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DANÇA
Espetáculo reúne bailarinos de vários estilos, do flamenco de Yerbabuena aos movimentos contemporâneos de Parsons
Uma noite de Gala, uma noite de festa
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Grandes nomes da dança e
da música, reunidos numa
galeria de estilos: foi assim o espetáculo comemorativo de dez anos
da Antares Produtora, sábado
passado, no Teatro Municipal.
Pela dança, vieram representantes do flamenco "clássico" (Eva
Yerbabuena), do flamenco ligado
à dança contemporânea (Yerbabuena e Patrick de Bana), da dança contemporânea propriamente
dita (David Parsons) e da dança
étnica (Cia. Étnica de Dança).
O norte-americano David Parsons abriu a noite, com uma improvisação: "Samsara". O nome
vem do sânscrito; significa "ciclo
de vida, morte e sofrimento".
Seus movimentos aqui não tinham a amplitude costumeira
desse bailarino de grandes vôos.
Do repouso à suspensão, do suave
ao dinâmico, Parsons moveu-se
com gestos precisos e angulosos,
só preparando a platéia para
"Caught", que encerraria o programa, duas horas depois.
Inspirado na fotografia, esse outro solo, de 1982, é um dos maiores sucessos de Parsons. No palco
escuro, com luz estroboscópica,
ele cria a sensação de um corpo
permanentemente no ar, suspenso por cordas invisíveis. Seja em
saltos, seja em caminhadas ou
vôos, seu corpo não pára nunca,
como se não existisse gravidade.
Dança leve, em todos sentidos; divertida, sem peso.
Num outro extremo, fica o ritmo secreto do flamenco de Yerbabuena, acompanhada de cinco
músicos. Em "Del Puente", a gravidade e a fatalidade são acentuadas pelo ritmo dos pés.
Uma arte da tensão, onde a paixão é o grande tema, marcou o
encontro de Yerbabuena e Patrick
de Bana, na coreografia "Uña y
Carne". Ele alto e com movimentos amplos, ela pequena e de gestos densos. A dança se desenrola
em espiral, em busca de espaço
para a demanda de sentimentos.
A violência dos encontros não
cancela certa porosidade na relação com o mundo: algo que produz ganhos de energia, não apenas limita e oprime. O encontro se
dá pela suavidade também.
"Oferenda 13" consagra um intercâmbio inédito, entre a Cia. Étnica de Dança e Parsons. São adolescentes do morro do Andaraí
que buscam a profissionalização
através da arte de raízes negras. A
oferenda, no caso, desdobra-se no
espírito da noite, um espetáculo
beneficente, para o Centro Israelita de Assistência ao Menor.
Para não falar só da dança: a
música teve seu ponto alto com a
presença de Antonio Meneses, solista no "Concerto nš 1", para violoncelo e orquestra, de Haydn
(1732-1809), acompanhado pela
Orquestra Petrobras Pró-Música,
regida por Roberto Tibiriçá. O
controle dos tempos e a eloquência da música vão soar por muito
tempo na memória.
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