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Além da cortina de silêncio
Chris Niedenthal/Reuters
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Tanques em Varsóvia em 1981, quando foi imposta lei marcial para conter a expansão do sindicato Solidariedade, de Lech Walesa |
Krzysztof Penderecki rege a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo com música litúrgica feita como protesto
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro e compositor polonês Krzysztof Penderecki, 70, será
amanhã e sábado o personagem
mais importante deste ano na
música erudita em São Paulo.
Estará regendo a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) com
um de seus grandes trabalhos litúrgicos, o "Réquiem Polonês",
cujos trechos foram basicamente
compostos entre 1980 e 1984 e justapostos para estrearem em 1993.
É uma música densa, já alheia
ao atonalismo estridente que
marcou sua produção até os anos
70. Ele é considerado um dos
grandes remanescentes da vanguarda musical da segunda metade do século passado. Os 3.000 ingressos para as duas récitas na Sala São Paulo já estão esgotados.
Penderecki (diz-se "penderétsk") esteve três vezes no Brasil,
a última em 97. Ele falou à Folha
no sábado, por telefone, da Cracóvia. Leia trechos da entrevista.
Folha - Até que ponto o "Réquiem
Polonês", por sua composição tão
espaçada, não seria a síntese de
suas idéias musicais mais recentes?
Krzysztof Penderecki - O "Réquiem" marca momentos capitais
na luta pela liberdade na Polônia,
quando acreditei ser necessário
dizer musicalmente alguma coisa.
O primeiro trecho foi escrito
quando Lech Walesa, então líder
sindical e bem mais tarde presidente da Polônia, me pediu uma
música para a inauguração de um
monumento pelos mortos nas
greves dos estaleiros de Gdansk.
Meses mais tarde morreu o cardeal Stefan Wyszynski [(1901-1981), espécie de modelo espiritual do futuro João Paulo 2º e notabilizado por ter afrontado o regime comunista]. Para seus funerais escrevi a "Lacrimosa".
Folha - Mas não se trata mais de
uma obra litúrgica atonal como a
"Paixão segundo São Lucas", do final dos anos 50.
Penderecki - Eu diria que o "Réquiem" é uma súmula de idéias
bem posteriores à "Paixão" e a
outras peças sacras. Mas o que
importa não é tanto a evolução
formal de minha linguagem, mas
o fato de haver um conteúdo político e cultural que tinha na música
religiosa uma forma de protesto.
Folha - O catolicismo é muito importante em sua vida?
Penderecki - Quando comecei a
escrever música religiosa, no final
dos anos 50, o gênero era rigorosamente proibido na Polônia, que
era e ainda é o grande país católico do Leste Europeu. Minha mentalidade rebelde procurava fazer o
que era proibido. "São Lucas" foi
interpretada pela primeira vez na
Alemanha Ocidental. Só em 1966
as autoridades permitiram que
fosse executada na Cracóvia.
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