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Crítica/MPB
Imbatível em samba-canção, Nana é a melhor intérprete da obra de Caymmi
DA SUCURSAL DO RIO
Há quem reclame de
Nana gravar mais um
CD com músicas do
pai. Mas será que foi ruim Ella
Fitzgerald ter feito três discos
com a obra dos Gershwin? E será que, com exceção do próprio,
há alguém melhor do que Nana
para cantar Dorival Caymmi?
Se o assunto são os sambas-canções, ela é imbatível, pois
tem toda a dramaticidade que o
gênero pede, mantendo distância da frieza técnica de outras
cantoras -aliás, é aí que se distingue uma cantora de uma intérprete; Nana é uma destas.
É preciso ser um ouvinte um
bocado frio para ficar imune a
"Adeus", "Desde Ontem", "Não
Tem Solução", "Você Não Sabe
Amar" e "Eu Sem Maria" apenas porque as músicas estavam
em "O Mar e o Tempo", CD de
2002 em que, a pedido da gravadora EMI, Nana misturou
sambas-canções às canções
praieiras. "Adeus", em especial,
pertence a ela, não dá para imaginar com outra.
Na sua quinta versão de "Só
Louco", quando parece não haver mais o que inovar, Nana
surge com um vocalise belíssimo sobre introdução criada por
Cristóvão Bastos -autor dos
arranjos ao lado de Dori Caymmi, irmão da cantora.
Na pouco conhecida "Horas",
que gravou apenas uma vez (em
1993), ela exibe a grandeza de
sua voz e a precisão do pai na
interpretação dos sete versos
embalados em notas longas.
"Sábado em Copacabana" ganha uma versão mais noturna
do que a de Maria Bethânia, e
tão bonita quanto. Também
não cansa ouvi-la mais uma vez
em "Nem Eu", "Valerá a Pena",
"Saudade" e outras.
Reclamar de Nana cantando
Caymmi é, de certa forma, endossar o "museu de grandes novidades" com que a indústria
cultural entope ouvidos e consciências. Se todos fôssemos um
pouco Nana e Dorival, a vida
não seria assim.
(LFV)
QUEM INVENTOU O AMOR
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: ótimo
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