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Escritores debatem pátria e viagens
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
O público aplaudiu muito, mas
pôde perguntar pouco. A mediadora da última mesa de quinta-feira da Flip, a inglesa Liz Calder,
selecionou apenas uma pergunta
feita pela platéia ao cingalês (nascido no Sri Lanka) radicado no
Canadá Michael Ondaatje e ao israelense David Grossman. Motivo: os dois se empolgaram com a
conversa e começaram a trocar
perguntas e impressões.
"É curioso quando você diz que
me inveja por eu ter sempre morado em Jerusalém, enquanto você trocou de cidade várias vezes.
Queria te contar que eu não vivo
em um lugar seguro", brincou
Grossman, arrancando risos de
Ondaatje. "Nós [israelenses] não
temos sensação de futuro. Quando leio nos jornais os planos dos
Estados Unidos para a colheita de
2030, me espanto. Em Israel não
falamos nem sobre os próximos
dez anos, é um tabu. Israel é a terra prometida, mas é sempre prometida, nunca realizada. Queria
dar motivos para que você me invejasse", disse o escritor ao colega.
Ondaatje contou como viajar ao
Sri Lanka já lhe rendeu boas histórias, mas nunca realistas. Como
saiu do país quando tinha nove
anos, sempre tem um olhar de estranhamento em relação ao que
encontra por lá. "[William]
Faulkner, meu escritor preferido
e minha maior influência, inventou um lugar. Eu fui ao Mississippi e não é nada daquilo que ele escreveu", disse ele, que não escapou de falar sobre "O Paciente Inglês", seu romance mais famoso,
Oscar de melhor filme na adaptação de Anthony Minguella.
"Senti falta de algumas coisas
[no filme], mas incentivei a equipe a buscar o próprio caminho.
Reconheço que a história de um
homem queimado numa cama e
uma enfermeira deprimida não
daria um filme eletrizante", disse.
Pimenta
Quinta-feira, por volta das 14h.
Depois de uma manhã atribulada
por conta dos atentados em Londres, um almoço na casa do príncipe dom João de Orleans e Bragança serviu de alívio cômico. À
mesa, antes de se servir de vatapá,
Salman Rushdie encheu a colher
com molho de pimenta. Alguém o
advertiu sobre os perigos do excesso de pimenta, mas o escritor
não se fez de rogado: "Você sabe
de onde eu venho?", brincou
Rushdie, nascido em Bombaim,
Índia, país conhecido por sua culinária picante. "Está fraquíssima", completou ele mais tarde.
Este é o segundo ano em que o
almoço acontece na casa de d.
João, um encontro que reúne escritores, jornalistas, agentes e editores para promover o programa
de incentivo à tradução de livros
brasileiros da Biblioteca Nacional,
cujo fundador foi o rei dom João
6º. "Foi meu tataravô. Se eu não fizer o almoço, ele me puxa o pé à
noite", brincou o príncipe.
Entre o vatapá com galinhada e
a insólita sobremesa, uma mousse
de caipirinha, os convidados
-além de Rushdie, Liz Calder,
Robert Alter etc.- percorreram
com os olhos a casa, uma das jóias
arquitetônicas de Parati, construída na segunda metade do séc. 17.
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