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Para crítico, João está mais perto de Cabral e de Machado
DA SUCURSAL DO RIO
Em termos estilísticos, o crítico literário Silviano Santiago
não aproxima João de outro
João inventor.
"Guimarães Rosa é a esbórnia na linguagem. Talvez seja
instrutivo aproximar João de
Machado de Assis tal qual lido
por Mário de Andrade: "Machado de Assis, em vez, era ainda o
homem que compunha com 70
palavras. Era aquele instrumento mesmo de 70 palavras,
manejado pelos velhos clássicos, que ele adotava e erguia ao
máximo da sua possibilidade
acadêmica de expressão culta
da idéia", cita Santiago.
"Tanto na escolha de repertório quanto na interpretação
vocal, João pertenceria à estética construtivista da literatura
brasileira, onde sobressaem
Graciliano na prosa, João Cabral e os concretos na poesia",
afirma o crítico.
Se, mais do que criador de
uma batida, João Gilberto é inventor de uma estética, supõe-se que ele influencie outras artes. Investigar essas relações é
outro desafio do Centro de Estudos João Gilberto.
O artista plástico Luciano Figueiredo, criador do logotipo
do centro, já fez trabalhos inspirados em João e é dos que defendem que sua importância
vai além da música.
"A sua obra é inclassificável e
derrubou o mito entre arte popular e arte erudita. É inaceitável a idéia de alguns que ainda
insistem em rotulá-lo como um
intérprete de canções, e não como o criador de uma nova música", diz Figueiredo, para
quem "sua arte está em tudo
que é moderno".
"Se procuramos os seus pares na arte brasileira, vamos
encontrá-lo na mesma constelação em que está a pintura de
Volpi, a luz delicadíssima da
gravura de Goeldi, em Oscar
Niemeyer, Lúcio Costa, Burle
Marx, nos neoconcretos, na
poesia concreta e no espírito livre como nunca dos artistas
contemporâneos", afirma.
Sérgio Sant'Anna escreveu,
em 1982, o conto "O Concerto
de João Gilberto no Rio de Janeiro", que "contém todo um
depoimento e uma posição estética partindo de João Gilberto", como ele assinala. Inspirado em um show que o cantor
não deu no Canecão em 1979,
ele faz uma narrativa experimental que, à certa altura,
aponta: "JG é um cara que se
valoriza pelo silêncio".
No caso do Cinema Novo, na
opinião de Cacá Diegues, a relação se dá por admiração ("João
foi símbolo de uma modernização da cultura brasileira, um
padrão de excelência a que todos aspirávamos") e oposição.
"Enquanto o Cinema Novo
filmava o Brasil real, o que nos
angustiava e que preferíamos
não ver, a bossa nova nos dava a
idéia de um Brasil como desejávamos que ele fosse, o Brasil de
nossos sonhos, elegante e harmônico, civilizado e capaz de
nos enlevar", diz o cineasta,
lembrando que o barroco Glauber Rocha foi amigo do minimalista João.
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