|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/livro/"Bussunda: A Vida do Casseta"
Sem "forçar a barra", biografia expõe
sentidos do humor feito pelo grupo
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O problema de ler uma
biografia é que você sabe que o personagem
principal morre no fim. Não é
bem o caso de "Bussunda: A Vida do Casseta", escrita por Guilherme Fiuza.
Sem ceder ao pieguismo, expõe a vivacidade da revolução
de humor promovida pelos
Cassetas. Livre de cronologia
careta, contaminado pelo humor, insere o leitor no planeta
"cassetesco". Não força a barra
nem imita estilos.
E olha que seria fácil fraquejar ante a criatividade dos sete
rapazes de Liverpool. Vemos,
mais que uma reavaliação da
trajetória do grupo, o diagnóstico de uma geração.
Com aguda sensibilidade,
aborda desde as origens familiares até os casamentos, as
mulheres e os filhos. Fala sério!
Os Cassetas são família!
São os bastidores de uma
banda que não era bem de rock
e não comia ninguém. Sem escamotear dados, paixões, negociações e cagadas dos Cassetas.
Fica claro também que, sem a
Globo, talvez a anarquia do grupo sucumbiria às necessidades
de sobrevivência. E mais, que
seria a Globo quem apostaria
na ousadia, tanto pelas necessidades do momento que atravessava, quanto pelo papel relevante de feiticeiros como Boni
e malucos como Daniel Filho.
O óbvio segredo do "Casseta
& Planeta, Urgente!" é que eles
não são atores, são autores que
apostam tudo em suas piadas.
Das mais sofisticadas à mais
grosseiras, sempre mantendo a
coerência.
"Zen-bussundismo"
O truque mais habilidoso dos
Cassetas é que eles não imitam,
satirizam. Deglutem falsas celebridades, ironizam a programação global, travestem-se de
políticos e jogadores de futebol
para além da caricatura de voz
ou da gestual. Aliás, podem ser
imitações toscas, pois o que criticam é o significado das atitudes de suas vítimas.
Os Cassetas não desistiram
nem diante da perda de sua figura mais popular. E, se desistirem, a televisão brasileira ficará um pouco mais burra.
Claro que Bussunda, por
mais incrível que possa parecer, é a parte central de sua própria biografia. Aparece coerente, por vezes falso ausente, sem
se definir o líder que era, em
seu estilo "zen-bussundista",
finalizando tudo com sacadas
certeiras.
Seu deboche não era raivoso
até porque isso daria trabalho.
Bussunda prezava o ócio. Contraditoriamente, trabalhou
muito. Ensinaram-lhe a ser o
melhor e ele se deixara ser o
pior. Por fim, tornou-se amado
até por quem parodiava.
Ao ler sobre Bussunda, você
pode até se perguntar que
exemplo vai tirar daí. E Fiuza,
sem afirmar, leva você a acreditar em todos os sentidos que o
humor tem a oferecer.
Notícia velha urgente: Bussunda não morreu. Como gostava mesmo era de vagabundear, foi apenas descansar cedo
demais.
HUGO POSSOLO, 47, é palhaço, dramaturgo, diretor dos Parlapatões e do Circo Roda
BUSSUNDA - A VIDA DO
CASSETA
Autor: Guilherme Fiuza
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 49,90 (408 págs.)
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Teresa fica com Marcos, que é pai do filho de Dora Próximo Texto: Livro acompanha trilha do cineasta Walter Salles Índice
|