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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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Obra de Taunay sobre a São Paulo do século 16 abre coleção que já celebra os 450 anos

Ronda pelo passado

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje tem marmelada? Se estivermos na Vila de São Paulo de Piratininga do século 16, tem sim, senhor. Fato pouco conhecido da história de São Paulo -famosa mais tarde por seu café e pelas indústrias-, a marmelada foi o primeiro produto de exportação de importância da cidade.
Tão importante que os vereadores da Câmara Municipal viviam se reunindo para pensar sobre a geléia. Em 19 de janeiro de 1599, por exemplo, decidiram uniformizar as latinhas: "Que as caixetas de marmelada sejam tomadas por uma medida".
Dois anos antes, estabeleceram multas para os falsificadores do quitute. "E não se contentaram os vereadores com fulminar os contraventores. Exigiram até o registro da marca individual!"
É dessa forma bem-humorada, com tiradas irônicas e espantos, que Afonso de Escragnolle Taunay, "o" historiador de São Paulo, começa a contar o desenvolvimento da maior cidade brasileira.
E é com Taunay e com cinco outros autores que a editora Paz e Terra começa a comemorar os 450 anos da cidade, em janeiro de 2004. O coquetel de lançamento dos primeiros seis títulos da "Coleção São Paulo" é hoje à noite no famoso prédio do Banespa, no centro, com direito a visita à torre. São dois livros de história, dois de crônicas e dois com teses.
"Num segundo lote, teremos também ficções", informa a editora da coleção, Paula Porta, que, por ser historiadora de profissão, deve muito a esse Taunay da marmelada. O outro Taunay, o Visconde, autor do clássico "Inocência", era pai deste outro.
"Taunay, o filho, pensou um projeto de escrita da história da cidade e o realizou. Mas essas primeiras edições foram lançadas em 1920 e só eram encontradas em sebos", diz a historiadora. Engenheiro e professor da Poli, Taunay escreveu mais de 20 livros sobre a história da cidade.
A edição lançada hoje pela Paz e Terra traz os dois primeiros volumes: "São Paulo nos Primeiros Anos" e "São Paulo no Século 16", ambos passados nos primeiros 50 anos da cidade, mas com teores e tons completamente diversos.
Se o primeiro, baseado nas atas da Câmara Municipal, apresenta um texto divertido e recheado de curiosidades, já "São Paulo no Século 16" tem um estilo bem mais dramático. Suas fontes são os relatos jesuíticos da época, repletos de mortes, cenas de guerras, tentativas de destruição da vila, disputas entre índios e escravagistas europeus e canibalismo. "São Paulo foi o primeiro centro fora do litoral. Aqui tudo era mais difícil e violento", diz Porta.


COLEÇÃO SÃO PAULO. Editora: Paz e Terra (tel. 0/xx/11/3337-8399). Quanto: de R$ 17 a R$ 33 (cada um). Lançamento: hoje, às 18h. Onde: saguão do edifício Altino Arantes - Banespa (r. João Brícola, 24, região central). Patrocinadores: Ministério da Cultura e Grupo Santander Banespa.


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