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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
A odisséia de Miyake
ESTILISTA LANÇA EDIÇÃO LIMITADA DA SÉRIE L'EAU D'ISSEY E, EM BATE-PAPO EXCLUSIVO, FALA DE HERCHCOVITCH E CARNAVAL
Issey Miyake tinha 7 anos e
estava numa sala de aula quando Hiroshima, sua cidade natal,
foi atingida pela bomba atômica lançada pelos EUA durante a
Segunda Guerra Mundial. Ele
escapou ileso, e, de quebra, ganhou uma vontade extra de viver e de explorar o mundo.
Estudou design em Tóquio,
viveu em Paris e em Nova York
e, de volta ao Japão em 1970,
fundou o Miyake Design Studio, base de sua grife. Pesquisador compulsivo, reinventou
modelagens e tecidos e participou da "revolução japonesa" da
moda, ao lado de Kenzo, Yohji
Yamamoto e Rei Kawakubo.
Em 2001, criou com Dai Fujiwara - atual diretor criativo da
maison Issey Miyake- a linha
experimental A-poc (A Piece of
Cloth, um pedaço de pano).
Trata-se de uma forma de fazer roupas a partir de tubos de
tecido demarcados com modelagens móveis. Do mesmo tubo,
podem ser cortados, por exemplo, um vestidão de mangas
longas ou uma saia com camiseta e luvas compridas.
"A A-poc é um investimento
para o futuro", disse Miyake
durante entrevista concedida à
Folha, em Tóquio, onde ele
lançou uma edição especial da
linha de perfumes L'eau D'Issey.
Atualmente, o grupo Miyake
inclui a Issey Miyake, a Miyake
Homme, a Miyake Fête e a
Pleats Please, além das linhas
jovens ME, Haat e Cauliflower.
Miyake, porém, está afastado
dos ateliês, dedicando-se a trabalhos de moda experimental,
conforme contou à Folha. "A
pesquisa não pára nunca":
FOLHA - Qual é o futuro da moda?
ISSEY MIYAKE - Praticidade aliada às necessidades do mundo
contemporâneo. A roupa precisa ser prática, duradoura e usar
tecnologia que evite o desperdício. Por isso acredito que a A-poc é um investimento para o
futuro, estou muito envolvido
com isso. As coisas mudam, e a
pesquisa não pára nunca.
FOLHA - Dai Fujiwara esteve na
Amazônia pesquisando cores para a
próxima coleção da grife Issey Miyake. Já tem novidades sobre isso?
MIYAKE - Dai não precisa de
mim, não me conta mais nada
[risos]. Sei que ficaram surpresos com a riqueza do lugar, estão animados com o que viram.
Dai também esteve em São
Paulo para uma mostra [Quando Vidas se Tornam Forma:
Diálogo com o Futuro/ Brasil-Japão, no MAM até 22/ 6], foi
uma viagem de contrastes.
FOLHA - O que o sr. conhece da moda brasileira?
MIYAKE - Sou fã de Alexandre
Herchcovitch, ele é um grande
talento. E adoro os biquínis
brasileiros, são tão divertidos.
FOLHA - Como o sr. descobriu o trabalho de Herchcovitch?
ISSEY MIYAKE - Pelos desfiles dele em Nova York. Depois, uma
pessoa de minha equipe apareceu usando uma jaqueta
Herchcovitch, e eu fiquei muito
impressionado com a qualidade do design. Fui obrigado a pegar a jaqueta para mim [risos].
FOLHA - E os biquínis?
ISSEY MIYAKE - Vi o Carnaval do
Rio de Janeiro e fiquei extasiado com os biquínis decorados
das moças, além daqueles usados nas praias. Olelê, olalá
[dança e canta o refrão de "Festa para um Rei Negro", samba-enredo campeão do Salgueiro,
de 1971]. Maravilhoso [risos]!
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