performance, que reúne três VJs manipulando imagens ao mesmo
tempo, foi premiada na edição
deste ano do festival multimídia
Transmediale, na Alemanha.
"Até agora, o vídeo nas danceterias era encarado apenas como
decoração, como um papel de parede animado a que você não
prestava muita atenção. Nós acreditamos que deve ser mais do que
isso, assim tocamos em pequenas
apresentações, galerias de arte ou
museus, geralmente para um público sentado", conta o americano
Kurt Ralske, do 242.pilots.
Ao contrário das festas no Brasil
e na Europa, onde a politização
aumenta com o crescimento dos
eventos antiglobalização, Ralske
lamenta a falta de conscientização
na eletrônica norte-americana.
"Todo o grupo tem fortes convicções políticas, mas não as mostramos de forma óbvia durante as
projeções", diz o VJ. "Se houvesse
uma cena por aqui, certamente
estaríamos envolvidos."
A crescente movimentação em
torno de uma música eletrônica
mais engajada é reflexo de uma
superexposição e quase banalização do estilo, afirmam alguns dos
principais VJs e produtores.
Para o VJ Spetto, essa nova postura configura-se como uma espécie de volta aos princípios originais da eletrônica no Brasil, no
meio dos anos 90.
"Quando as primeiras raves começaram a acontecer no Brasil,
havia um espírito de contracultura: elas aconteciam longe da cidade, era muito difícil chegar e apenas determinadas pessoas participavam", diz Spetto.
"Além de cair no gosto nosso,
esse lance underground fica próximo do antipop, de estar fora do
eixo das gravadoras. A gente é que
faz a balada acontecer", afirma o
VJ Flávio, do Bijari.
O caminho natural é conhecido
por qualquer uma das 43 mil pessoas que estiveram no mais recente Skol Beats: patrocínio de uma
grande corporação e culto ao artista (DJ), justamente o que a eletrônica propunha como diferencial de outros estilos.
"Essa movimentação que acontece agora é uma volta aos princípios básicos da eletrônica", diz
Daniel Gonzales, do núcleo da
festa Temp. "As pistas se tornaram, em sua maioria, simples
playgrounds, espaço para diversão e alienação."
O trabalho do VJ Spetto serve
como demonstração dessa produção engajada. Em suas projeções, o VJ alterna imagens do presidente norte-americano, George
W. Bush, com o vilão da série
"Star Wars", Darth Vader. Em
outras, aparecem o guerrilheiro
Che Guevara (1928-67) vestido
como palestino ou o terrorista
Osama bin Laden e o presidente
da ANP (Autoridade Nacional
Palestina), Iasser Arafat. "Tento
mostrar que não há bonzinho
nem vilão nessa história."
(BRUNO YUTAKA SAITO E DIEGO ASSIS)
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