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opinião
Boas cenas seduzem 50 anos depois
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Primárias" é o
nascimento do
cinema direto.
O que ele tem de direto ou
de original em relação ao
"cinema verdade" do francês Jean Rouch é, basicamente, a maneira de se
aproximar de seu objeto.
Robert Drew e seus colaboradores (Richard Leacock, D.A. Pennebaker, Albert Maysles) aspiravam à
transparência completa
quando filmavam as eleições primárias do Partido
Democrata em Wisconsin,
em 60, em que estavam
envolvidos John F. Kennedy e Hubert Humphrey.
Não entrevistavam os candidatos, buscavam captar
fragmentos de vida em estado de, digamos, pureza.
Como no caso de Rouch,
seu trabalho se organiza
em razão de novos equipamentos: câmeras e gravadores portáteis o bastante
para registrar cenas em toda a sua espontaneidade.
A narrativa evita comentários do realizador. A
idéia é que as imagens falem por si. O exemplo mais
evidente talvez seja o momento em que captam
Humphrey dormindo no
carro. Não é fácil obter
imagens de um senador
dormindo. Ainda mais se
candidato à Presidência.
Mas eles dormem.
Os feitos dessa natureza
tendem, no entanto, a nos
comover menos hoje do
que imagens mais simples
(embora inimitáveis): o lado "pop star" de Kennedy,
perceptível na forma como as jovens se relacionavam com ele. Ou a mudança dos fazendeiros antes e
depois da fala de Humphrey, passando da hostilidade à franca simpatia. Lábia
de político não é sopa.
Marcante, o filme, feito
em condições adversas,
consegue uma qualidade
de imagem até hoje impressionante. A qualidade
de captar imagens que, 50
anos depois, nos seduzem.
PRIMÁRIAS
Distribuição: Videofilmes
Quanto: R$ 45, em média
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