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Comentário
Mutante como um vírus, futuro da TV é cheio de risco
ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O meio digital destrói
barreiras entre computador, celular, televisor, videogame. E entre produtores e consumidores de
conteúdo. As TVs pagas são intermediárias entre as duas
pontas. Como todos nesta posição, precisam se reinventar ou
morrer. É fútil lutar contra o
progresso.
Vai haver quem baixará tudo
de graça? Sim. Mas a natureza
fez de nós bichos preguiçosos e
covardes. Prezamos a conveniência e a segurança, como
prova o disque-pizza.
Já é viável para a CBF ou a Liga das Escolas de Samba transmitir diretamente o Campeonato Brasileiro e o desfile de
Carnaval. Sem envolver nenhum emissora de TV.
A tecnologia é trivial. O custo, aceitável, ainda mais ficando com 100% do valor dos patrocínios. Para que dividir com
um intermediário? O conteúdo
quer ser grátis e bancado por
publicidade. Não é o único modelo. Mas venceu na TV aberta,
rádio e internet. Se você quer
saber como será a TV do futuro,
visite o YouTube.
O cenário: durante o episódio
da novela, um sistema de busca
esquadrinha o conteúdo em vídeo e oferece: Gostou do brinco
da Christiane Torloni? Clique
aqui para comprar. Gostou do
filme "Transformers"? Clique
aqui para comprar o boneco, a
lancheira, para jogar o game
on-line. Está vendo o "Programa do Gugu" no domingo à noite? Clique e peça uma pizza já.
E, claro: quer desativar os
pop-ups de links patrocinados?
A versão premium custa só R$
29,90 por mês.
Quanto vale o show?
Este sistema não é o ideal para todo tipo de conteúdo. Não é
a cara de Discovery Channel,
TV educativa ou filmes clássicos. Mas pago feliz R$ 4,99 às
22h31 de uma quarta-feira para
comprar "Ladrões de Bicicleta"
em três cliques (em Full HD
com extras mil). Mesmo sabendo que em 15 minutos podia
baixar tudo pirata. Não quero
chateação nem encrenca. Só
quero ver meu filme e jantar
sossegado.
É pouco R$ 4,99? Qual a justificativa para cobrar o mesmo
preço por um filme lançado em
2009 e um clássico de 1948?
Qual a justificativa para as
atuais leis de direitos autorais?
Preço justo é um conceito
flexível. Os estúdios de cinema,
que não querem ter o mesmo
destino das gravadoras, sabem
disso. O mesmo DVD que custa
R$ 80 para o dono da locadora
sai por R$ 9,99 em supermercados da periferia paulistana.
A operadora banca sua TV
Uma alternativa interessante
é o produtor de conteúdo (ou a
operadora) subsidiar a sua conexão digital. É uma evolução
do modelo do celular.
Você assina um contrato de
fidelidade dois anos com pagamentos mensais mínimos (ou
não). O contratado subsidia sua
conexão e seu aparelho TV-PC,
que saem na faixa ou quase. E
ganha percentuais de todas as
transações financeiras virtuais
que você fizer.
Quem não arriscar morre.
Mas arriscar pode sabotar toda
a cadeia de negócios que hoje
sustenta grandes empresas.
Mesmo que o lucro esteja minguando, é um salto no escuro.
Por isso a maioria dos novos
modelos bem-sucedidos virá de
empresas pequenas e iniciativas independentes. Elas têm
menos a perder.
Cada pessoa, cada empresa
que produz conteúdo -o que
hoje vai da blogueira de 12 anos
ao artista, a corporações- vai
lidar de maneiras diferentes
com este desafio.
Sobreviverá quem experimentar mais. Quem tem taxa
de mutação rápida, como os vírus. Não haverá modelo hegemônico. O futuro será múltiplo.
A única garantia é a de fortes
emoções.
ANDRÉ FORASTIERI, 43, é diretor editorial da
Tambor Digital.
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