São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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Ana Maria escreve fábula para adultos

Autora publica "Infâmia", história sobre corrupção e falsas acusações que se junta a seus mais de cem títulos

Criadora de clássicos infantis, ela diz que ainda se espantam quando descobrem que escreveu romances

DE SÃO PAULO

"Infâmia", o nono romance adulto de Ana Maria Machado, se integra a uma lista bibliográfica bem maior: os mais de cem títulos infantis que a autora já publicou.
Quando, há uns dez anos, pensou em escrever um livro tendo como tema a corrupção, a autora pretendia fazer uma história para crianças.
O plano não vingou, mas serviu de ideia para a obra que ela lança agora.
"Infâmia" narra duas tramas em paralelo. De um lado, um embaixador aposentado quer desvendar a misteriosa morte da filha. De outro, um funcionário público é acusado injustamente de corrupção.
"Esse clima de leviandade, em que não se respeita mais a privacidade do outro, em que colocam culpados e inocentes no mesmo saco, é uma coisa bem característica de nosso tempo", afirma.
Ela enxerga um retrato disso, sob ângulos diversos, em livros como "Reparação", de Ian McEwan, "Desonra", de J.M. Coetzee, e "A Marca Humana", de Philip Roth.

NOBEL INFANTIL
Separar a verdade da mentira, o cerne do romance, não deixa de ter um tom moral bem próprio das fábulas infantis, ambiente que a autora conhece muito bem.
Ela recebeu em 2000 o Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil. Escreveu sucessos que, décadas depois, ainda embalam a imaginação das crianças. O maior deles é "Bisa Bia, Bisa Bel" (1982), que já vendeu 2,5 milhões de cópias.
"Fiquei muito marcada pelo gênero infantil. As pessoas se espantam quando descobrem que já escrevi nove romances, que já fui traduzida e ganhei prêmios", conta ela, que, desde 2003, também integra a Academia Brasileira de Letras.
É, enfim, pelos universos adultos e infantis que a autora tem se alternado desde o início de sua carreira, há 42 anos. "O repertório da criança é menos desenvolvido que o do leitor adulto. Você tem que escrever na coloquialidade, mas não pode vulgarizar a linguagem. É difícil. E também não pode ser didático, pois fica chato."
Ana Maria também lançou recentemente "Silenciosa Algazarra" (Companhia das Letras; R$ 39,50; 296 págs.), reunião de artigos em que defende práticas de estímulo à leitura -tema que debateu na Flip anteontem.
(MARCO RODRIGO ALMEIDA)


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