São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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Jô Soares afirma que voto em Lula foi "romântico"

Convidado da Flip, escritor diz que crise não vai derrubar o governo

EDUARDO SIMÕES E
LUIZ FERNANDO VIANNA

ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI

Na mesa mais concorrida da Flip (Festa Literária Internacional de Parati), Jô Soares disse, ontem à noite, que foi um "voto romântico" o que elegeu Lula presidente.
"Não se esperava um preparo para governar. Se eu disser aqui que vou disputar salto com vara nas próximas Olimpíadas, vocês vão torcer por mim, mas vai ser complicado", comparou ele.
Jô procurou relativizar o tamanho da atual crise política. Para ele, a emoção que marcou a eleição de Lula alimenta a idéia de que estamos vivendo um desastre. "Não é isso [a crise] que vai derrubar o governo", disse.
Ao lado da historiadora Isabel Lustosa e do escritor Luis Fernando Verissimo, que foi o mediador, Jô participou da mesa "A Sátira Ontem e Hoje". Para ele, o humor "politicamente incorreto" do Brasil é uma grande arma para enfrentar as sucessivas crises.
"O politicamente correto é o maior exemplo de preconceito que existe. Nos Estados Unidos, eu não posso ser chamado de gordo. Tenho que dizer que sou possuidor de uma imagem corporal alternativa", brincou Jô, que ainda autografou, após sair da Tenda dos Autores, 150 exemplares de seu último livro, "Assassinatos na Academia Brasileira de Letras".

Crítica
Antes da mesa com Jô Soares, uma saia justa marcou a participação da escritora britânica Jeanette Winterson na palestra sobre "Arte e Natureza", à tarde. Depois de convocar o público a reagir contra a poluição causada pela Petrobras na costa da cidade fluminense, a engajada Winterson foi questionada pela platéia se sua crítica não continha uma contradição, visto que a estatal Eletronuclear, patrocinadora da festa, também é responsável por danos ambientais na região.
"Temos que criticar a sedução dos patrocínios, mas também é preciso negociar outras formas de relação com as grandes empresas, em que eles não provoquem danos à natureza e continuem a dar dinheiro para festivais como a Flip", respondeu uma rápida Winterson, solidária a uma constrangida Liz Calder, a responsável pela organização da festa.
Lula também ganhou crítica de Winterson: depois de reputar as mudanças climáticas às políticas econômicas feitas em nome do progresso e do consumismo, a autora disse que o presidente brasileiro luta pelo desenvolvimento do país apenas pelo ponto de vista dos países ricos do Ocidente.
Depois de Winterson foi a vez do escritor turco Orhan Pamuk falar sobre sua inspiração nas narrativas de "As Mil e Uma Noites", na segunda palestra da série "Mar de Histórias". O bem-humorado escritor contou que os 16 volumes, apesar das tintas obscenas, são considerados clássicos da literatura oriental e, por isso, não são atacadas pelo Islã.


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