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Atores veteranos travam batalha verbal no palco
Peça "O Manifesto" começa temporada em São Paulo explorando crise conjugal
Texto do britânico Brian Clark ganha versão de Flávio Marinho e é atualizado, com críticas ao Reino Unido e aos EUA na invasão ao Iraque
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Uma manhã típica dos 50
anos de convivência. Em meio
ao café, o general-de-brigada
aposentado lê o jornal antes de
sair para jogar cartas com os
amigos no clube. Bufa, faz blague do noticiário político do
país, a Inglaterra. Ao lado, sua
mulher, uma dama, também
abre um jornal, mas de linha
editorial mais progressista.
São indícios da precipitação
que estremecerá o casamento
nas próximas horas de conversa. Ou de "combate", como ilustra o ator Othon Bastos. Ele
contracena com Eva Wilma em
"O Manifesto", peça de Brian
Clark, autor inglês contemporâneo. Com tradução e direção
de Flávio Marinho, tem pré-estréia na sexta em São Paulo, no
teatro Renaissance.
Vinte anos atrás, houve uma
montagem carioca dirigida por
José Possi Neto e protagonizada por Beatriz Segall e Cláudio
Corrêa e Castro. O pano de fundo da guerra é atualizado para a
tomada do Iraque por EUA e
Inglaterra. Mas o drama que
encerra o típico humor britânico resulta mais circunscrito ao
exercício da tolerância a dois.
Numa passagem, Margareth
contemporiza: "Sei que você
detesta, Edward, mas você realmente tem senso de humor".
Ao que ele retruca: "E por que
eu deveria detestar?". Ela responde: "Porque o senso de humor é muito subversivo. Antes
de rir, você tem que levar em
conta os dois pontos de vista".
É justamente numa página
inteira de jornal que o militar
zeloso da defesa da pátria se depara com a publicação de um
manifesto assinado por "todos
os comunas, frescos, atores desempregados, políticos desonestos", como diz. E também
por sua mulher, fato que o deixa pasmo. O documento pede a
retirada das tropas norte-americanas do Iraque.
Na casa dos 60 anos, Margareth é movida pela consciência
da finitude, como se saberá ao
longo do diálogo. Sai da sombra
do marido, retorna para a universidade, começa a trabalhar e
vem agora a público na condição de militante de esquerda
com o sobrenome do general.
Ele sublimou a farda, ela os
livros. "Você passou seus melhores anos longe de mim e eu
os meus melhores longe de você", diz Margareth. "Nós vivemos em planetas distintos."
Artistas que ajudam a fazer a
história da televisão e do cinema brasileiros, Othon Bastos,
74, e Eva Wilma, 73, dividem o
palco pela segunda vez na carreira. A primeira foi em "Pequenos Assassinatos" (1971, direção de Osmar Rodrigues
Cruz, que morreu neste ano),
em temporada paulistana.
Como o general e a mulher da
peça, eles conhecem a experiência de casamentos longos.
Também não foram poucas as
superações para tocar a vida
pessoal e o ofício.
O MANIFESTO
Quando: sex., dia 11, às 21h30 (pré-estréia); sex., às 21h30, sáb., às
21h, e dom., às 18h; até 22/7
Onde: teatro Renaissance (al. Santos, 2.233, São Paulo, tel. 0/xx/11/3188-4147)
Quanto: R$ 60 e R$ 70 (sáb.)
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