São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2001

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RELÂMPAGOS

Conflagração

JOÃO GILBERTO NOLL

Um afã estranho o atacava. Não vinha de raiz alguma, nem tinha endereço à vista para se desaguar. Ele então dizia, vamos fazer assim: deixa isso pra quando eu estiver indo dormir. Fico no escuro, tiro o som da televisão, deixo só os reflexos das cores se mexendo no quarto, levanto a coberta, olho com clareza o que não precisa se mostrar com seus pigmentos, só mesmo essa coisa sombria levemente azulada, a cama sobre onde me amoleço, como se mergulhasse num morno que não deverá se repetir jamais. Abraço-a mais forte do que gostaria, ela dorme. Sofre um breve frêmito, mas seu ressonar insiste em dizer que é no sono que ela agora quer estar. Então pego o controle automático e pressiono o botão com a força de uma luta que ainda não devo pronunciar.


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