São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010 |
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Livro acompanha trilha do cineasta Walter Salles
Misto de biografia e ensaio, "Na Estrada" defende que diretor exerceu papel de conciliador no cinema brasileiro atual
ANA PAULA SOUSA DA REPORTAGEM LOCAL Biógrafo e biografado foram unidos, primeiro, por uma paixão comum: Wim Wenders. Marcos Strecker, o biógrafo, escrevia sobre cinema na Folha e, fã do cineasta alemão, fazia, com frequência, reportagens sobre seus trabalhos. Walter Salles, o biografado, via e revia os filmes de Wenders. Certo dia, à altura do lançamento do primeiro longa-metragem do diretor brasileiro, "A Grande Arte" (1991), ambos se encontraram para uma entrevista. A conversa, é claro, terminou em Wenders. Muito Wenders. "Esse gosto nos aproximou", diz Strecker. Vieram então outras entrevistas, filmes e descobertas. O livro "Na Estrada - O Cinema de Walter Salles" é, um pouco, resultado dessa relação. Habitualmente avesso a falar sobre si, o diretor, no livro, trata de angústias criativas, influências -há, além de Wenders, Michelangelo Antonioni e Jia Zhang-ke- e cita até um hobby, a pilotagem. Mas a alinhavar tudo isso está o cinema. Strecker apoiou o livro num pressuposto: sem Salles, a história do cinema brasileiro, dos anos 1990 para cá, não seria a mesma. O diretor, que realizou oito filmes, três deles em parceria com Daniela Thomas, é retratado a partir de sua influência interna e da imagem brasileira que levou para o exterior. O autor, jornalista da Folha, diz que, quando Salles tornou o set seu ambiente de trabalho, o país tinha o cinema novo como referência e as canetadas de Fernando Collor como fantasma. Strecker defende que, nesse terreno arrasado e conflituoso, o diretor surgiu como uma força conciliadora capaz de apontar novos caminhos. Salles não negou Glauber Rocha, mas tampouco seguiu sua cartilha. Filiado a uma estética nacional, manteve um olho aqui, mas voltou o outro para imagens estrangeiras. "Representou uma inovação, eliminando fronteiras, "estrangeirizando" a estética cinematográfica brasileira, recalibrando o discurso modernista nacional", escreve Strecker. A primeira obra analisada é um filme ainda não feito, "On the Road", baseado no livro de Jack Kerouack. "Esse projeto será um marco na carreira dele", diz o autor. "É um clássico que está há 50 anos à espera de ser filmado. É simbólico que ele tenha sido o diretor chamado." De "On the Road", o livro parte para "Central do Brasil". Ao fazer um vaivém no tempo e conciliar análise de filmes com passagens biográficas, Strecker procura atender aos cinéfilos sem, com isso, espantar os curiosos. NA ESTRADA - O CINEMA DE WALTER SALLES Autor: Marcos Strecker Editora: Publifolha Quanto: R$ 49,90 (336 págs.) Texto Anterior: Crítica/livro/"Bussunda: A Vida do Casseta": Sem "forçar a barra", biografia expõe sentidos do humor feito pelo grupo Próximo Texto: Diretor debate Cinefilia Índice |
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