São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Internet assombra festa da TV paga

Serviço comemora 20 anos no Brasil em guerra com sites e estúdios que exibem de graça séries como "Lost" e "Ugly Betty'

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A TV paga brasileira comemora 20 anos sob ameaça da internet. O serviço chegou tardiamente ao Brasil, viveu anos de glória entre 1994 e 1998, sofreu com recessões e escassez de investimentos no início desta década e se recuperou nos últimos cinco anos.
Seu renascimento foi impulsionado pela oferta de "combos". Segundo a Net, maior operadora do país, de cada dez novos assinantes, sete compram pacotes combinando TV paga, telefone fixo e internet.
Hoje, são 6,35 milhões de domicílios com TV por assinatura, o equivalente a 12% das residências com televisores no país, ou pouco mais de 20 milhões de telespectadores, de acordo com estimativas.
Bem mais recente, a internet já atinge 62 milhões de usuários, segundo o Ibope. Os pontos de banda larga, que servem para baixar os mesmos seriados e filmes da TV paga, a maioria deles ilegalmente, já são 10,4 milhões. Dessas conexões, 2,8 milhões são pelos mesmos cabos da TV por assinatura.
A internet já está transformando o mercado de televisão. Nos EUA, a gigante Disney coloca em seu site, gratuitamente, seriados como "Desperate Housewives" e "Lost", logo após a exibição pela TV.
No Brasil, o portal Terra transmite atualmente a terceira temporada de "Ugly Betty", que nem tem previsão de estreia na TV paga (canal Sony).

Sob pressão
O avanço da web sobre a TV por assinatura só não é maior por causa da pressão das operadoras, principalmente a Net.
Em maio, o Sony teve de tirar de seu site as séries que compra da Disney. Elas eram colocadas gratuitamente na internet no dia seguinte à primeira exibição pelo canal. A Net o obrigou a só fazer isso quando os seriados estivessem disponíveis para TV aberta. Ou seja, após muitas reprises na TV paga.
Para André Mantovani, diretor dos Canais Abril, a TV paga repetirá a história das gravadoras. "No mundo digital, todo grande intermediário entre o produtor e o consumidor está perdendo sua função. Isso ficou muito forte com a música, quando o download gratuito quebrou as gravadoras. Paradoxalmente, nunca se consumiu tanta música como agora. Bandas como Radiohead só vieram ao Brasil porque precisam fazer shows para ganhar dinheiro, não vivem mais de CDs", diz.
Mantovani faz um paralelo entre TV paga e indústria fonográfica. "As gravadoras empacotavam CDs de 15 faixas. A TV paga vende pacotes de 150 canais, dos quais o assinante não vê a maioria. Quando o consumidor pode, ele compra só o que necessita", diz, referindo-se a modelos como o da Apple, que vende conteúdo à la carte.
Essa ideia, chamada de "video on demand", estava presente desde os primórdios da TV por assinatura, mas nunca virou realidade no Brasil.

Reinvenção
Talvez por isso os estúdios estejam modificando seus contratos muito rapidamente. "De forma lúcida, o detentor dos direitos autorais está percebendo que a internet pode ser uma oportunidade de negócio, em vez de uma ameaça com a pirataria", comenta Paulo Castro, diretor-geral do Terra no Brasil. "A rede tem a vantagem de o espectador poder montar sua própria grade e assistir quando e quantas vezes quiser."
Entretanto, Castro não decreta o fim da TV paga. Acha que as duas mídias podem ser complementares e até alavancar a audiência uma da outra.
Para Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat (maior produtora de conteúdo de TV paga do Brasil), e José Felix, presidente da Net, o modelo seguido pelo Terra e pela Disney não tem futuro. "Não acredito em conteúdo de alta qualidade de graça. Não vejo modelo de negócios nisso. Não vejo o produtor e o artista vivendo sem dinheiro", afirma Felix.
Tanto Felix quanto Pecegueiro desdenham das previsões pessimistas de que a internet matará a TV paga. Pecegueiro acredita que daqui a 20 anos a TV paga passará pela internet, mas continuará sendo paga. Uma coisa é certa: a TV terá de se reinventar.


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