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Cantora mostra "Alegria" com ecos modernistas
Beatriz Azevedo apresenta repertório do terceiro disco em shows no Sesc Santana
Intérprete, que classifica faixas como "devorações", musicou poemas de Oswald de Andrade e Raul Bopp
e fez misturas de ritmos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi em Nova York, onde viveu entre 2001 e 2003, que
Beatriz Azevedo compôs, com
Vinicius Cantuária, "Alegria",
música-título de seu terceiro
CD. Morando no exterior (também passou um ano em Barcelona), ela associava a palavra-sensação "alegria" ao Brasil.
"Entrei numa loja para consertar meu computador, em
Nova York, e o rapaz que me
atendeu disse, antes de eu abrir
a boca: "Você não é daqui". Fiquei espantada, e ele explicou:
"Você está sorrindo, não pode
ser daqui'", conta ela, que estende a história para um olhar
sobre a música brasileira.
"Quem vive no Brasil pode
achar natural tanta riqueza,
pois se acostumou a ouvir Noel
Rosa e outros grandes artistas.
Mas é uma peculiaridade nossa
ter uma grande música somada
a uma grande poesia e dando
uma grande canção."
Poeta, atriz e compositora,
Beatriz joga sua bagagem no
novo disco, que lança em shows
no Sesc Santana amanhã e domingo -neste dia, com participação de Jorge Mautner. Ela
musicou poemas dos modernistas Raul Bopp ("Coco de Pagu") e Oswald de Andrade ("Relicário"), e se baseia no "Manifesto Antropófago", de Oswald,
para tratar todas as faixas, no
encarte, como "devorações".
"Faço um panorama de vários ritmos. Acho um pouco repetitivo esses discos de cantoras que, se a moda é samba, cantam só samba; se for reggae, vão
cantar só reggae. Não quero me
filiar a um estilo", afirma.
Assim, por exemplo, "Alegria" é um maxixe que cita Beethoven; a clássica "Speak Low"
(Kurt Weill/Ogden Nash) ganha levada de maracatu; e "Não
É da Conta de Ninguém", versão de Beatriz para "'T Ain't
Nobody's Biz-ness if I Do"
(Porter Grainger/Everett Robbins), traz Bessie Smith e Billie
Holiday para a gafieira.
"Acho que há duas linhas
fundamentais na cultura: a de
muito siso e pouco riso, como
foi Mário de Andrade no modernismo, e a oposta, que é a de
Oswald. Eu sou mais dessa aí",
diz ela, que, a propósito, divide
com Tom Zé "Pelo Buraco".
O CD conta com grandes músicos, dos quais dois, de linhas
diferentes, estarão no palco
neste fim de semana: o pianista
e arranjador Cristóvão Bastos e
o trombonista Bocato. "Deu
muito certo. Juntos, o tradicional [Bastos] não fica tão tradicional, e o vanguardista [Bocato] não fica metido a besta."
BEATRIZ AZEVEDO - CD
Quanto: R$ 29, em média
Gravadora: Biscoito Fino
SHOW
Quando: amanhã, às 21h, e dom., às 19h
Onde: Sesc Santana (av. Luís Dumont
Villares, 579, 0/xx/11/2971-8700;
classificação 12 anos)
Quanto: R$ 4 a R$ 16
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