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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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Com estilo típico de escrevente, autor revela curiosidades e acontecimentos políticos documentados

Egydio Martins traz peculiaridades do Arquivo do Estado

DA REPORTAGEM LOCAL

Afonso de Escragnolle Taunay foi "o" historiador da cidade. Mas não o único importante. A "Coleção São Paulo" investe também em Antonio Egydio Martins, que dedicou 30 anos de vida para escarafunchar o Arquivo do Estado.
Martins começou a atender o público e a organizar a documentação em 1892. Com escrita típica amanuense, "São Paulo Antigo, 1554-1910", esgotado desde os anos 70, traz histórias privadas, pormenores curiosos e acontecimentos políticos, tudo a partir da documentação do Arquivo.
"Egydio Martins é um baú para historiadores e interessados", diz Paula Porta, editora da Paz e Terra, que vai distribuir 1.300 coleções com os seis livros em universidades, bibliotecas municipais e escolas públicas.
Duas teses universitárias, ambas de 1986, também estão no lote. "Casamento e Família em São Paulo Colonial: Caminhos e Descaminhos", de Alzira Lobo de Arruda Campos, é um extenso estudo sobre o casamento paulistano no período colonial. Com acesso aos arquivos da Igreja, Lobo conseguiu chegar aos processos de casamento e divórcio, repletos de depoimentos de maridos e mulheres e testemunhas que descreviam seus modos de vida.
A outra tese, "A Gripe Espanhola em São Paulo", de Cláudio Bertolli Filho, pode ser considerada a primeira grande obra regional sobre a moléstia que matou 20 milhões de terráqueos em 1918, ou 1,5% da população mundial.
Ao lado das estatísticas, há manchetes escabrosas de jornais ("O Serviço Sanitário "Engole" Cadáveres?"), boatos populares (pinga com limão cura gripe) e histórias tragicômicas (como o bêbado confundido com um morto e quase enterrado vivo no cemitério do Araçá).
Fecham o primeiro lote da coleção dois livros de crônicas. Um deles é "Ronda da Meia-Noite: Vícios, Misérias e Esplendores da Cidade de São Paulo" (1925), de Sylvio Floreal, também lançado pela editora Boitempo há seis meses. "Ronda..." traz o lado B da cidade e seu lado marginal, como drogas, presídios e até um capítulo sobre bolinação nos cinemas.
Crônicas bem mais luminosas estão em "São Paulo de Meus Amores", do jornalista e editor Afonso Schmidt, este há 30 anos fora das prateleiras. "Schmidt foi o autor mais lido no país entre os anos 30 e 60", ressalta Paula Porta.
Schmidt foi uma testemunha de São Paulo. Em 1954, quando o livro foi publicado, em comemoração aos 400 anos da cidade, o jornalista já sofria com as transformações aceleradas, conforme mostra a crônica "São Paulo que Desaparece". Com escrita elegante, Schmidt relata tanto blecautes quanto redações de jornais, incêndios e procissões, demolições ou festas populares.
E circos. Fala do palhaço Piolin, que usava sapatos 84, e do Arrelia, que sempre tinha que comparecer à delegacia para explicar suas piadas "políticas" sobre as agruras do povo. Isso depois do espetáculo, que Arrelia iniciava todas as noites com o infalível "Hoje tem marmelada?". (IVAN FINOTTI)


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