São Paulo, sábado, 9 de maio de 1998

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Adultério era prática aceitável

da Agência Folha, em Belo Horizonte

Estudos publicados no Anuário do Museu da Inconfidência de 1993 mostram que as autoridades de Ouro Preto (MG), no final do século 18, estavam mais preocupadas em garantir o enriquecimento de Portugal por meio dos impostos sobre o ouro, do que em reprimir "heterodoxias sexuais".
Segundo trabalho do historiador Paulo Bertram, o governador de Minas na época, Luís da Cunha Meneses, era acusado por padres de se encontrar com mulheres dentro de igrejas durante a realização de missas, deixando guardas na porta da tribuna de honra com ordens de não deixar nenhum homem subir.
Seu irmão, o governador de Goiás, tinha de usar saias porque os sintomas da sífilis manchavam sem pudor suas calças de militar.
O historiador Luiz Carlos Villalta explica, em artigo publicado no Anuário do Museu da Inconfidência Mineira de 1993, que, na sociedade colonial brasileira, só eram aceitos casamentos entre pessoas da mesma classe, raça e riqueza.
No final do século passado, porém, havia um grande desequilíbrio que dificultava as uniões legais.
A população branca representava menos de um quarto dos habitantes de Minas Gerais. Em 1776, por exemplo, havia praticamente três homens brancos para cada duas mulheres da mesma raça na capitania.
Villalta conclui que "era difícil encontrar iguais e, por isso, o adultério, a prostituição, o concubinato e a bigamia eram aceitáveis e/ou prováveis".
Os inconfidentes não eram exceção entre os moradores de Ouro Preto. Tomás Gonzaga, por exemplo, teria dividido, com o governador Luís Meneses, a amante com quem teve um filho.
O mais rico dos inconfidentes, o padre José de Oliveira Rolim era irmão de criação de Chica da Silva e teve três ou quatro filhos com a filha dela e também considerada sua sobrinha, com quem viveu até ser preso.
Nos Autos da Devassa, Joaquim Silvério dos Reis o acusou de não só ter tirado a virgindade da sobrinha, como de ter arranjado um casamento de conveniência para continuar a relação e ameaçado o marido de morte quando este descobriu tudo.
Até Cláudio Manoel da Costa, muito religioso, teve cinco filhos com uma escrava, a quem alforriou, mas com quem nunca se casou. (CHS)



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