São Paulo, quinta, 9 de julho de 1998

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Pergolesi vai ao cinema em filme-ópera de Camurati

Rosane Marinho/Folha Imagem
A atriz, diretora e produtora Carla Camurati, que estréia seu segundo longa-metragem hoje à noite no Rio



Novo longa da diretora é adaptação de "La Serva Padrona', composta pelo italiano em 1733


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Há dias a atriz, diretora e produtora Carla Camurati, 37, está em pânico. Depois de aceitar um convite para estrear seu mais recente filme, "La Serva Padrona", hoje à noite no Teatro Municipal (centro do Rio), bateu o medo de o teatro ficar vazio. Em uma semana, o medo do vazio evoluiu para o da superlotação. Uma entrevista para um programa de rádio no Rio fez com que os ingressos, gratuitos, se esgotassem. A preocupação com a festa de estréia, para 2.200 convidados, fez a diretora parar de pensar um pouco na ousadia que cometeu: "La Serva Padrona", segundo filme que dirige, é uma ópera. Sim, uma ópera -a primeira a ser transformada em filme no Brasil. Durante uma hora e três minutos, três atores representam, em italiano, a peça composta em 1733 por Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736). "Pode ser que não tenha público nenhum, pode ser que tenha. Tenho consciência de que é um filme de ópera e que, no Brasil, a população nunca teve acesso a esse tipo de espetáculo. Pode ser, então, que depois de assisti-lo passem a ter uma idéia diferente do que é uma ópera", diz Camurati. A idéia de filmar "La Serva Padrona" surgiu há cerca de dois anos, quando Carla Camurati foi convidada para dirigir uma encenação da ópera em Minas Gerais. Camurati, que tinha assistido a poucas montagens operísticas em sua vida, apaixonou-se pela trama simples de Pergolesi. Viu que dali poderia surgir um filme de baixo custo -saiu por R$ 350 mil- e boa qualidade. "Sei que esse não é o melhor filme da vida de ninguém. Não tive a intenção de fazer algo revolucionário, mas sei que fiz um filme bem acabado e que vai divertir as pessoas", afirma. A diretora aproveitou os ensaios para as apresentações em Minas Gerais para azeitar o elenco para as filmagens. Camurati trabalhou com três atores -Thales Pan Chacon, no papel do criado mudo Vespone, a soprano Sílvia Klein, como a criada Serpina, e o baixo José Carlos Leal, como o patrão Uberto-, dois deles sem nenhuma experiência cinematográfica. "Não queria fazer uma ópera filmada, com aqueles cantores estáticos, o que é muito chato. Queria transformar Pergolesi em um musical. Queria que os personagens tivessem alma", afirma. A diretora explica que o trabalho foi exaustivamente ensaiado por dois motivos. Primeiro, para que os atores sem experiência cinematográfica perdessem a tensão. Segundo, porque os planos de filmagem teriam que ser longos para respeitar as pausas da música. "Não podia cortar e editar de qualquer maneira. Precisava respeitar a partitura", explica. Chacon, ex-marido de Camurati -e que morreu dois meses depois do término das filmagens-, é homenageado pela diretora nos créditos finais do filme. "Thales, meu lindo. Por você, eu tenho no coração o martelinho do amor. Para sempre, Carla", escreveu a diretora, repetindo trecho de uma das árias do filme. Com "La Serva Padrona", Camurati pretende repetir o esquema cauteloso de lançamento de "Carlota Joaquina, Princesa do Brazil", seu primeiro filme. Amanhã, "La Serva" entra em cartaz em três cinemas no Rio (Espaço Unibanco, Estação Icaraí e Casa de Cultura Laura Alvim). No dia 24, chega a São Paulo. Em agosto, a Belo Horizonte. Para esse início de carreira, apenas seis cópias foram feitas. Foi assim com "Carlota Joaquina", de 95, que foi visto por 1,3 milhão de pessoas.


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