São Paulo, quinta, 9 de julho de 1998

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"LA SERVA PADRONA"
Atriz principal foi cantora de punk rock

da Sucursal do Rio

Carla Camurati vê Serpina, a criada que trama para conquistar seu patrão Uberto em "La Serva Padrona", como uma mulher decidida, que sabe o que quer e diz o que pensa.
"Ela é contemporânea. Deve ter sido o ideal de mulher de todas as mulheres de 1733. Serpina é decidida e atrevida. Fico imaginando, na época, a torcida da platéia feminina para que ela conseguisse dobrar Uberto", diz a diretora.
Decidida também é Sílvia Klein, 28, a soprano que interpreta Serpina no filme. Apesar de jamais ter atuado em cinema, Klein aceitou imediatamente o convite de Camurati para fazer o filme.
"Não me deslumbro com nada. Não vi mistério nenhum em aceitar a proposta para fazer cinema", afirma. Para a soprano, as filmagens de "La Serva Padrona" lhe ensinaram uma forma "diferente" de trabalhar.
"Com certeza, é um pouco mais difícil e cansativo do que uma encenação teatral, porque é preciso repetir várias vezes a mesma cena para que se possa mudar a posição das câmeras. É diferente, mas também é divertido", diz.
Antes da decisão de participar de um filme, a soprano já havia tomado outra decisão em sua vida: há dez anos havia trocado o punk rock pela música erudita.
"Comecei como cantora em bandas de garotas, fazendo shows underground. Mas chegou um momento em que tive de escolher entre o punk e o erudito. Fiquei com o que me dava mais prazer: o erudito", diz a ex-vocalista de grupos como "Martelo das Feiticeiras" e "Desculpe Neném".
Sílvia Klein mora em Belo Horizonte, cidade onde encenou "La Serva Padrona", sob a direção de Camurati, e onde foram realizadas grande parte das filmagens -o restante foi filmado no teatro João Caetano, no centro do Rio.
Klein e a diretora já se conheciam quando Camurati foi convidada para dirigir a encenação.
"Os organizadores queriam trazer uma italiana para o papel, mas Carla disse que o papel era meu. Se não fosse isso, não tinha chegado ao cinema", relembra a cantora.
"La Serva Padrona" não foi sua primeira ópera -já havia participado de montagens de "La Bohème" e "A Viúva Alegre"-, mas foi só ao ser convidada pela diretora que soube da existência da ópera de Pergolesi. "Encantei-me com as óperas bufas. É um repertório desconhecido e com grande qualidade artística", diz Klein.

Grupo Galpão
O trabalho no filme dirigido por Carla Camurati incentivou Sílvia Klein a procurar aprimorar seu trabalho interpretativo. A soprano agora está estudando teatro com o grupo Galpão, de Belo Horizonte.
"Aprendi com Carla sobre colocação cênica e como olhar para as câmeras", diz Klein, que traça planos para o futuro com a diretora.
Camurati foi convidada para dirigir um concerto que Klein, o maestro Sílvio Viegas (coordenador musical de "La Serva Padrona") e o pianista Wagner Sander (que faz parte da orquestra de câmara que participou do filme) pretendem fazer.
A intenção é unir trabalhos de compositores brasileiros eruditos -como Villa-Lobos e Carlos Gomes- com os populares dos anos 40 e 50 -Ari Barroso, Cartola. "Vamos tentar emplacar isso no segundo semestre", diz Klein.
(CRISTINA GRILLO)


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