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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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DANÇA

Espetáculo reúne bailarinos de vários estilos, do flamenco de Yerbabuena aos movimentos contemporâneos de Parsons

Uma noite de Gala, uma noite de festa

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Grandes nomes da dança e da música, reunidos numa galeria de estilos: foi assim o espetáculo comemorativo de dez anos da Antares Produtora, sábado passado, no Teatro Municipal. Pela dança, vieram representantes do flamenco "clássico" (Eva Yerbabuena), do flamenco ligado à dança contemporânea (Yerbabuena e Patrick de Bana), da dança contemporânea propriamente dita (David Parsons) e da dança étnica (Cia. Étnica de Dança).
O norte-americano David Parsons abriu a noite, com uma improvisação: "Samsara". O nome vem do sânscrito; significa "ciclo de vida, morte e sofrimento". Seus movimentos aqui não tinham a amplitude costumeira desse bailarino de grandes vôos. Do repouso à suspensão, do suave ao dinâmico, Parsons moveu-se com gestos precisos e angulosos, só preparando a platéia para "Caught", que encerraria o programa, duas horas depois.
Inspirado na fotografia, esse outro solo, de 1982, é um dos maiores sucessos de Parsons. No palco escuro, com luz estroboscópica, ele cria a sensação de um corpo permanentemente no ar, suspenso por cordas invisíveis. Seja em saltos, seja em caminhadas ou vôos, seu corpo não pára nunca, como se não existisse gravidade. Dança leve, em todos sentidos; divertida, sem peso.
Num outro extremo, fica o ritmo secreto do flamenco de Yerbabuena, acompanhada de cinco músicos. Em "Del Puente", a gravidade e a fatalidade são acentuadas pelo ritmo dos pés.
Uma arte da tensão, onde a paixão é o grande tema, marcou o encontro de Yerbabuena e Patrick de Bana, na coreografia "Uña y Carne". Ele alto e com movimentos amplos, ela pequena e de gestos densos. A dança se desenrola em espiral, em busca de espaço para a demanda de sentimentos. A violência dos encontros não cancela certa porosidade na relação com o mundo: algo que produz ganhos de energia, não apenas limita e oprime. O encontro se dá pela suavidade também.
"Oferenda 13" consagra um intercâmbio inédito, entre a Cia. Étnica de Dança e Parsons. São adolescentes do morro do Andaraí que buscam a profissionalização através da arte de raízes negras. A oferenda, no caso, desdobra-se no espírito da noite, um espetáculo beneficente, para o Centro Israelita de Assistência ao Menor.
Para não falar só da dança: a música teve seu ponto alto com a presença de Antonio Meneses, solista no "Concerto nš 1", para violoncelo e orquestra, de Haydn (1732-1809), acompanhado pela Orquestra Petrobras Pró-Música, regida por Roberto Tibiriçá. O controle dos tempos e a eloquência da música vão soar por muito tempo na memória.


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