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Internet assombra festa da TV paga
Serviço comemora 20 anos no Brasil em guerra com sites e estúdios que exibem de graça séries como "Lost" e "Ugly Betty'
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
A TV paga brasileira comemora 20 anos sob ameaça da internet. O serviço chegou tardiamente ao Brasil, viveu anos de
glória entre 1994 e 1998, sofreu
com recessões e escassez de investimentos no início desta década e se recuperou nos últimos cinco anos.
Seu renascimento foi impulsionado pela oferta de "combos". Segundo a Net, maior
operadora do país, de cada dez
novos assinantes, sete compram pacotes combinando TV
paga, telefone fixo e internet.
Hoje, são 6,35 milhões de domicílios com TV por assinatura, o equivalente a 12% das residências com televisores no
país, ou pouco mais de 20 milhões de telespectadores, de
acordo com estimativas.
Bem mais recente, a internet
já atinge 62 milhões de usuários, segundo o Ibope. Os pontos de banda larga, que servem
para baixar os mesmos seriados
e filmes da TV paga, a maioria
deles ilegalmente, já são 10,4
milhões. Dessas conexões, 2,8
milhões são pelos mesmos cabos da TV por assinatura.
A internet já está transformando o mercado de televisão.
Nos EUA, a gigante Disney coloca em seu site, gratuitamente,
seriados como "Desperate
Housewives" e "Lost", logo
após a exibição pela TV.
No Brasil, o portal Terra
transmite atualmente a terceira temporada de "Ugly Betty",
que nem tem previsão de estreia na TV paga (canal Sony).
Sob pressão
O avanço da web sobre a TV
por assinatura só não é maior
por causa da pressão das operadoras, principalmente a Net.
Em maio, o Sony teve de tirar
de seu site as séries que compra
da Disney. Elas eram colocadas
gratuitamente na internet no
dia seguinte à primeira exibição pelo canal. A Net o obrigou
a só fazer isso quando os seriados estivessem disponíveis para TV aberta. Ou seja, após muitas reprises na TV paga.
Para André Mantovani, diretor dos Canais Abril, a TV paga
repetirá a história das gravadoras. "No mundo digital, todo
grande intermediário entre o
produtor e o consumidor está
perdendo sua função. Isso ficou
muito forte com a música,
quando o download gratuito
quebrou as gravadoras. Paradoxalmente, nunca se consumiu
tanta música como agora. Bandas como Radiohead só vieram
ao Brasil porque precisam fazer
shows para ganhar dinheiro,
não vivem mais de CDs", diz.
Mantovani faz um paralelo
entre TV paga e indústria fonográfica. "As gravadoras empacotavam CDs de 15 faixas. A TV
paga vende pacotes de 150 canais, dos quais o assinante não
vê a maioria. Quando o consumidor pode, ele compra só o
que necessita", diz, referindo-se a modelos como o da Apple,
que vende conteúdo à la carte.
Essa ideia, chamada de "video on demand", estava presente desde os primórdios da
TV por assinatura, mas nunca
virou realidade no Brasil.
Reinvenção
Talvez por isso os estúdios
estejam modificando seus contratos muito rapidamente. "De
forma lúcida, o detentor dos direitos autorais está percebendo
que a internet pode ser uma
oportunidade de negócio, em
vez de uma ameaça com a pirataria", comenta Paulo Castro,
diretor-geral do Terra no Brasil. "A rede tem a vantagem de o
espectador poder montar sua
própria grade e assistir quando
e quantas vezes quiser."
Entretanto, Castro não decreta o fim da TV paga. Acha
que as duas mídias podem ser
complementares e até alavancar a audiência uma da outra.
Para Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat (maior
produtora de conteúdo de TV
paga do Brasil), e José Felix,
presidente da Net, o modelo seguido pelo Terra e pela Disney
não tem futuro. "Não acredito
em conteúdo de alta qualidade
de graça. Não vejo modelo de
negócios nisso. Não vejo o produtor e o artista vivendo sem
dinheiro", afirma Felix.
Tanto Felix quanto Pecegueiro desdenham das previsões pessimistas de que a internet matará a TV paga. Pecegueiro acredita que daqui a 20 anos a TV paga passará pela internet, mas continuará sendo
paga. Uma coisa é certa: a TV
terá de se reinventar.
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