São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011 |
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CRÍTICA ROMANCE Livro dá tratamento relevante ao tema das "falsas verdades" NOEMI JAFFE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA No conto "Famigerado", de Guimarães Rosa, um doutor, temeroso de que venha a ser assassinado por causa da definição de uma simples palavra, diz ao jagunço que o questiona que "famigerado" quer dizer "notório, famoso". Ou seja, o homem informado diz a verdade mentindo, já que a primeira definição de famigerado é mesmo notório, mas não é esse seu significado usual. Ficam todos felizes: o doutor não mentiu e o jagunço se sente valorizado. O novo romance de Ana Maria Machado, "Infâmia", também denuncia a indiferenciação entre a fama e o seu contrário. Tudo o que desperta a fome da imprensa, marrom ou não, é o escândalo, seja ele alimentado pela verdade ou pela mentira. Poderosos e oprimidos podem ser presas indiscriminadas de armações tramadas por interesses escusos. Fragmentos do passado que retorna e fragmentos de fatos que precisam ser reunidos são as motivações da busca por uma realidade que se quer descobrir, mas também esquecer. O risco que a difusão da verdade contém é, por vezes, maior do que o risco do esquecimento. O objeto de que trata o livro e a estrutura de tramas paralelas são ambos de grande relevância. Mas a narrativa é dominada por uma linguagem muitas vezes artificial, em que as falas de personagens, como o embaixador, o jovem músico e a jovem leitora universitária, acabam esbarrando na inverosimilhança, justamente num romance que se quer verossímil. Frequentemente, há também apelo ao excesso dramático e à redundância adjetiva. "Resquícios das nódoas lançadas pela difamação", "Eterno remoer em que a memória insistia em triturar", "Cacos, estilhaços, resíduos" e "Cascalho moral, reles areia descartável" são alguns dos inúmeros exemplos semelhantes no livro. Mesmo assim, como denúncia das "falsas verdades" e como trama narrativa, o romance se sustenta e captura a curiosidade do leitor. INFÂMIA AUTORA Ana Maria Machado EDITORA Alfaguara QUANTO R$ 42,90 (280 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Ana Maria escreve fábula para adultos Próximo Texto: Crítica/Romance: Zola da seca, Rodolfo Teófilo antecipou geração de 1930 Índice | Comunicar Erros |
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