São Paulo, Quarta-feira, 09 de Junho de 1999
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National Gallery exibe 70 auto-retratos de Rembrandt

Reprodução
Auto-retrato de Rembrandt


SYLVIA COLOMBO
de Londres

Obsessão narcisista, estudos artísticos ou simplesmente tentativa de auto-análise? O que levava o pintor holandês Rembrandt (1606-1669) a retratar o próprio rosto com tanta frequência?
Mais de 70 auto-retratos foram deixados pelo artista. Uma grande retrospectiva dessas imagens será exibida, a partir de hoje, na National Gallery, em Londres.
Os auto-retratos trazem as principais características da obra de Rembrandt: a técnica na articulação de luz e sombra, obsessão por detalhes da natureza humana, influência do classicismo e de sua releitura pela Itália renascentista, a tentativa de captar o momento espiritual do personagem retratado.
Também se pode concluir aspectos mais prosaicos: Rembrandt não era exatamente um homem bonito, gostava de roupas e chapéus exóticos, além de ter ostentado por longo tempo um bigode.
Recentemente, o pintor holandês teve a autoria de algumas de suas pinturas contestadas. Rembrandt sempre esteve rodeado por aprendizes, que dividiam com ele o trabalho e, às vezes, levavam consigo a assinatura do mestre. Isso alimenta a especulação de que alguns de seus auto-retratos podem ter sido pintados por outrem.
Deve-se lembrar que, ao contrário de outros países europeus no período, não era costume na Holanda calvinista da época que a Igreja ou a nobreza patrocinasse os artistas. Além de pintar, ele dedicava-se a dar aulas e comerciar antiguidades, atividades que mantiveram sua saúde financeira, antes que a ostentação e o luxo o afundassem em dívidas.
Alguns estudiosos acreditam que os auto-retratos não devem ser interpretados como representação objetiva, justificando sua realização como um suporte para que o artista trabalhasse o uso do chiaroscuro e técnicas para realçar detalhes ou emoções humanas.
Esses artifícios foram transportados para os personagens que incluía nas cenas bíblicas e históricas, concedendo-lhes -ao expor a expressividade dos rostos- uma maior dramaticidade espiritual para o momento representado.
Os auto-retratos acompanham a vida de Rembrandt e permitem realçar as suas diferentes fases. Se, no princípio, lhe interessava o retrato barroco, rico em detalhes de interiores, aos poucos isso dá lugar a uma preocupação maior em captar a emoção humana.


Exposição: Rembrandt by Himself (Rembrandt por ele mesmo) Onde: National Gallery (Trafalgar Square, Londres), tel. 00-44-171747-2885 Quando: de hoje até 5 de setembro

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