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Obra de Taunay sobre a São Paulo do século 16 abre coleção que já celebra os 450 anos
Ronda pelo passado
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje tem marmelada? Se estivermos na Vila de São Paulo de
Piratininga do século 16, tem sim,
senhor. Fato pouco conhecido da
história de São Paulo -famosa
mais tarde por seu café e pelas indústrias-, a marmelada foi o primeiro produto de exportação de
importância da cidade.
Tão importante que os vereadores da Câmara Municipal viviam
se reunindo para pensar sobre a
geléia. Em 19 de janeiro de 1599,
por exemplo, decidiram uniformizar as latinhas: "Que as caixetas
de marmelada sejam tomadas por
uma medida".
Dois anos antes, estabeleceram
multas para os falsificadores do
quitute. "E não se contentaram os
vereadores com fulminar os contraventores. Exigiram até o registro da marca individual!"
É dessa forma bem-humorada,
com tiradas irônicas e espantos,
que Afonso de Escragnolle Taunay, "o" historiador de São Paulo,
começa a contar o desenvolvimento da maior cidade brasileira.
E é com Taunay e com cinco outros autores que a editora Paz e
Terra começa a comemorar os
450 anos da cidade, em janeiro de
2004. O coquetel de lançamento
dos primeiros seis títulos da "Coleção São Paulo" é hoje à noite no
famoso prédio do Banespa, no
centro, com direito a visita à torre.
São dois livros de história, dois de
crônicas e dois com teses.
"Num segundo lote, teremos
também ficções", informa a editora da coleção, Paula Porta, que,
por ser historiadora de profissão,
deve muito a esse Taunay da marmelada. O outro Taunay, o Visconde, autor do clássico "Inocência", era pai deste outro.
"Taunay, o filho, pensou um
projeto de escrita da história da
cidade e o realizou. Mas essas primeiras edições foram lançadas
em 1920 e só eram encontradas
em sebos", diz a historiadora. Engenheiro e professor da Poli, Taunay escreveu mais de 20 livros sobre a história da cidade.
A edição lançada hoje pela Paz e
Terra traz os dois primeiros volumes: "São Paulo nos Primeiros
Anos" e "São Paulo no Século 16",
ambos passados nos primeiros 50
anos da cidade, mas com teores e
tons completamente diversos.
Se o primeiro, baseado nas atas
da Câmara Municipal, apresenta
um texto divertido e recheado de
curiosidades, já "São Paulo no Século 16" tem um estilo bem mais
dramático. Suas fontes são os relatos jesuíticos da época, repletos
de mortes, cenas de guerras, tentativas de destruição da vila, disputas entre índios e escravagistas
europeus e canibalismo. "São
Paulo foi o primeiro centro fora
do litoral. Aqui tudo era mais difícil e violento", diz Porta.
COLEÇÃO SÃO PAULO. Editora: Paz e
Terra (tel. 0/xx/11/3337-8399). Quanto:
de R$ 17 a R$ 33 (cada um). Lançamento:
hoje, às 18h. Onde: saguão do edifício
Altino Arantes - Banespa (r. João Brícola,
24, região central). Patrocinadores:
Ministério da Cultura e Grupo Santander
Banespa.
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