São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reportagem leva a novas cartas de Carlos Drummond

Após solicitação da Folha, correspondentes do poeta espalhados no Brasil e no mundo enviam exemplares

Cópias do material estão na Folha.com; também chegaram cartas de João Cabral de Melo Neto e Campos de Carvalho


FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

De Guaporé (RS), Rayane avisou que a sua mãe tinha "um belo acervo de cartas escritas por ele". Apareceram correspondentes de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Alagoas e Pernambuco. Só de São Carlos (SP) foram três, um deles indicado pela prima que mora nos EUA. Manoel, mineiro que vive em Angola, mandou a sua.
Um colégio paulistano anunciou que mantinha uma carta dele em sua biblioteca, "carta essa muito apreciada por nossos alunos". De Belo Horizonte, Nilene escreveu: "Tenho a honra de informá-los que possuo uma carta de Carlos Drummond de Andrade".
Solicitados pela Folha a informar sobre cartas do poeta itabirano ou outros autores nacionais, em nove dias 24 leitores mandaram e-mails. Só dois tratavam de outros escritores (João Cabral e Campos de Carvalho). Dos restantes, 12 enviaram, a pedido da reportagem, cópias digitalizadas de uma das suas cartas. O painel está na Folha.com.
A convocação surgiu com reportagem, no dia 29 de maio, que mostrava a amplitude da correspondência de Drummond e a sua solicitude em responder a todos que lhe escreviam à procura de conselhos, diálogo ou afeto. A busca resultou num mosaico originalíssimo. Os contatos serão enviados à família do poeta e à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio, que mantém o seu acervo.

SUICÍDIO
Em 1978, Sidney Wanderley venceu um concurso da Academia Alagoana de Letras com um ensaio sobre suicídio na obra de Drummond. Um amigo, dois anos depois, fez chegar o texto ao poeta -que, com uma carta e uma cópia do poema "Convite ao Suicídio", iniciou uma troca mantida até 1987, ano da sua morte.
Professor da USP, Luís Milanesi catalogava, em 1977, obras de compositores brasileiros para a biblioteca da Escola de Comunicações e Artes e descobriu muitos poemas musicados de Drummond. Escreveu ao poeta informando, e mantiveram correspondência por oito anos. "Eu amava perdidamente um cara", conta a escritora paulista Ivana Arruda Leite, "e ele não queria saber de mim. Era um poeta cerebral, louco por Drummond".
Era 1983. Uma noite, de porre, ela escreveu a Drummond contando tudo. A resposta, lenitiva, dizia: "Poeta deve ser gente como a gente, e não uma abstração". Mãe de Rayane, de Guaporé, Helena Maria Balbinot Vicari cursava o magistério em 1961. Num almanaque com endereços de escritores, achou o de Drummond. Viraram amigos postais.
"Casei, mandava notícia das crianças, lembranças no aniversário. Era uma coisa singela. Ele mandava quadrinhas, lembranças de Natal. Afinal, durou 26 anos. Tenho 60 correspondências dele."
O colégio Ofélia Fonseca, em Higienópolis, inaugurou sua biblioteca em 1979 e a batizou de Carlos Drummond de Andrade. Por isso escreveu-lhe. A carta em resposta está numa moldura no local, ao lado da foto do poeta.

Cartas e suas histórias

folha.com.br/il747277


Texto Anterior: Nau de Ícaros fala de amor com bailarinos em cordas
Próximo Texto: Música/Crítica/Jazz: Série resgata filmagens raras de jazzistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.