São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Chão de estrelas

No Rio, Luana Piovani é a rainha do Bailinho e, em SP, Reynaldo Gianecchini é o padrinho da Gambiarra, festas que atraem 1.500 para dançar ou espiar famosos

Paula Kossatz
A "chuva' prateada encomendada por Rodrigo Penna

"O Gianecchini já chegou?", alguém pergunta na porta da balada em São Paulo. "A Luana Piovani tá lá dentro", alguém afirma na entrada da festa no Rio de Janeiro. Nas duas capitais, é domingo -e as chances de encontrar um famoso na pista são boas.
Na noite carioca, o Bailinho, festa itinerante, tem sempre um no salão. Na paulista, a Gambiarra, no centro da cidade, também. E é pra lá que vão mais de 1.500 baladeiros (ou tietes) a cada festinha.

 

A oferta de famosos é diversificada: já passaram pelas duas baladas Reynaldo Gianecchini, Luana Piovani, Rodrigo Santoro, Alessandra Negrini, Susana Vieira, Fernando Gabeira (sim, o deputado do PV, que foi candidato a prefeito do Rio), Marisa Orth, Thiago Lacerda, Caco Ciocler, Glória Menezes, Dado Dolabella, Adriane Galisteu, Fause Haten, Reinaldo Lourenço, Denise Fraga, Camila Morgado, José Celso Martinez Corrêa... Por quê?

 

"Porque não pode entrar fotógrafo", diz Rodrigo Penna, ator, DJ e criador do Bailinho, no Rio, à repórter Audrey Furlaneto. Na festa paulista, o motivo é o mesmo: imprensa não entra e, segundo um dos seis organizadores, Edu Reys, "os artistas podem curtir, beber e dançar sem preocupação". "Uns atores conhecidos já me disseram para a gente nunca deixar os fotógrafos entrarem, caso contrário, eles não voltariam. Eles querem se misturar", explica outro líder da Gambiarra, Tuca Notarnicola, ao repórter Leandro Nomura.

 

Há também outras razões mais, digamos, subjetivas para um famoso ir às duas festas. Tanto o Bailinho quanto a Gambiarra foram criadas por quem é da classe artística. Rodrigo Penna, 35, começou criança na Globo, fez Tablado, estudou mímica em Londres, criou trilha sonora e dirigiu espetáculos de teatro até fundar o Bailinho, em 2007, como uma "festa carioca, pós-praia". "Queria fazer uma festa para meus amigos mais velhos, para os meus artistas, duros, pobres, brancos, pretos, azuis...", diz.

 

Já os atores Alex Gruli, Anna Cecília Junqueira, Edu Reys, Miro Rizzo e Talita Castro e o jornalista Tuca Notarnicola inventaram a Gambiarra, em 2008, para reunir os amigos após a última peça do final de semana. "É uma clima "lá em casa", que tem uma mistura de pessoas", diz Anna Cecília.

 

Se o "elenco" da balada é quase todo VIP, onde é que fica a plateia, ops!, os baladeiros anônimos? Funciona assim: no Bailinho, tem a "lista amiga" para os que estão no mailing da festa por indicação ou convite de Rodrigo Penna (mesmo estando nela, paga-se R$ 30 pelo ingresso); tem a lista dos que não pagam nada, por serem colaboradores, DJs convidados ou "divulgadores" -Luana Piovani se encaixa em todas as categorias anteriores; e, por fim, existe a venda para quem não é nada disso e tem de pagar R$ 120 para pisar no salão.

 

Na Gambiarra, são três longas filas na porta do hotel Cambridge, no centro de SP, sede da festa: uma para quem tem nome na lista, outra para aqueles que possuem registro de ator e para artistas em geral e uma terceira para o restante, que paga R$ 20 de entrada.

 

As semelhanças entre as duas noites, no entanto, não vão além disso, segundo os organizadores, que não gostam da comparação. O Bailinho carioca, além de mais caro e de ter sido criado um ano antes da balada paulista, tem ares de produção teatral, bem distante da organização entre amigos da Gambiarra.
Na última edição da festa no Rio, por exemplo, o cenógrafo convidado por Penna criou uma bola espelhada, daquelas dos antigos salões de baile, com 290 quilos, suspensa por um guindaste sobre uma fogueira acesa na área externa da festa, que, desta vez, foi no Jockey, no Baixo Gávea, no Rio.

 

"Aquela bola foram três noites sem dormir. Eu ia para o Jockey de madrugada, eu e meu cenógrafo. É a maior bola espelhada das Américas. Do Canadá ao Chile, não tem uma bola do tamanho daquela", conta Penna. Ele também compra no Saara, área de comércio no centro do Rio (como a 25 de Março de SP), óculos coloridos, pulseirinhas brilhantes, pirulitos em forma de coração, marabus e coroas prateadas, que são entregues ao público na pista, onde "chove", vez ou outra, papel picado prateado, numa versão pop do confete e da serpentina.
O custo é de R$ 50 mil a R$ 120 mil por edição. E a maior parte da verba vem, claro, da venda de cerveja -com tanto VIP entrando na faixa, o dinheiro da bilheteria fica reduzido.

 
Na pista, à meia-noite, o som do Bailinho vai do electro pop do grupo inglês Hot Chip à "Meia Lua Inteira", aquela do refrão "Capoeira-ra-ra-ra/ Sexta-feira, capoeira-ra-ra-ra". Penna também convida um DJ para tocar a seu lado. Glória Menezes, por exemplo, já foi.
Tocou Roberto e Chico, entre outros. Fernando Gabeira fez algo mais "latino", com Santana, Fernanda Abreu e Marcelo D2. "É uma festa que já tem um cheiro de Dionísio", avalia Penna. "É menos carão e mais jogação. As pessoas bebem, dançam, cantam, ganham coroa de princesa, pirulito, Engov, chupeta, bala, óculos colorido..."

 

Para Penna, os enfeites, que não existem na Gambiarra, ajudam a manter o tom inusitado do Bailinho, que viaja para outras capitais e, no dia 15, estará em São Paulo, na Casa das Caldeiras. "As coisas são muito perecíveis no entretenimento da "night", principalmente no Rio. Por milhões de razões: frivolidade da cidade, o jeito foda-se de viver do carioca, o culto à celebridade. Por tudo isso, as coisas se estragam muito rápido, atores, modas, músicos. Em São Paulo, por exemplo, o [restaurante] Spot é hype há 20 anos. Isso não tem no Rio. Nada é hype há 20 anos. As coisas no Rio são muito mais rápidas."

 

Em SP, o "jeito frívolo" dá lugar à nem sempre infalível cara de pau. "O pessoal faz de tudo por um convite. Uma vez, um rapaz tentou entrar dizendo que era o Marcelo Rubens Paiva [escritor e cadeirante]. E ele estava sem a cadeira de rodas", conta Anna Cecília. "Mas a pergunta mais comum é: "O Giane já chegou?"." O ator é tido como padrinho da casa, assim como Piovani é a "rainha do Bailinho" -ela, aliás, já desfilou quatro namorados diferentes no salão do evento.
Na Gambiarra, Gianecchini "valorizou" a festa: na noite seguinte à sua passagem pela pista, o público saltou de 400 para 750 pessoas. "Na balada seguinte à noite em que o Giane, o [Rodrigo] Santoro e o Bruno Gagliasso apareceram, foi de 800 para 1.200 pessoas", conta Miro Rizzo.

 

Na festa paulista, só 70 pessoas entram na faixa. "É como disse Cacilda Becker: "Não peça para eu dar de graça a única coisa que eu tenho para vender'", diz Notarnicola. Os VIPs são os famosos e os convidados dos organizadores. "A gente orienta os nossos funcionários a pegarem as celebridades pela mão e tirá-las da fila. É importante ter famosos aqui dentro, atrai público", explica Gruli. A Gambiarra até já criou um "cercadinho" para as estrelas, no mezanino da pista. Mas, avisa o organizador, "não é um camarote". "É um espaço reservado. A gente odeia a palavra "camarote"."


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