São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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TEATRO
Peça ficou em cartaz por 18 anos
"Cats" faz amanhã última apresentação

DE NOVA YORK

Os gatos finalmente vão parar de miar em versos e mostrar as garras em passinhos de dança. Amanhã, o teatro Winter Garden, em Manhattan, apresenta às 15h sua última sessão da peça "Cats". O musical estreou em 11 de maio de 1981 em Londres.
É o que está há mais tempo em cartaz na Broadway. São 18 anos, 250 cidades, US$ 2 bilhões, mais de 7.000 apresentações. Uma das atrizes do elenco, Marlene Daniele, consta da peça desde a estréia.
"Cats" inaugurou a era das superproduções musicais importadas da Inglaterra. Depois dele vieram "Les Misérables", "Miss Saigon" (que na época da estréia a revista "New Yorker" definia como "o horror, o horror") e "O Fantasma da Ópera".
O mundo se divide em dois grupos: os que gostam de gatos e adoram musicais e os que gostam de cachorros e odeiam musicais. É importante que antes de continuar este texto o leitor saiba que o repórter está no segundo grupo.
"Cats" é (vagamente) baseado no poema "Old Possum's Book of Practical Cats", de T.S. Eliot, conforme musicado por Andrew Lloyd Webber (do mesmo "O Fantasma da Ópera", "Evita").
Descreve os vários tipos de gatos de um beco, ligados pela história de Grizabella, que acaba sendo escolhida para ir ao céu felino, não sem antes cantar "Memory" ("imortalizada" por Barbra Streisand) no final do primeiro ato.
A peça é bem ruim. Além de longa e cansativa. A teoria é que, passado o impacto inicial, "Cats" virou ponto turístico, como o Empire State. O morador da cidade não vai, pode passar a vida sem entrar neste musical, mas turmas e turmas de visitantes de outros Estados e, principalmente, de outros países cuidaram de manter o mito em cartaz.
Um deles, não típico, é o nova-iorquino Hector Montalvo. Ele assistiu a seu primeiro "Cats" há dez anos. Hoje, com 33 completos, já viu 780 vezes o espetáculo. Se tivesse ido em dias seguidos, teria passado as noites de mais de dois anos inteiros no teatro.
Analista de sistemas, ele conhece todo o elenco atual. Cita os que já se foram pelo nome. Frequenta as festas. As paredes de sua casa têm de pôsteres assinados por todos a pedaços de ingressos.
Montalvo conseguiu com a produção entradas para todas as sessões da última semana. Tirou férias do trabalho e tem ido ao teatro do número 1.634 da Broadway desde segunda-feira, todo paramentado, com broches, camiseta, boné e pulseiras. E quando acabar? "Não vou ficar catatônico, mas minha vida vai ficar um pouco mais triste." Agora, só falta "Miss Saigon". (SÉRGIO DÁVILA)


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