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RELÂMPAGOS
Conflagração
JOÃO GILBERTO NOLL
Um afã estranho o atacava.
Não vinha de raiz alguma,
nem tinha endereço à vista
para se desaguar. Ele então
dizia, vamos fazer assim: deixa isso pra quando eu estiver
indo dormir. Fico no escuro,
tiro o som da televisão, deixo
só os reflexos das cores se mexendo no quarto, levanto a
coberta, olho com clareza o
que não precisa se mostrar
com seus pigmentos, só mesmo essa coisa sombria levemente azulada, a cama sobre
onde me amoleço, como se
mergulhasse num morno que
não deverá se repetir jamais.
Abraço-a mais forte do que
gostaria, ela dorme. Sofre um
breve frêmito, mas seu ressonar insiste em dizer que é no
sono que ela agora quer estar.
Então pego o controle automático e pressiono o botão
com a força de uma luta que
ainda não devo pronunciar.
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