São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Crítica/"Educação Sentimental do Vampiro"

Hirsch faz imitação pueril de Gerald Thomas

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Educação Sentimental do Vampiro", Felipe Hirsch retoma procedimentos característicos das encenações de Gerald Thomas. Antes que isso se torne uma discussão de especialistas sobre o conceito de plágio em teatro, é bom dizer que o fato em si não basta para desabonar um espetáculo aos olhos de um público com menos referências. A Própria Sutil Companhia de Teatro de Hirsch retomou recentemente em "Avenida Dropsie" tema e soluções de montagens anteriores de Edson Bueno e Paulo de Moraes, resultando em um espetáculo divertido e emocionante.
Mas quais os limites entre cópia, imitação e influência, e quando isso se torna desabonador? Ezra Pound propõe uma classificação entre inventores, que inauguram uma linguagem, mestres, que recombinam linguagens em função de um projeto próprio, e diluidores, que reproduzem as lições dos mestres de forma mais acessível para um público maior.
Visto como um inventor na sua estréia brasileira, Gerald Thomas sempre assumiu influências de Beckett, Kantor e Brook na construção de uma linguagem para as suas angústias, e seus espetáculos, independentemente da polêmica que possam causar, há décadas servem de referência para a encenação contemporânea.
Seria Hirsch um diluidor reverente do mestre? Não. Infelizmente. Mais do que uma simples "influência" de Thomas, este "Vampiro" não consegue ser sua cópia -para isso, seria preciso compreender mais a fundo sua linguagem.
Imitação malfeita, caricatura que o aluno faz para debochar do professor, aqui a música não se contrapõe a nada, fumaças chamam atenção para si, e os espelhos do cenário pobre e estático de Daniela Thomas têm bem pouco o que refletir.
É de se perguntar como ela, assim como os atores Luís Damasceno e Magali Biff, tendo conhecido o processo original, se dispõem a este simulacro.
A montagem serve ao menos para divulgar Dalton Trevisan?
Também não. Os contos grotescos, de ironia amarga, se tornam um deboche de mau gosto, talvez por serem narrados com um caricatural sotaque curitibano, em piada sistemática. Nudez, sexo simulado, pedaços de cadáver, mulheres espancadas fazem a platéia gargalhar sem a menor angústia.
Seria isto, então, ao menos uma montagem despretensiosa, para fins meramente comerciais? Nem isso. Querendo manter um verniz de "teatro experimental", Hirsch põe os atores de sua companhia em cenas estáticas puramente narrativas, que explicam por que teve que pegar emprestado efeitos mais espetaculares. Mas quando a ousadia se dilui assim em puerilidade, é de se perguntar por que esta "Educação Sentimental do Vampiro" consta do currículo do Sesi e do próprio Felipe Hirsch.


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DO VAMPIRO Quando: de qua. a dom., às 20h; até 18/11
Onde: Teatro popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405)
Quanto: R$ 3 (qua., qui. e dom. grátis)
Avaliação: péssimo


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