|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Peça ficou em cartaz por 18 anos
"Cats" faz amanhã última apresentação
DE NOVA YORK
Os gatos finalmente vão parar
de miar em versos e mostrar as
garras em passinhos de dança.
Amanhã, o teatro Winter Garden,
em Manhattan, apresenta às 15h
sua última sessão da peça "Cats".
O musical estreou em 11 de maio
de 1981 em Londres.
É o que está há mais tempo em
cartaz na Broadway. São 18 anos,
250 cidades, US$ 2 bilhões, mais
de 7.000 apresentações. Uma das
atrizes do elenco, Marlene Daniele, consta da peça desde a estréia.
"Cats" inaugurou a era das superproduções musicais importadas da Inglaterra. Depois dele vieram "Les Misérables", "Miss Saigon" (que na época da estréia a revista "New Yorker" definia como
"o horror, o horror") e "O Fantasma da Ópera".
O mundo se divide em dois grupos: os que gostam de gatos e adoram musicais e os que gostam de
cachorros e odeiam musicais. É
importante que antes de continuar este texto o leitor saiba que o
repórter está no segundo grupo.
"Cats" é (vagamente) baseado
no poema "Old Possum's Book of
Practical Cats", de T.S. Eliot, conforme musicado por Andrew
Lloyd Webber (do mesmo "O
Fantasma da Ópera", "Evita").
Descreve os vários tipos de gatos de um beco, ligados pela história de Grizabella, que acaba sendo
escolhida para ir ao céu felino,
não sem antes cantar "Memory"
("imortalizada" por Barbra Streisand) no final do primeiro ato.
A peça é bem ruim. Além de
longa e cansativa. A teoria é que,
passado o impacto inicial, "Cats"
virou ponto turístico, como o
Empire State. O morador da cidade não vai, pode passar a vida sem
entrar neste musical, mas turmas
e turmas de visitantes de outros
Estados e, principalmente, de outros países cuidaram de manter o
mito em cartaz.
Um deles, não típico, é o nova-iorquino Hector Montalvo. Ele
assistiu a seu primeiro "Cats" há
dez anos. Hoje, com 33 completos, já viu 780 vezes o espetáculo.
Se tivesse ido em dias seguidos,
teria passado as noites de mais de
dois anos inteiros no teatro.
Analista de sistemas, ele conhece todo o elenco atual. Cita os que
já se foram pelo nome. Frequenta
as festas. As paredes de sua casa
têm de pôsteres assinados por todos a pedaços de ingressos.
Montalvo conseguiu com a produção entradas para todas as sessões da última semana. Tirou férias do trabalho e tem ido ao teatro do número 1.634 da Broadway
desde segunda-feira, todo paramentado, com broches, camiseta,
boné e pulseiras. E quando acabar? "Não vou ficar catatônico,
mas minha vida vai ficar um pouco mais triste." Agora, só falta
"Miss Saigon".
(SÉRGIO DÁVILA)
Texto Anterior: Redescobrimento: Versão paulista da mostra acaba amanhã Próximo Texto: Livros/Lançamentos - "Passagens da Guerra Revolucionária": Che fracassa como Tarzan do Congo Índice
|