São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Cantora mostra "Alegria" com ecos modernistas

Beatriz Azevedo apresenta repertório do terceiro disco em shows no Sesc Santana

Intérprete, que classifica faixas como "devorações", musicou poemas de Oswald de Andrade e Raul Bopp e fez misturas de ritmos

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi em Nova York, onde viveu entre 2001 e 2003, que Beatriz Azevedo compôs, com Vinicius Cantuária, "Alegria", música-título de seu terceiro CD. Morando no exterior (também passou um ano em Barcelona), ela associava a palavra-sensação "alegria" ao Brasil.
"Entrei numa loja para consertar meu computador, em Nova York, e o rapaz que me atendeu disse, antes de eu abrir a boca: "Você não é daqui". Fiquei espantada, e ele explicou: "Você está sorrindo, não pode ser daqui'", conta ela, que estende a história para um olhar sobre a música brasileira.
"Quem vive no Brasil pode achar natural tanta riqueza, pois se acostumou a ouvir Noel Rosa e outros grandes artistas. Mas é uma peculiaridade nossa ter uma grande música somada a uma grande poesia e dando uma grande canção."
Poeta, atriz e compositora, Beatriz joga sua bagagem no novo disco, que lança em shows no Sesc Santana amanhã e domingo -neste dia, com participação de Jorge Mautner. Ela musicou poemas dos modernistas Raul Bopp ("Coco de Pagu") e Oswald de Andrade ("Relicário"), e se baseia no "Manifesto Antropófago", de Oswald, para tratar todas as faixas, no encarte, como "devorações".
"Faço um panorama de vários ritmos. Acho um pouco repetitivo esses discos de cantoras que, se a moda é samba, cantam só samba; se for reggae, vão cantar só reggae. Não quero me filiar a um estilo", afirma.
Assim, por exemplo, "Alegria" é um maxixe que cita Beethoven; a clássica "Speak Low" (Kurt Weill/Ogden Nash) ganha levada de maracatu; e "Não É da Conta de Ninguém", versão de Beatriz para "'T Ain't Nobody's Biz-ness if I Do" (Porter Grainger/Everett Robbins), traz Bessie Smith e Billie Holiday para a gafieira.
"Acho que há duas linhas fundamentais na cultura: a de muito siso e pouco riso, como foi Mário de Andrade no modernismo, e a oposta, que é a de Oswald. Eu sou mais dessa aí", diz ela, que, a propósito, divide com Tom Zé "Pelo Buraco".
O CD conta com grandes músicos, dos quais dois, de linhas diferentes, estarão no palco neste fim de semana: o pianista e arranjador Cristóvão Bastos e o trombonista Bocato. "Deu muito certo. Juntos, o tradicional [Bastos] não fica tão tradicional, e o vanguardista [Bocato] não fica metido a besta."


BEATRIZ AZEVEDO - CD
Quanto:
R$ 29, em média
Gravadora: Biscoito Fino

SHOW
Quando:
amanhã, às 21h, e dom., às 19h
Onde: Sesc Santana (av. Luís Dumont Villares, 579, 0/xx/11/2971-8700; classificação 12 anos)
Quanto: R$ 4 a R$ 16


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