São Paulo, quinta, 9 de julho de 1998

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CONTOS MÍNIMOS
Passando batom

HELOISA SEIXAS

No minúsculo retângulo do espelho, vê o batom deslizar sobre seus lábios, primeiro o de cima, depois o de baixo. No mesmo instante, a boca, assim pintada, torna-se mais sensual, mais viva. E ela sorri, satisfeita. Mas de repente um pensamento lhe vem toldar a visão daqueles lábios vermelhos. Ele não gostava de batom. Durante os anos em que foram amantes, ele jamais deixou que ela pintasse os lábios. Nunca entendera por quê, mas agora -somente agora, tantos anos depois- compreendia. Uma distração e a mancha de batom no colarinho o denunciaria. Sim, porque ele era casado.



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