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Jô Soares afirma que voto
em Lula foi "romântico"
Convidado da Flip, escritor diz que crise não vai derrubar o governo
EDUARDO SIMÕES E
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
Na mesa mais concorrida da
Flip (Festa Literária Internacional
de Parati), Jô Soares disse, ontem
à noite, que foi um "voto romântico" o que elegeu Lula presidente.
"Não se esperava um preparo
para governar. Se eu disser aqui
que vou disputar salto com vara
nas próximas Olimpíadas, vocês
vão torcer por mim, mas vai ser
complicado", comparou ele.
Jô procurou relativizar o tamanho da atual crise política. Para
ele, a emoção que marcou a eleição de Lula alimenta a idéia de
que estamos vivendo um desastre. "Não é isso [a crise] que vai
derrubar o governo", disse.
Ao lado da historiadora Isabel
Lustosa e do escritor Luis Fernando Verissimo, que foi o mediador,
Jô participou da mesa "A Sátira
Ontem e Hoje". Para ele, o humor
"politicamente incorreto" do Brasil é uma grande arma para enfrentar as sucessivas crises.
"O politicamente correto é o
maior exemplo de preconceito
que existe. Nos Estados Unidos,
eu não posso ser chamado de gordo. Tenho que dizer que sou possuidor de uma imagem corporal
alternativa", brincou Jô, que ainda autografou, após sair da Tenda
dos Autores, 150 exemplares de
seu último livro, "Assassinatos na
Academia Brasileira de Letras".
Crítica
Antes da mesa com Jô Soares,
uma saia justa marcou a participação da escritora britânica Jeanette Winterson na palestra sobre
"Arte e Natureza", à tarde. Depois
de convocar o público a reagir
contra a poluição causada pela
Petrobras na costa da cidade fluminense, a engajada Winterson
foi questionada pela platéia se sua
crítica não continha uma contradição, visto que a estatal Eletronuclear, patrocinadora da festa, também é responsável por danos ambientais na região.
"Temos que criticar a sedução
dos patrocínios, mas também é
preciso negociar outras formas de
relação com as grandes empresas,
em que eles não provoquem danos à natureza e continuem a dar
dinheiro para festivais como a
Flip", respondeu uma rápida
Winterson, solidária a uma constrangida Liz Calder, a responsável
pela organização da festa.
Lula também ganhou crítica de
Winterson: depois de reputar as
mudanças climáticas às políticas
econômicas feitas em nome do
progresso e do consumismo, a autora disse que o presidente brasileiro luta pelo desenvolvimento
do país apenas pelo ponto de vista
dos países ricos do Ocidente.
Depois de Winterson foi a vez
do escritor turco Orhan Pamuk
falar sobre sua inspiração nas narrativas de "As Mil e Uma Noites",
na segunda palestra da série "Mar
de Histórias". O bem-humorado
escritor contou que os 16 volumes, apesar das tintas obscenas,
são considerados clássicos da literatura oriental e, por isso, não são
atacadas pelo Islã.
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